Mineirão lotado e as torcidas de Atlético e Cruzeiro dividindo o estádio. Será que os bons e seguros tempos estão de volta? Tomara que sim. As autoridades deram um crédito aos torcedores e cabe a eles fazer o seu papel de torcer em paz, sem agressão, xingamentos, pancadaria ou morte. A Polícia Militar se reuniu com os líderes das duas principais torcidas organizadas para determinar normas a serem cumpridas. Só não entendi uma coisa: se as duas torcidas estão banidas dos estádios por seis meses, por que foram chamadas para a reunião? E mais: elas poderão estar no estádio, ainda que sem uniformes ou qualquer apetrecho que as identifiquem? O importante é dizer que o verdadeiro torcedor, o anônimo, que não está infiltrado em nenhuma organizada, vai estar no Gigante da Pampulha. E esse torcedor merece o meu respeito. É o pai, a mãe, a vovó, o vovô, a criançada, os adolescentes. Esses são os torcedores de Atlético e Cruzeiro.
No campo de jogo não tenho medo de apontar o Atlético como favorito. Tem mais time, mais banco, mais grupo, e é considerado o melhor do país. Porém, no último clássico vimos a força do Cruzeiro. Fez 1 a 0, perdeu inúmeras chances de ampliar o placar, e foi punido num erro do árbitro Igor Benevenuto, que marcou um pênalti inexistente em Hulk. Mesmo em formação e com vários problemas extracampo, o time azul mostrou sua grandeza e força. Está se recompondo aos poucos, tentando voltar à elite, que é seu lugar de direito.
Curiosamente, as duas equipes têm sérios problemas financeiros, com dívidas altíssimas, que deverão ser solucionadas tão logo se transformem em empresas. No caso do Cruzeiro, segunda-feira poderá ser o dia do ‘Sim!’ Se o conselho concordar e aprovar as exigências de Ronaldo Fenômeno, finalmente o contrato de compra será assinado. No Galo, os dirigentes estudam de que forma vão fazer essa transição de clube para empresa. É a modernidade chegando ao nosso futebol para ficar. Os presidentes de clubes serão peças decorativas, pois haverá CEOs mandando e os donos cobrando resultados financeiros e técnicos.
Voltando ao clássico, o Galo tem em Hulk seu principal artilheiro, eleito o melhor jogador do país na temporada passada, que começou o ano como terminou: fazendo gols! Além dele, outros jogadores que se firmaram, como Jair, Zaracho, Alan, um meio-campo muito forte. O Cruzeiro tem Edu, artilheiro da Série B, que está confirmando isso no time celeste. Mas ainda é muito carente no meio-campo e setor de criação. Os dois técnicos são estrangeiros, moda no Brasil atualmente. De um lado, Pezzolano, uruguaio, a mim tem agradado. Do outro, o turco Mohamed, que também tem feito um grande trabalho, ao manter a estrutura de equipe deixada por Cuca. Claro que ele tem seus conceitos, mas faz o simples, mantendo as características de cada jogador. Aquele que sair vencedor não será o melhor do mundo, e o perdedor também não será o pior. É apenas começo de temporada e trabalho. Há muita coisa para ocorrer, e sabemos que a prioridade do Cruzeiro é ficar entre os quatro primeiros da Série B e voltar à elite. Já o Galo quer ganhar Libertadores, Copa do Brasil e Brasileiro. São objetivos diferentes.
Que tenhamos um clássico de alto nível, sem animosidade entre dirigentes e jogadores. E que lá em cima, nas arquibancadas do Gigante da Pampulha, os torcedores confirmem a expectativa das autoridades: que se comportem com educação, que torçam, cantem, comemorem ou chorem, mas que, acima de tudo, entendam que é apenas uma partida de futebol, um esporte que só tem razão de ser se for com alegria, paixão, emoção, mas sempre preservando a razão. Vivemos tempos de ódio, de pandemia, de intolerância. Já passou da hora de voltarmos ao passado, de dividirmos espaços, respeitando o outro que usa camisa ou bandeira diferente. Que a arbitragem seja serena e passe despercebida. Ali no campo, a neutralidade será fundamental para uma boa arbitragem.