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Estado de Minas COLUNA DO JAECI

Salários irreais, fome, miséria e desrespeito aos treinadores do Brasil

"É impossível até para Guardiola e Klopp, considerados os melhores treinadores do mundo, fazer um projeto vencedor em cinco ou seis meses"


15/09/2022 04:00 - atualizado 15/09/2022 11:04

Lisca, quando ainda era treinador do América
Ex-técnico do América e atualmente no Avaí, Lisca é exemplo de treinador que muda constantemente de clube (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)


Lisca esteve no América, passou pelo Sport, Santos e agora está no Avaí, tudo num espaço curtíssimo de tempo. Ele tem uma média de 19 jogos por clube nos últimos cinco anos. Estou pegando Lisca como exemplo, mas serviria também para “João, Mané, José” e por aí vai.

Os treinadores no Brasil são “objetos” descartáveis, dependendo da vontade da torcida. Se ela cismar com o trabalho do cara, ninguém impede a demissão. Quem manda nos clubes sãos as redes sociais e os caras que vão para a porta de ct's para agredir, xingar e invadir. Os casos são recorrentes e, a cada semana, um time é pego para “Cristo”. Vejam bem, senhoras e senhores: Lisca fez um belíssimo trabalho no América, levando o clube, pela primeira vez em sua história, a uma semifinal de Copa do Brasil. Porém, um começo de trabalho ruim na temporada seguinte e veio a demissão. Os técnicos rodam pelas equipes, de norte a sul do país. Alguns recebem salários de cinco clubes ao mesmo tempo. “Recebem”, entre aspas mesmo, pois há clubes que “fingem que pagam”.

Esse desrespeito com os treinadores não é de hoje. Os dirigentes, em sua maioria amadores, contratam um técnico para resultados, sem projeto, sem estruturação. Claro, são amadores, não CEOs, como está acontecendo agora com a chegada do clube-empresa. Não cumprem o orçamento e contratam na hora que bem entendem, mesmo sem ter dinheiro. Transformam as dívidas em bolas de neve, impagáveis, e deixam a sujeira debaixo do tapete para o sucessor. E assim caminha o futebol brasileiro, da piada pronta e da fantasia, onde se paga R$ 2 milhões mensais a um atleta, mesmo tendo mais de 30 milhões de pessoas vivendo na mais completa e absoluta miséria, sem ter o que comer. Como se fosse normal. E o que é pior: há quem pague para ver esses caras jogarem essa “pedrinha”. Penso que alguma autoridade deveria intervir e fazer os dirigentes entenderem que numa economia quebrada e em frangalhos como a nossa é um desrespeito pagar tais salários.

Não conseguimos copiar a Europa no modelo técnico, em que eles nos ultrapassaram, mas repatriamos jogadores pagando salários de lá. Uma vergonha, um descalabro. Não copiamos também a estabilidade que dão aos treinadores. Claro que há exceções em clubes de lá, com demissão de técnicos, mas é muito raro. Normalmente o clube traça um planejamento para seu treinador e vai com ele, perdendo ou ganhando. E a maioria segue para a temporada seguinte, mesmo após um fracasso, pois a chance de dar certo é muito maior do que a chegada de um outro. É impossível até para Guardiola e Klopp, considerados os melhores treinadores do mundo, fazer um projeto vencedor em cinco ou seis meses. O alemão está no comando do Liverpool há sete anos. Nesse período, ganhou uma Liga dos Campeões, um Campeonato Inglês e algumas Copas. Se fosse no Brasil, já estaria demitido. Na Europa, não. Lá eles sabem muito bem que não se ganha todo ano, que os jogadores caem de produção, que precisa saber repor com qualidade e aproveitar gente criada na base. Sim, os clubes europeus estão mais fortes nas divisões inferiores, sabedores que o dinheiro no Velho Mundo também está curto, que há muita miséria social, refugiados e gente sem emprego e com fome. O mundo vive um período nebuloso, de ódio, racismo, homofobia, feminicídio. No Brasil, estamos vendo a jornalista Vera Magalhães ser ameaçada por políticos e desmoralizada por quem deveria protegê-la.

Um descalabro. Não se respeita a mulher. Homens covardes, que acham que podem tudo. É preciso que a Justiça haja com rigor, punindo esses covardes. Como digo sempre, o futebol só é um mundo à parte na questão dos salários irreais dos jogadores. No mais, está inserido nessa sociedade podre, onde “ter é melhor que ser e saber”. Onde falar mal dos outros é o prato predileto dos invejosos, onde odiar é melhor que amar. Uma pena que o mundo esteja caminhando para uma rua sem fim. É a chamada “modernidade”, que parece que chegou para cumprir o apocalipse! E, enquanto escrevo esta coluna, com certeza mais um técnico do futebol brasileiro está perdendo seu emprego.


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