Cobri cinco Olimpíadas: 1996, Atlanta; 2000, Sidney; 2008, Pequim; 2012, Londres, e 2016, Rio de Janeiro. Cubro apenas o futebol, que é um mundo à parte nos Jogos Olímpicos. Os jogadores não ficam hospedados na Vila Olímpica e, normalmente, jogam longe da cidade-sede.
Na Olimpíada de Atlanta, por exemplo, jogous em Miami e somente o jogo contra Portugal foi em Reynolds Plantation, a 150 quilômetros de Atlanta. Em Londres, também jogou em outras cidades inglesas como Manchester e Newcastle.
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Muitos apontam o Galo como 'favoritaço', mas eu discordo Será que a dupla argentina vai repetir a boa atuação daqui pra frente?Cruzeiro usa a cabeça, faz três gols, mas só empata com GuaraniOutro detalhe importante, além dos testes diários, mais de uma vez, é que não teremos contato com ninguém das delegações. Portanto, será uma cobertura estranha. Estamos avaliando, junto com a direção, se valerá a pena. Minha credencial chegou e fiquei muito feliz.
Em Atenas não cobri a Olimpíada, em 2004, justamente pelo fato de o futebol brasileiro não ter se classificado. Para dizer a verdade, o futebol é o “patinho feio” dos Jogos Olímpicos. A Fifa e o COI nunca se entenderam, haja vista que os clubes não são obrigados a liberar seus jogadores.
Agora mesmo o Flamengo se recusou a ceder Pedro, e o Olimpique de Marselha não cederá Gérson. Sinceramente, acho que o futebol deveria ser banido dos Jogos, ou então ter equipes apenas Sub-17, por exemplo, com os jogadores se concentrando na Vila Olímpica com os demais atletas.
Esse negócio de uma seleção poder usar três jogadores com idade acima de 23 anos é uma piada. Para os acima de 23 anos temos a Copa do Mundo. Acredito que em breve o COI vai tomar a posição de excluir o futebol dos Jogos Olímpicos.
Conversei com meu amigo e espetacular repórter Pedro Bassan, que foi meu companheiro na TV Globo. Ele já está em Tóquio e me falou sobre o protocolo adotado pelo país. Sabemos que não haverá presença de torcedores de outros países.
Será uma Olimpíada “gélida e fria”. Imaginem a prova dos 100 metros rasos, a mais charmosa e importante do atletismo, sem aquela multidão nas arquibancadas para ver o homem mais veloz do mundo, que, normalmente, faz o percurso em menos de 10 segundos. Poderá haver público japonês, mas tudo de forma reduzida.
Os atletas também não chegarão no ápice, já que com a pandemia os treinamentos foram prejudicados. O certo mesmo seria adiar os Jogos Olímpicos para 2024, mantendo no Japão e empurrando Paris e Los Angeles para 2028 e 2032, respectivamente. Porém, há acordos comerciais e a gente sabe o quanto isso pesa.
Também acho que o interesse do público será bem pequeno. Vivemos uma guerra contra um vírus maldito, que ainda não foi completamente dominado. O mundo quebrou, economicamente, e os países tentam se recuperar, voltando gradativamente à vida normal. Ainda há muito a ser feito.
O horário também não ajudará muito, pois quando é dia em parte do mundo, no Japão é noite e madrugada. Estive no Japão oito vezes. É um país fantástico, de gente educada, de cultura milenar e ímpar.
Adoro Tóquio, cidade fantástica. Adoro Ibaraki, onde fica a sede do Kashima Antlers, time dirigido por Zico, ídolo naquela país. Em 2001, na Copa das Confederações, estava com minha mulher, Alexia. Compramos uma melancia e esquecemos lá no mercado. Voltamos uns dias depois, e a moça nos puxou, oferecendo a melancia. Não queríamos, mas ele se fez entender, dizendo que a fruta ficou no mesmo lugar em que deixamos e ninguém a levou.
Isso é só um exemplo da honestidade dos japoneses e da educação. Ninguém pega o que não lhe pertence. As novidades tecnológicas, aquela esquina em Shibuia, onde milhares de pessoas atravessam ao mesmo tempo e não há nenhum conflito... Guinza também é muito legal.
No metrô, vemos japoneses em pé, dormindo, bem equilibrados, numa concentração excepcional. Eles não perdem a estação onde vão descer.
Um país poderoso, que foi arrasado e deu a volta por cima. Os bombardeios em Nagasaki e Hiroshima, em agosto de 1945, durante a Segunda Guerra Mundial, jamais serão esquecidos. Um povo sofrido, trabalhador, honesto e culto.
Os japoneses sobreviveram a tufões, furacões e outros danos causados pela natureza. O acidente nuclear em Fukushima, em 11 de março de 2011, justamente dia do meu aniversário. Os japoneses sabem se reinventar como ninguém.
Na terra do sol nascente vivi momentos mágicos na minha carreira, o melhor deles, na Copa de 2002, quando o Brasil venceu a Alemanha na final, por 2 a 0, em Yokohama, com dois gols de Ronaldo Fenômeno. Foi a última grande seleção que tivemos.
Será uma honra voltar ao Japão e viver um mês aprendendo naquele país maravilhoso. Se eu for, claro, vocês vão me acompanhar no Grande Jornal dos Mineiros, o Estado de Minas, no meu Blog no Superesportes, no meu Canal de Youtube e na Rádio Tupi do Rio de Janeiro.
O Brasil vai em busca do segundo ouro olímpico, já que o primeiro, único título que faltava ao nosso futebol, ganhamos em 2016, no Rio de Janeiro. Que seja um grande espetáculo e que os japoneses possam se orgulhar de sediar a Olimpíada 2020, adiada para este ano por causa da pandemia. Então, ao Japão, “arigato gozaimasu” (muito obrigado).