Há muito o torcedor brasileiro dá de ombros para a Seleção Brasileira, maior patrimônio esportivo do povo. A desilusão maior começou no dia 8 de julho de 2014, quando levamos 7 a 1 no lombo, na semifinal da Copa que sediamos. Os alemães foram até piedosos, pois há relatos de que respeitaram a camisa canarinho e tiraram o pé. Poderiam ter metido 12. Fui crítico daquela Seleção por muito tempo e os torcedores me apedrejavam. Lembro-me de um jantar que fiz em casa, na véspera da partida, com a presença de Ronaldo Fenômeno, Edmundo e outras personalidades. Nosso presidente dos Diários Associados, doutor Álvaro, e nosso diretor executivo, Zeca Teixeira da Costa, estavam lá. Peguei o microfone para agradecer pela presença de todos e disse que o Brasil levaria uma goleada. Claro que imaginei um 3 a 0, jamais 7 a 1. Era visível que aquilo ocorreria. O time brasileiro era mal treinado, um bando em campo e tinha dificuldades contra equipes de qualidade duvidosa.
Agora, estamos disputando a Copa América, imposta ao povo goela abaixo, num período em que passamos das 500 mil mortes pelo coronavírus. Percebo um desprezo total por parte da torcida, preocupada com os parentes mortos, os amigos que se foram, levados por essa maldita doença. Uma Seleção que não empolga nem os mais apaixonados “Pachecos”.
Nunca neguei minha paixão pela Seleção Brasileira. Em 1970, com 10 anos, acompanhei os seis jogos daquele time mágico com Pelé, Gérson, Rivellino e Jairzinho. Eu morava em São Cristóvão, subúrbio do Rio, e como só lá em casa havia uma TV em preto e branco, a rua inteira ia para a minha casa ver os jogos. Brasil tricampeão e aquele carnaval, seguro e sem violência. Os tempos mudaram, e para pior. Mas tive o privilégio de começar a cobrir a Seleção Brasileira na Toca da Raposa, em 1986. Aquele timaço tinha Zico, Reinaldo, Cerezo, Éder, Júnior e cia. Eu começava minha carreira na TV Globo e estava ao lado dos meus ídolos. Os caras eram de outro “planeta”. Nos tratavam como amigos, davam entrevistas sentados nas escadarias da Toca, não discriminavam ninguém. Um dia, me vi sentado entre Zico e o doutor Sócrates, batendo papo com eles. Era um sonho. O respeito era mútuo e hoje sou amigo de vários deles. Falcão, Zico, Júnior, Cerezo, Reinaldo, Éder, Luisinho e tantos outros craques.
Também convivi e sou amigo de Romário, Taffarel, Leonardo, Aldair, Ronaldo Fenômeno, Ronaldinho, Roberto Carlos, que fizeram parte da última grande geração, vencedora, tetra e pentacampeã do mundo. Em 35 anos, rodando esse mundo de Deus, passando frio, calor, fome, sede, como muito bem disse meu amigo Tino Marcos, em mensagem no meu aniversário, formávamos uma família, pois éramos sempre os mesmos repórteres, confesso que nunca vi o povo tão distante do time canarinho. A maioria não gosta de Neymar, nosso único craque. Um cara que só se importa com seu umbigo, que não se posiciona, que promove festas em período de pandemia, sem se importar com a dor dos outros. Dentro de campo, muita firula e pouca objetividade. Jogar bola ele joga demais, porém, não é ídolo de nada. Não nos representa, ao contrário de Cristiano Ronaldo e Messi.
Essa geração que aí está não nos representa em nada. A safra é a pior da história. Pela primeira vez, nesses 35 anos cobrindo a Seleção, não tive interesse em assistir a nenhum jogo. Primeiro, porque meu público não está nem aí para a Seleção. Segundo, porque não há atrativo. Uma cata-cata de jogadores ruins, sem comprometimento com a camisa amarela. Estou ligado na Eurocopa. Cada vez mais impressionado com a distância abissal que separa o futebol europeu do Sul-Americano.
Infelizmente, a verdade tem de ser dita. Ainda somos os únicos pentacampeões do mundo, graças às gerações que citei acima. Até quando, somente Alemanha e Itália poderão dizer, afinal, são as únicas tetracampeãs mundiais na nossa cola!