O Atlético já é bicampeão brasileiro. Esperou 50 anos para comemorar a taça, só não sabe ainda em que rodada. É o clube que mais deve no país, algo em torno de R$ 1,3 bilhão, mas o torcedor não está nem aí para isso. Ele quer comemorar uma conquista tão sonhada, esperada, principalmente por quem nasceu depois de 1970. Para o gigante que é, tem poucas taças: quatro, contando com o Brasileirão deste ano, que eu já dou como ganho, mas a maioria dos atleticanos está comemorando com ódio, principalmente de Corinthians e Flamengo, papa-títulos no país, assim como Cruzeiro, Grêmio, Internacional, Palmeiras, Santos e São Paulo. Uma hora uma equipe que se estrutura e monta um bom time acaba ganhando mesmo, porém, na hora da vitória, esqueçam o ódio e comemorem com os seus.
Saber perder e saber vencer é para poucos. Ficar remoendo o passado não é uma coisa boa para a saúde. Esse veneno e a revolta destilados por alguns acabam estragando um grande momento. A arrogância também é grande. Parece que o Atlético é o maior ganhador de taças do país, porque vai conquistar o primeiro bicampeonato de uma competição nacional, com possibilidade de comemorar também o da Copa do Brasil. O momento é do Galo sim, o time mais regular do país, com um técnico extraordinário, que transformou jogadores medianos em bons jogadores.
O Palmeiras tem 10 Brasileiros; Flamengo, oito; Corinthians, sete; São Paulo, Vasco e Cruzeiro, quatro, e por aí afora. Ninguém fica no topo muito tempo. O Barcelona, cinco vezes campeão da Champions League, vive a pior fase de sua linda história, e outro dia tomou de 8 a 2 do Bayern de Munique. Nem por isso deixa de ser gigante ou de ter orgulho das taças que conquistou. Não vejo seus dirigentes acusando o Real Madrid de ter ganhos títulos “roubados” ou coisa parecida. São pessoas preparadas para o esporte, que se sentam lado a lado nos jogos e que se cumprimentam com derrota ou vitória. No Brasil, não. Os presidentes se xingam, se agridem, pois a maioria não tem preparo para o cargo. São indicados por amigos ou por conselheiros, de acordo com a conveniência de cada um. A grandeza de um dirigente a gente percebe quando ele é campeão.
Outro dia, um internauta disse que “ele não torce para o time ganhar taças, que ele torce para o Atlético”. Declaração estapafúrdia, pois o que o torcedor mais quer é ganhar troféus. Ou ele torce para Hulk e Diego Costa receberem R$ 1,3 milhão por mês para não ganhar títulos? Um outro disse que “ama o Galo, mais que sua família”. Que ser humano é esse? Gente, o Atlético Mineiro está se estruturando, terá sua casa em breve e um grande faturamento com tudo o que girar em torno do espetáculo. Vive uma grande fase, que tem que ser comemorada, sim. Vejo muitos atleticanos do bem, que são ponderados e responsáveis naquilo que falam e fazem. Que bom que Minas Gerais tem um outro grande campeão, pois só o Cruzeiro ganhava taças – e isso incomodava muita gente.
Eu torço para os dois estarem no topo, como estiveram em 1987, na Copa União, quando decidiram as semifinais no Mineirão. Na época, eu trabalhava na TV Globo. Galvão narrou os jogos. Eu fiquei por conta do Galo. Acyr Benfica por conta do Cruzeiro, Tino Marcos, do Flamengo, e Roberto Tomé cuidou do Inter. Galo e Cruzeiro foram eliminados, mas mostraram, juntos, a força do futebol. Que os atleticanos comemorem muito, que façam uma festa histórica na rodada em que o time for bicampeão brasileiro e que guardem energia para comemorar uma possível, vejam bem, possível, conquista do bi da Copa do Brasil. É o ano do Atlético Mineiro, que pensa em se tornar um ganhador de taças daqui pra frente. É isso que explica a grandeza de um clube, títulos, taças, sala de troféus recheada. Qualquer coisa fora disso, como diz meu amigo e companheiro de tantas Copas e Olimpíadas, Chico Maia, “é perfumaria”.
Machões das redes sociais
Vi um depoimento de Carol Portaluppi, filha do técnico Renato Gaúcho, pedindo mais amor e menos ódio aos “machões” das redes sociais que estão infernizando sua vida por causa da má fase do Flamengo. Que gente odiosa e irresponsável é essa? Num país sério, os “machões e bandidos”, covardes, seriam identificados e presos. No Brasil, as redes sociais são terra de ninguém. Por isso, adoto sempre a frase do escritor e filósofo italiano Umberto Eco: “s redes sociais deram voz a uma legião de imbecis”. Eu completaria com odiosos, revoltados, frustrados e marginais. Que a polícia e a Justiça punam esses bandidos.