Rejeitado pela torcida, execrado nas redes sociais, o técnico Cuca pensou em desistir de assumir o Galo. Amigo que somos, conversamos muito naquela época, e eu disse a ele que seria importante para sua carreira voltar ao clube e que ele teria sucesso, pois é um grande treinador, e vencedor. Não deu outra. Herdou um time mediano, deixado por Sampaoli, recuperou vários jogadores, entre eles o goleiro Everson, que até preconceito racial sofreu nas redes odiosas, Vargas, Zaracho e o próprio Hulk, que começou muito mal, deu a volta por cima e hoje é ídolo da torcida. Sem se iludir, Cuca sabe que se não conquistar as taças, será questionado. Eu, porém, valorizo o trabalho, e o de Cuca já é vencedor, por tudo o que tem mostrado até aqui. Nessa entrevista, ele fala do passado, do momento e da expectativa de taças.
Você chegou rejeitado, pensou em não assumir, mas foi guerreiro, pegou o touro pelo chifre e mostrou sua competência e qualidade. Como se sente agora?
Cuca: Eu me sinto bem, fazendo meu trabalho, rezando a Deus que possa se prolongar a boa fase. Me sinto muito bem, com um grupo qualificado, fazendo grandes jogos. Trabalhamos para dar alegria ao torcedor.
Você recuperou vários jogadores execrados pela torcida. Everson, Zaracho, Vargas, Hulk, sendo, inclusive, questionado por Hulk, publicamente. Qual foi o segredo para recuperar esses atletas?
Cuca: Não tem segredo. Eu trabalho, tento ser exemplo para eles, ser correto, sincero, uma linha de conduta, ética. Evolução nos treinamentos e aceitação do sistema utilizado. Tudo isso requer tempo para se encaixar. Os jogadores se encaixarem a você e você a eles. É mais difícil porque não formei esse grupo. Herdei. Mas, você vai conhecendo a característica de cada um, e montando a equipe da melhor forma. Hoje tenho um grupo, onde todos são importantes para o sucesso do time.
O futebol brasileiro é ingrato. Ninguém valoriza campanha, trabalho. Você é vencedor e está no futebol há décadas. Ainda se ilude com o torcedor ou está tarimbado e calejado?
Cuca: Eu sei que as quartas-feiras confirmam os domingos e vice-versa. Tem que provar a cada jogo. Torcedor é passional. Você só é valorizado pelos bons resultados. Se não ganhar, nada tem valor. No Brasil não se valoriza bons trabalhos e boas campanhas. Precisamos mudar essa cultura, mas ainda demanda tempo. É preciso reconhecer os grandes trabalhos e saber que do outro lado, o adversário também tem seus objetivos. Só um pode ser campeão, mas não se pode desmerecer o trabalho de quem não levantou a taça. Todos têm seu valor pelo trabalho realizado.
Todos nós da imprensa achávamos difícil o Galo passar por Boca e Ríver. Contra o Boca o time não foi bem, mas passou, e o VAR foi decisivo. Contra o Ríver, fez um belo segundo tempo na Argentina, e deu um show, no Mineirão. Agora tem o Palmeiras pela frente. Jogo duro. Neste momento eu acho que as equipes se equivalem. O que você acha?
Cuca: Passar por Boca e Ríver e ser o primeiro no geral é muito difícil. Isso tem que ser valorizado. Tomamos 3 gols em 9 jogos. O time está sólido. Mas a gente tem que continuar assim. Os jogos contra o Palmeiras serão muito iguais, pois as duas equipes se equivalem. Do grupo com o qual fui campeão no Palmeiras, não tem quase ninguém, mudou muito. Mudou muito. Joguei contra o Palmeiras outras tantas vezes, dirigindo o Santos, São Paulo, Galo. Cada jogo é uma história. Acho que esse mata-mata das semifinais será decidido nos detalhes. Minha equipe está evoluindo e vai chegar muito bem preparada, isso eu garanto.
Como você lida com os odiosos das redes sociais?
Cuca: Eu não tenho rede social. Não tenho Instagram, facebook, nada. Só uso o telefone para falar com os poucos e grandes amigos, como você. Não me preocupo com redes sociais. Sou religioso e muito família. Isso para mim é o bastante.
O Galo é líder do Brasileiro, está na semifinal da Libertadores e nas quartas-de-final da Copa do Brasil. Dá para ganhar os 3 títulos, ou você garante pelo menos um?
Cuca: Não garanto nenhum título. Vou tentar o máximo a cada jogo. As chances vão aparecendo. Não penso em uma competição. Penso em todas e trabalho para ganhar todas. O Flamengo é tão bom quanto o Galo, quanto o Palmeiras, São Paulo, Internacional, Bragantino, Fluminense. Temos que valorizar todas as grandes equipes, cada uma dentro de sua filosofia de trabalho. Não vejo uma equipe melhor que a outra.
Que nota você daria hoje para seu grupo. Eu considero um grupo mediano, e tomo porrada todo dia por essa opinião. Sinceramente, qual a nota você daria hoje?
Cuca: É muito difícil dar uma nota coletiva. No geral eu dou nota 10, abrangendo tudo. Não há dúvida de que nosso grupo evoluiu, ficou consistente e forte. Estamos evoluindo a cada treinamento, a cada jogo. E isso dá confiança tanto pra mim, quanto para os jogadores e torcedores. O trabalho está muito legal.
Hoje você tem Hulk e Nacho, diferenciados, sendo que Nacho é craque. Chegou agora o Diego Costa. 30 jogos na temporada passada e apenas 5 gols. Há 8 meses sem jogar. Porém, é claro que você espera contar com ele na semifinal da Libertadores, Copa do Brasil e Brasileiro. Como fazer ele e Hulk, que estão na mesma função, jogarem juntos?
Cuca: Não me incomodo com isso. Não é Hulk, Diego e Nacho. O Galo é um coletivo, os que entram dão conta do recado. Temos um grupo forte e homogêneo. A carga se encaixa durante a viagem. Nosso futebol é de primeira linha.
Houve uma aglomeração irresponsável entre os torcedores, no Mineirão. Você ficou preocupado com a possível expansão do coronavírus.
Cuca: Fiquei e fico preocupado. Deus queira que não tenha havido transmissão dessa variante Delta no jogo de ontem. Não era para estarem sem máscara. O momento na Europa é mais avançado. Lá a gente vê o torcedor sem máscara, porque no Velho Mundo estão em estágio mais avançado que aqui. Felizmente temos uma grande parte da população brasileira vacinada, e, isso ajuda a não contaminação. Espero mesmo que haja mais responsabilidade e que os torcedores entendam que não pode haver aglomeração, principalmente, sem máscara.
Que recado você mandaria para a torcida do Galo?
Cuca: Não tenho recado. Podem ter certeza de que estamos fazendo o máximo para conquistar títulos para eles, para que m estejam felizes. O torcedor feliz é a nossa felicidade. Minha mãe, que se recuperou de Covid e foi um milagre, está aqui comigo, e foi ao jogo com minha família, ontem. Estou muito feliz por esse momento no Galo e vamos trabalhar para coroar com títulos. O torcedor pode ter certeza de que empenho não vai faltar. Trabalhamos pensando nele, na sua alegria. Vamos em busca das taças.