Jornal Estado de Minas

Coluna do Jaeci

Salários absurdos levam clubes a dívidas astronômicas

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Os empresários de Dedé entraram com uma ação monitória para receber R$ 330 milhões do Cruzeiro, referente ao zagueiro do Dedé. A monitória é diferente da execução, entretanto, ao final do processo, se o juiz observar que todos os elementos da monitória e da dívida subsistem, pode sim dar problema para o Cruzeiro. Segundo um advogado que consultei, e que prefere não ter seu nome citado, quem ajuíza a ação, no caso os empresários, se houver improcedência, terá que arcar com as custas do processo. Se os empresários tivessem entrado com um processo de execução e não fossem bem-sucedidos, teriam que pagar a outra parte 10% da ação, ou seja, R$ 33 milhões. Por isso, optaram pela monitória.



A verdade é uma só: os clubes brasileiros vivem fazendo bobagens, contratando jogadores sem ter dinheiro, e uma hora a conta chega. Não é o caso de Dedé, pois ele negociou com o Cruzeiro uma dívida de mais de R$ 30 milhões, e a reduziu para a metade, e começará a receber a partir de janeiro de 2022, em dezenas de parcelas. Acordo é acordo e está homologado. Não posso aqui fazer juízo de valor, mesmo porque sou leigo em direito. Não posso dizer se os empresários do jogador têm ou não direito a tal cobrança. Isso caberá a Justiça.

Vejam o exemplo de Daniel Alves, no São Paulo. Segundo consta, o São Paulo lhe deve mais de 10 salários –, ele ganha R$ 1,5 milhão por mês, o que implica dizer que a dívida hoje seria de R$ 15 milhões. Isso por causa da irresponsabilidade de quem o contratou. E agora a diretoria reclama que ele não está jogando bem. Ora bolas, o contrato dele não diz que só recebe salário se jogar bem. O clube assinou esse contrato com os valores absurdos, agora, que arque com os custos. Salário é sagrado e tem que ser pago em dia. O erro foi apostar em um ex-jogador em atividade, que aos 38 anos, não tem mais futebol para jogar em time grande. Só mesmo a Seleção de Tite ainda o quer.

Como consequência, a nova diretoria do São Paulo está com essa monstruosa dívida em mãos, e ela só vai aumentar. Essa irresponsabilidade dos dirigentes está matando o nosso futebol. Quando vejo no Flamengo, no Atlético, no Fluminense, Corinthians e por aí afora, jogadores ganhando salários acima de R$ 1 milhão, fico a pensar o quanto os dirigentes são irresponsáveis. Eles contratam sem ter dinheiro, para agradar ao torcedor. Mas a conta chega e ela é dolorosa.



Lembro-me quando um jogador no Flamengo, nos tempos de crise do time rubro-negro, ficou 4 meses sem receber salários. Cobrado pela diretoria pelo mau rendimento em campo, disse: “vocês fingem que pago e eu finjo que jogo”. Essa é a realidade. Jogadores contratados a peso de ouro, repatriados da Europa, que chegam no Brasil, ganhando salários do Velho Mundo. A conta não fecha, gente! Os dirigentes precisam ter responsabilidade fiscal, ir para a cadeia quando ficar comprovada administração temerária. Chega de amadorismo. Ninguém fica 24 horas por dia, trabalhando para um clube de futebol, de graça, por amor. Isso é mentira! É Balela!

O Clube-empresa chegou para moralizar o nosso futebol. Para que um clube trabalhe em cima de um orçamento e não cometa essas loucuras. CEOs deverão ser contratados e vão gerir os clubes com mão de ferro. Não dá mais para ficarem empurrando a sujeira para debaixo do tapete. E os torcedores devem ficar de olho nos dirigentes que não quiserem transformar seus clubes em empresas. Com certeza, alguma vantagem, vão querer tirar.

O Corinthians, que todos dizem estar quebrado, acaba de contratar Willian, do Arsenal, e Renato Augusto, vindo da China. Esses caras ganhavam fortunas por lá e não devem ter assinado contrato por menos de R$ 1 milhão mensais. Isso é uma loucura. Ex-jogadores em atividade, que vão jogar bem no Brasil, pois nosso futebol está na lama. Aí eu pergunto: como um clube que os analistas financeiros apontam como quebrado, vai bancar tais salários? Com certeza teremos atrasos salariais e muitas reclamações. Mas, para os dirigentes amadores, é preciso dar satisfação a torcida.

Quando o Fluminense contratou Ganso, eu falei no meu comentário na Rádio Tupi do Rio de Janeiro, a maior audiência do rádio esportivo, que seria um prejuízo imenso para o Flu. Ele ganha R$ 1 milhão mensais, quase não joga, e não deu nenhum título ao clube. Viram como não funcionam essas loucuras? É preciso criar um dispositivo no nosso futebol, que impeça o pagamento de tais salários. Os clubes devem ser regidos pela economia do país.

É uma vergonha saber que um cientista, um médico, um professor, um policial são pessimamente remunerados. Gente, eles salvam vidas, descobrem curas, nos educam, nos protegem. Os valores na sociedade brasileira estão mesmo invertidos. E não me venham dizer que a carreira de um jogador é curta. Como que eles ganham, hoje, em 2 anos de contrato estão milionários e não precisam trabalhar nunca mais. Quanto aos profissionais citados, vão trabalhar a vida toda e não ficarão ricos. É o que sempre digo: “no Brasil, o poste mija no cachorro”.