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Pensou que a pandemia mudaria o mundo e o futebol? Que nada...

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Carnaval fora de época não é comigo. Será que as pessoas não poderiam esperar o próximo ano para a folia? Depois de passar dois anos de uma terrível pandemia, que dizimou milhões de vidas pelo mundo, e que ainda não acabou, poderíamos dar mais um tempo para reflexões, para nos questionar mais. Ouvi muita gente dizer que a humanidade mudaria após o coronavírus, mas, na verdade, ninguém mudou. O soberbo continuou soberbo, o que gosta de humilhar continua humilhando, os que acham que o dinheiro compra tudo continuam achando, e por aí vai.





No futebol, por exemplo, as coisas pioraram. Estamos vendo jogadores sendo ameaçados mundo afora. No Brasil, Cássio, goleiro do Corinthians, teve sua integridade e a de sua família ameaçadas. O volante Edenílson, do Internacional, também sofreu ameaças. Jogadores do Flamengo foram intimidados e agredidos na chegada ao Ninho do Urubu. O zagueiro Maguire, do Manchester United e da Seleção Inglesa, recebeu ameaça de bomba em sua casa. É isso que as pessoas chamam de futebol?

Não, meus amigos e minhas amigas. Sou de outra época e não a trocaria por nenhuma outra. Quando crianças, fomos educados a respeitar os mais velhos, a carregar a bolsa da feira para a nossa vizinha, a cantar o hino nacional na escola e ter orgulho do país. Torcer por um time era apenas lazer, paixão e emoção, sempre com racionalidade. O meu adversário jamais foi meu inimigo. Apenas vestia a camisa do time de que ele gostava. Acabava o jogo, havia aquela gozação saudável e não passava disso.

Hoje, os caras marcam encontros para matar ou morrer. São os chamados “torcedores organizados”, que de organizados não têm nada. São bandidos mesmo, travestidos de torcedores. Não torcem para time nenhum. Torcem para eles próprios, para satisfazer seus instintos mais primitivos. Um cara que se esconde atrás de um teclado, de uma rede social para agredir, atacar e até ameaçar de morte não passa de um covarde e de um criminoso. Lugar de bandido é na cadeia!

E olha que os estádios estão cheios, os torcedores mais jovens, carentes de um grande futebol, pagam ingressos caros para assistir aos jogos dos seus times. Se bem que o futebol de hoje é sofrível. Tirando um jogo ou outro, o resto é uma mesmice só, sem craques, talentos, dribles, passes ou gols. A arbitragem é a pior do mundo em todos os aspectos. 

Não posso afirmar que existe um árbitro venal, que apite com a camisa do seu time do coração por baixo – claro que todos torcem por algum time –, mas também não posso dizer que isso não exista. Edílson Pereira de Carvalho, da manipulação de resultados, em 2005, é um péssimo exemplo de que isso ocorre.





Ainda somos apaixonados pelo esporte bretão, o mais popular em nosso país, mas confesso que o que vemos hoje, na América do Sul, é tudo, menos o verdadeiro futebol. Certo dia, conversando com o genial Dirceu Lopes, eu disse a ele que ele jogou na época errada e que se jogasse hoje estaria bilionário. Com a simplicidade que lhe é peculiar, ele me disse: “Jaeci, eu joguei na época certa, com os maiores jogadores do planeta, com grandes jogos, estádios lotados e uma paz incrível entre os torcedores”. 

O Príncipe tem razão. Eu também não trocaria a minha época de garoto, de patriota, de torcedor, pelo atual momento. Vivemos um mundo de ódio, inveja, maledicência. Pobre do ser humano, alguns, tão ricos materialmente, mas com a alma poluída. E o futebol é apenas reflexo de tudo de errado que existe no Brasil. Ah, logo mais o Galo entra em campo. Num sábado de feriado, às 21h. Não precisa dizer mais nada!