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Estado de Minas COLUNA DO JAECI

A perda de tempo e os riscos nas reposições de bola

Já passou da hora de algum treinador acabar com isso e voltar ao sistema antigo, onde o volante de qualidade é o responsável pela saída de bola


28/07/2022 04:00 - atualizado 28/07/2022 00:05

Cuca durante treino no Atlético
Torcida do Atlético deposita suas fichas no técnico Cuca para a conquista de mais títulos este ano (foto: Pedro Souza / Atlético)

Gosto muito de conversar com nosso diretor-presidente dos Diários Associados, doutor Álvaro Teixeira da Costa, a quem tenho como um pai. Dia desses, em sua sala, batemos um papo de uma hora e entre os questionamentos sobre futebol, Doutor Álvaro tocou num ponto importante: “Jaeci, os times hoje passaram a dar a saída de bola como no futsal, e ficam tocando bola para trás. Com isso, o adversário vai se armando, empurrando seu time para a frente, com chances reais de tomar a bola e fazer gols. Além disso, o tempo que se perde tocando bola ali atrás fará falta durante o jogo, principalmente quando a equipe estiver perdendo”. É verdade absoluta. 

 Tenho questionado esse tipo de saída de bola. E o que é mais grave: virou situação rotineira em todos os times brasileiros, a ponto de o atacante estar com a bola dominada, perto da área adversária, e retroceder, recuando a bola para sua defesa ou seu goleiro.

Gente, o futebol brasileiro, esse que é o único pentacampeão do mundo, se caracterizou pela ofensividade, por jogar pra frente, em busca do gol. Como estamos atrasados em relação aos europeus, que nos ultrapassaram também na parte técnica.

Entendo que uma boa saída de bola, lá da defesa, pode originar bons ataques, porém, essa sempre foi a missão dos volantes, que recebem o passe do goleiro ou do zagueiro, e começam a construir as jogadas. Essa situação de o goleiro tocar para o zagueiro, este para o lateral, que devolve para o goleiro, que volta a bola para o lateral, perdendo preciosos minutos, não tem levado os times a lugar algum, muito pelo contrário, os erros acontecem e, volta e meia, tem algum atacante tomando a bola e fazendo gol.

Se não há um volante capaz de construir a jogada, que o goleiro faça o simples e dê um bicão na bola para que os atacantes a disputem com os zagueiros adversários.

Ficar tocando bola ali atrás significa perda de tempo, risco e, acima de tudo, arma o adversário, que fica estudando o que fazer diante dessa situação. Já passou da hora de algum treinador acabar com isso e voltar ao sistema antigo, onde o volante de qualidade é o responsável pela saída de bola para os atacantes.

Cuca será a solução?

A esperança da torcida do Atlético está depositada em Cuca, que voltou a dirigir a equipe e já dá treinos visando o jogo com o Internacional, domingo, em Porto Alegre, pelo Brasileirão.

Na passagem de Cuca, ano passado, dei muita força a ele, em conversas, quando ele queria desistir de assumir o Galo por causa de ameaças e intrigas das redes sociais, buscando o episódio na Suíça. Felizmente, ele venceu essa barreira, assumiu e ganhou quase tudo.

Eu tinha a certeza de que Cuca seria campeão. Agora, em sua volta, não tenho essa mesma certeza. Não por ele, que é um baita treinador, mas, sim, pelo grupo atleticano, que caiu de produção de forma assustadora. Alonso, Arana, Jair, Nacho, Hulk e outros menos votados já não praticam o futebol da temporada de ouro, em 2021.

Acho que o torcedor é injusto quando cobra somente do treinador. Eu disse que não deu liga entre o Turco Mohamed e a torcida, mas ele não era o único culpado. O Atlético vive o mesmo drama que viveu o Flamengo, em 2020.

Campeão de quase tudo em 2019, o rubro-negro não conseguiu repetir na temporada seguinte, e só foi campeão brasileiro porque Atlético e Inter foram incompetentes. Os jogadores destaques em 2019 caíram de produção em 2020 e isso comprometeu o trabalho dos técnicos que passaram pelo rubro-negro.

É o que vejo no Galo. Quando vários jogadores não estão praticando o mesmo futebol da temporada passada, o trabalho não engrena.

Porém, se Cuca conseguir mudar essa situação, e os jogadores recuperarem a autoestima e o bom futebol, aí teremos a certeza de que foi o trabalho do treinador que mudou tudo. É esperar para ver.

Entretanto, vale lembrar que Cuca terá uma missão dificílima já na semana que vem: encarar o Palmeiras na decisão de uma vaga para a semifinal da Libertadores.

Algoz do time mineiro ano passado, Abel Ferreira quer repetir a dose, pois sonha com o tri consecutivo da competição.

Se o Galo não passar, restará o Brasileiro. E se não ganhar também, os torcedores vão responsabilizar Cuca? Sim, um técnico, por mais vencedor que seja, pode ir do céu ao inferno em 90 minutos.

Tomara que não, mas eu acho que o risco que Cuca corre é muito grande. Repito: a culpa não é do técnico e, sim, dos vários jogadores importantes que caíram de produção e  não são cobrados.

O torcedor deveria enxergar melhor e perceber que por mais que o Turco Mohamed tenha errado, ele não conseguiu o retorno dos muitos jogadores importantes. O futebol brasileiro anda muito ruim. Se uma peça vai mal, compromete toda a engrenagem, imaginem vários jogadores caindo de produção ao mesmo tempo?

Empáfia

Não perco tempo vendo os programas esportivos atuais. A maioria é péssima, com profissionais desqualificados. Tem um lá no Rio que não dá nem um ponto no Ibope, e o apresentador é uma empáfia só. Aliás, comentando com um grande jornalista da minha geração, ele disse: “Hoje o jornalismo esportivo virou um circo, com programas beirando o ridículo”. Mas ainda há alguns excelentes profissionais. Cahê Mota, do globoesporte.com, é dos melhores da atualidade. Bem informado, leve e com muita competência.

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