O Campeonato Mineiro recomeça para fechar as duas rodadas da fase de classificação faltantes, desde a parada por causa da terrível pandemia do coronavírus. Uma competição fraca do ponto de vista técnico e financeiro, assim como todos os estaduais do país. Infelizmente, há uma insistência nesse tipo de competição, que preenche cinco meses do ano sem nada acrescentar aos grandes times.
Se o América ou um clube do interior fatura a taça, tem um peso diferente de Galo e Raposa, os maiores ganhadores disparados. Os torcedores já nem comemoram títulos estaduais. É sabido que Copa do Brasil, Brasileiro, Libertadores e Mundial de Clubes são as competições que interessam. Nem mesmo a desprestigiada Copa Sul-Americana é vista com bons olhos.
Há tempos sou a favor do fim dos estaduais, porém, se não querem acabar com eles, que o reduzam. Antigamente, os clubes do interior revelavam jogadores importantes. Hoje, não revelam ninguém, têm times de aluguel, que se dissolvem tão logo o Mineiro termina. Uma pena.
A falta de patrocínio e estrutura são dois grandes problemas. Eles vivem de encarar a dupla da capital, Raposa-Galo, para faturar algum dinheiro. O mundo mudou, se modernizou e o futebol tem que acompanhar essa evolução.
Não dá mais para o Atlético investir R$ 100 milhões em contratações e jogar Mineiro, sob o risco de perder um atleta importante para disputar uma taça que não tem mais apelo. Entretanto, neste momento em que perdemos mais de 80 mil vidas para a COVID-19, é preciso ressaltar que tem muita gente com saudades do futebol.
Infelizmente, a vida não pode parar. Sempre acredito que se deva privilegiar a vida de cada pessoa. Tem gente que não liga, pois não aconteceu com alguém de sua família. Eu preferia que o futebol só voltasse depois que tivéssemos uma vacina eficaz. Isso significa dizer que somente no ano que vem, se tudo der certo – e tenho fé que dará.
Os dirigentes gritaram que não há mais como os clubes ficarem parados, pois sem receitas de bilheteria e até de patrocínios estão na bancarrota. Isso é mentira! Eles vivem na bancarrota há tempos por gestões incompetentes, contratações esdrúxulas e outros desmandos. É mais fácil pôr a culpa na pandemia.
Neste momento ainda enfrentamos uma situação pior: jogos sem torcida. Não há como liberar o torcedor, pois seria trágico, com o aumento de casos e mortes pelo coronavírus. É muito ruim ver um estádio vazio, sem a emoção do torcedor do bem. Não nego que estou morrendo de saudades do esporte bretão. Amo o futebol. Mas tenho racionalidade e não há como comemorar um título nessas circunstâncias.
Como a vida ficou banalizada no Brasil, com mais de 50 mil mortos por arma de fogo ou arma branca a cada ano, as pessoas se acostumaram com esse triste número. Vivemos uma guerra civil há tempos, onde se mata por tudo e por nada. Os políticos, em sua maioria, são uma tragédia.
O futebol não pode ser um mundo à parte. Só é um mundo da fantasia no pagamento de salários a técnicos e jogadores, no esquema de “rachadinhas” entre diretores de futebol e empresários, enfim, nas falcatruas que a gente vê há anos. Já houve caso de dirigente que levou a renda do jogo para casa e disse que foi assaltado no caminho. E ficou o dito pelo não dito.
Enfim, o futebol em Minas Gerais recomeça hoje. Estarei ligado na TV Globo, no meu amigo Rogério Corrêa, um dos profissionais mais competentes que conheço. Atlético e América farão o clássico, no Horto. A torcida alvinegra, ávida por conhecer o novo time do Galo, comandado por Sampaoli.
Tem atleticano apostando que sua equipe sairá da fila de 50 anos sem sentir o cheiro do troféu do Brasileirão. Por enquanto é o Mineiro, competição fraca. Mas, se é isso o que temos, vamos ao jogo.
Pelo menos, uma garantia: não haverá violência, já que os bandidos travestidos de torcedores não foram convidados para a retomada do futebol. Nem eles, nem os torcedores de bem. Por enquanto, o coronavírus maldito está ganhando a batalha, mas a guerra é a humanidade que vai vencer.
Que venha logo a vacina, para que tenhamos saúde e segurança, com a vida bem perto do normal. Não aquele normal no qual vivíamos, com gente se achando acima do bem e do mal só porque tem dinheiro. Mal sabem eles que vão morrer e vão ser enterrados sem sequer ter o direito de escolher a roupa com a qual vão para o caixão. Mais amor e menos rancor, ódio e intolerância. Vamos valorizar o que realmente tem valor: a vida!