Jornal Estado de Minas

COLUNA DO JAECI

Em domingo de futebol ou de perguntar 'Que país é esse?'

Conteúdo para Assinantes

Continue lendo o conteúdo para assinantes do Estado de Minas Digital no seu computador e smartphone.

Estado de Minas Digital

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Experimente 15 dias grátis



O Campeonato Brasileiro é dos mais fracos dos últimos tempos. Jogos sofríveis, times horríveis, nenhuma equipe referência. A pontuação do líder, faltando oito rodadas, mostra isso: 56 pontos. Em 2019, quando foi campeão, o Flamengo bateu 90 pontos. Neste ano, o campeão de 2020 não deverá passar de 74 pontos – se chegar lá. Como escrevi outro dia, parece que ninguém quer o caneco. O Flamengo entregou ao São Paulo, que entregou ao Galo, que entregou ao Grêmio, que entregou ao Palmeiras, que entregou ao Internacional. Parece que o troféu queima nas mãos ou nos pés dos jogadores, que não o querem de jeito nenhum. Galo e Internacional estão na fila desde a década de 1970, sendo que o Atlético foi o primeiro campeão, em 1971, e o Inter, tricampeão em 1975-76 e 1979, o único campeão invicto da competição. O Grêmio está na fila desde 1996, naquela final contra a Portuguesa – eu cobri esse jogo no antigo Estádio Olímpico. O São Paulo não ganha desde 2008, quando foi tricampeão. Vejam que Atlético, Inter e Grêmio precisam ser campeões, mais que os outros. O Galo vai completar neste ano meio século sem pegar no principal troféu nacional. O Inter, há 42 anos. O Grêmio, há 24. Times desse tamanho e dessa grandeza não podem ficar tanto tempo na seca. Como não acredito no meu Flamengo, vou torcer para o Galo. Mas Sampaoli inventa tanto, que não acredito no trabalho dele.





Hoje, no Mineirão, terá mais uma chance de provar que está na briga, enfrentando o Atlético-GO. Com 36 pontos, o time goiano, que já goleou o Flamengo, está na briga para fugir logo de uma possível queda. O Galo o venceu no turno por 4 a 3, jogo em que Keno se revelou e começou a marcar gols e a jogar bem. Keno, 30 anos, considerado por alguns a melhor contratação do Atlético. Vejam como os valores no futebol estão invertidos. Quando um time contrata um jogador de 30 anos, que nunca foi titular em lugar nenhum, como esperança de taças, é porque há algo muito errado. E olha que o Galo de Sampaoli só tem a jogada pela esquerda, com Keno, que, bem marcado, não consegue absolutamente nada. Os times já perceberam isso e põem um homem na sobra na marcação e Keno fica inerte.

Mas se o Galo ainda quiser pensar em título, tem de vencer, pois, com um jogo a menos que o São Paulo, pode chegar aos 53 pontos, diminuindo a diferença para três. E vale lembrar que o jogo atrasado do Galo é com o Santos, que está mais preocupado com a decisão da Libertadores e se lixando para o Brasileirão. O Santos, de Cuca, que deu a única Libertadores ao Galo, que tem um time de garotos muito bem comandado por ele. É o que eu digo: Sampaoli esteve lá e ficou com o vice brasileiro, com 16 pontos a menos que o Flamengo. Foi mandado embora pela porta dos fundos, pois queria mandar mais que o presidente. No Galo, ganha R$ 1,6 milhão e o time ocupa a terceira colocação. Cuca deve ganhar uns R$ 450 mil, mas, com um time jovem e muito bem treinado, chegou à final da Libertadores. Isso, sim, é um trabalho para aplaudirmos. No fim do Brasileirão, o Galo vai fazer as contas e perceber, caso não seja campeão, que gastou R$ 19,2 milhões só com a comissão técnica para chegar a uma vaga da Libertadores de 2021. É muito pouco para um salário tão alto num país quebrado economicamente, não? Vejam como os valores no futebol são fora da realidade do país e do mundo. Um infectologista, um cientista que descobre cura para doenças não ganha nem R$ 20 mil mensais. Os jogadores e técnicos dirão que eles “não enchem um estádio”. É verdade. Eles enchem o mundo de orgulho com suas descobertas para salvar vidas. Isso, pra mim, não tem preço.

Como o Brasil é um país da mentira, do faz de conta, o povo aceita tudo. Será que o cidadão de bem não percebeu que presidente, governador, prefeito, deputado, senador e vereador são todos empregados do povo? Vamos parar de tratar esses caras como celebridades. Eles têm seguranças, carros blindados e todo o aparato. O povo, que paga impostos, vive à mercê de assaltantes, de criminosos, de assassinos, pois a segurança pública no Brasil é uma tragédia. Mas, enquanto houver o pão e o circo, o povo aceitará esse país. O que ocorreu em Manaus nesta semana é desumano. Gente morrendo por falta de ar, de balão de oxigênio. “Que país é esse?”, perguntou Renato Russo, líder da banda Legião Urbana, nos fins da década de 1980. A resposta está aí ao longo dos anos. País da corrupção, de falcatrua, da indecência, da imoralidade, com um governo federal negacionista, que trata a pandemia do coronavírus como uma “gripezinha”. “Gripezinha” que já matou mais de 200 mil brasileiros, mais de 2 milhões de pessoas no mundo. Esse é o Brasil, país do faz de conta, onde um bêbado ao volante mata pessoas, vai para a delegacia e é solto tão logo chega seu advogado. É realmente um país da mentira e da falta de respeito com os cidadãos de bem.





E, para fechar, nesta semana aqui nos Estados Unidos uma garçonete brasileira percebeu que uma criança, com seu padrasto e irmãos, estava com roxos pelo pescoço. E que no restaurante o padrasto não a deixava comer. Conseguiu uma forma de se comunicar com o garoto sem que o padrasto percebesse. Perguntou se ele precisava de ajuda e ele disse que sim. A garçonete chamou a polícia. O padrasto e a mãe abusavam do garoto e de uma de suas irmãs. Resultado: foram presos, perderam a guarda das crianças, e o que mais me deixa feliz é a pena que eles deverão pegar. O padrasto, prisão perpétua. A mãe, no mínimo 30 anos. País de verdade é assim. A lei é igual para todos e funciona sem exceção.

Voltando ao futebol, para um clube se registrar aqui na MLS (Liga de Futebol Profissional) tem de provar ter recursos para pagar salários em dia, tem de cumprir o orçamento e seguir as regras. No Brasil, os dirigentes, amadores, que se acham donos dos clubes, gastam o que não têm, contratam ex-jogadores em atividade pagando salários de Europa, numa economia quebrada como a nossa. Viram que o futebol só é um mundo à parte na questão salarial? No mais, está inserido numa sociedade de um país doente, sem perspectiva, que maltrata seus cidadãos. Aí, 30 anos depois do saudoso, Renato Russo, eu pergunto: “que país é esse”? 

audima