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Cruzeiro pode ficar mais de uma década sem levantar taças

Clube celeste conquistou vários títulos em sua história, mas passa pelo pior momento e precisará de muito esforço para reverter a situação


22/07/2020 04:00

Em 2018, o Cruzeiro comemorou o hexacampeonato da Copa do Brasil, tendo a taça levantada por Leo, Fábio e Henrique (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press %u2013 17/10/18)
Em 2018, o Cruzeiro comemorou o hexacampeonato da Copa do Brasil, tendo a taça levantada por Leo, Fábio e Henrique (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press %u2013 17/10/18)


Às vésperas de completar um século de existência, dia 2 de janeiro de 2021, o Cruzeiro vive a pior fase de sua linda história de taças, glórias e conquistas. O maior ganhador da Copa do Brasil, com seis troféus, agoniza na Série B, buscando alternativas para se reerguer, num ano atípico, em que a pandemia do novo coronavírus está destruindo economias, fechando comércios, desempregando gente mundo afora. O torcedor terá de amargar ver sua equipe na segundona, neste ano e no ano que vem, já que o Brasileirão vai invadir 2021, e só deverá terminar em fevereiro. Uma tristeza só. Será o único grande clube a cair num ano e não voltar no fim de dezembro.

É um ano realmente terrível este de 2020. Pior que ele, para os cruzeirenses, só mesmo 2019, quando o clube saiu das páginas esportivas, frequentando as páginas policiais. Enquanto isso, todos aguardam a decisão da Polícia Civil e do Ministério Público, de entregar a documentação comprobatória dos crimes cometidos por Wagner Pires Sá, Itair Machado e Sérgio Nonato (Capivara), para que sejam indiciados, condenados e que devolvam todo o produto do suposto roubo. O Cruzeiro virou terra arrasada, mas o novo presidente, Sérgio Rodrigues, começa a mudar essa história. Advogado brilhante e muito transparente, pôs pessoas-chave nos cargos, a maioria trabalhando movida pela paixão, sem ganhar um centavo do clube.

Acredito que a pandemia desse vírus maldito e mortal prejudicou ainda mais os clubes da Série B, já bem pobres, com poucas receitas e cota ínfima da TV. Por ser grande e respeitado, o Cruzeiro tem mais chances de montar um bom time e voltar ao seu lugar de origem. Eu acho que os únicos torcedores que podem gozar os cruzeirenses são os flamenguistas, são-paulinos e santistas, que jamais caíram para a Segundona. Os demais, nada podem dizer, pois já frequentaram aquela categoria, jogando as terças e sábados. Mas, é claro, toda gozação saudável é bem-vinda, dentro de um respeito e correção. Quando a coisa descamba para o campo da violência, aí não dá para aceitar. Um clube com seis Copas do Brasil, quatro Brasileiros e duas Libertadores, não é uma equipe qualquer, e sim uma das grandes equipes do futebol mundial.

Quem já teve Nelinho, Piazza, Dirceu Lopes, Natal, Evaldo, Joãozinho e outros gênios da bola, não pode e não deve ficar numa divisão que não lhe pertence. A elite é o seu lugar. Não consigo vislumbrar um Cruzeiro muito forte, mas, quem tem Fábio, o “Paredão Azul”, como gosto de chamá-lo, Marcelo Moreno e Leo, tem tudo. São jogadores do clube, e, acima de tudo, cruzeirenses de verdade. Moreno abriu mão de R$ 50 milhões em dois anos de contrato com os chineses para defender o Cruzeiro. Claro que pensou na família, pois o coronavírus surgiu na China. Por lá, a coisa está praticamente resolvida, ao passo que BH vive o pico da pandemia.

Leo é outro que tem a pele azul e luta pela bola como por um prato de comida. O experiente Henrique está de volta, e alguns jogadores foram contratados. Pela escalação que ouvi de um torcedor outro dia, acho que dá para o gasto. O técnico é de Série B e conhece os atalhos da competição. Vale lembrar que os jogadores citados recebem o teto salarial, determinado pelo clube, R$ 150 mil mensais, mas têm um crédito de milhões, pois a diferença salarial terá de ser paga um dia. Foi um acordo momentâneo, para viabilizar o clube.

A torcida terá um papel fundamental. E o fenômeno visto com as torcidas de Grêmio, Corinthians, Palmeiras, Vasco, Atlético e outros que já caíram, deverá se repetir. Estádios lotados, tão logo a pandemia do coronavírus seja controlada, e o torcedor ajudando o clube no grito, nos cânticos, nas mensagens. Será difícil, porém, ver o Cruzeiro enfrentar o Cuiabá, invés de encarar o Flamengo, por exemplo. Na Itália, exceto a Inter de Milão, todos os demais já estiveram na Segundona. É uma vergonha sob o ponto de vista da gozação. No mais, é apenas um momento ruim pelo qual os clubes passam. Tem que aprender a conviver e superar.

Vale lembrar, que, mesmo voltando à elite, o Cruzeiro ficará muitos anos sem levantar uma taça. O estrago feito foi gigantesco. A não ser que um chinês apareça, compre o clube, o transforme em empresa e invista pesado para montar um grande time, com salários em dia e tudo o mais. É a única chance de o clube sair dessa situação a curto prazo. Sérgio Rodrigues terá muito trabalho nos próximos meses, e, provavelmente, nos três anos que virão, pois deverá ser eleito por aclamação para o segundo mandato. Só resta aos cruzeirenses entender a situação, apoiar e esquecer a comemoração de taças. A sala de troféus está abarrotada. Precisa de um tempo para achar espaços para outros troféus, que só virão com anos de trabalho. Não adianta iludir o torcedor: sem dinheiro e com o clube endividado dessa maneira, não há como pensar em taças. É sobreviver, cada dia, em busca de uma redenção que pode durar até 15 anos.

LIVE

Recebo hoje, às 18h, no meu instagram @jaecicarvalhooficial, o presidente do Cruzeiro, Sérgio Santos Rodrigues, @sergio.santosrodrigues. Vamos bater um papo sobre a situação do Cruzeiro, a expectativa de volta à elite do nosso futebol, e sobre a possibilidade de o clube por na cadeia os envolvidos no escândalo que arrombou os cofres do clube, e a devolução do dinheiro, supostamente roubado. Imperdível. Nesta quarta, às 18h.


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