Jornal Estado de Minas

Eles querem esconder a mediocridade dos treinamentos

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O diretor executivo do Atlético Mineiro, Rodrigo Caetano, disse que “dificilmente a imprensa terá acesso aos treinamentos, pois o CT é um lugar dos jogadores, comissão técnica e dirigentes”. É sabido que a pandemia do coronavírus acelerou um processo que já estava em voga, que é o de impedir que os jornalistas assistam aos treinamentos e tirem suas conclusões, como sempre aconteceu.



Sou de uma época em que sentávamos com os jogadores, batíamos papos, fazíamos entrevistas em suas casas, e que tínhamos amizade com eles. Não se escondia nada, mas também não entrávamos em suas vidas particulares.

É sabido que hoje há um “caminhão” de gente que se acha jornalista, que tem canal e que movimenta uma legião de torcedores, que querem escutar apenas coisas boas sobre o seu clube. Se um jornalista, de verdade, raiz, faz uma crítica, é bombardeado por esses pseudos-jornalistas, como se estivesse cometendo um crime.

Entretanto, é preciso separar o joio do trigo. Caetano sugere até que não haverá mais cobertura da imprensa, em dia nenhum, no CT, como acontece na Europa. Lá, os clubes determinam o dia da entrevista e eles escolhem o jogador que vai falar. Ok, já que querem adotar esse sistema no Brasil, devemos cobrar também um futebol em nível de Europa, pois o que eles entregam com seus treinos secretos, é um nível técnico abaixo de qualquer crítica.



Acho fundamental um jornalista observar o treinamento, tirar suas conclusões e escrever sobre o que viu. Que crime há nisso? É só credenciar quem pertence aos órgãos de imprensa sérios e corretos, e se resolve o problema. Blogueiros e donos de canais que são apenas torcedores, não devem ter acesso aos jogadores. Simples assim!

Outra coisa que funcionaria bem é a imprensa se reunir, por meio das associações, e combinar de ninguém ir a CT nenhum fazer a cobertura, quando for permitido. Dessa forma, os patrocinadores ficariam escondidos e garanto que iriam reclamar da falta de exposição de suas marcas. Imediatamente, os clubes mudariam de ideia e deixariam a imprensa trabalhar.

Quando você deseja copiar algo da Europa, tem que ter o cuidado de dar a contrapartida adequada. Lá, eles podem agir dessa forma, pois o futebol apresentado dentro de campo é de alta qualidade, mas no Brasil, parece até piada pronta. A verdade nua e crua é que, ao presenciar treinamentos nos CTs, os jornalistas brasileiros constatarão o quão incompetentes são nossos treinadores, com algumas exceções, e o quanto os jogadores treinam pouco. Para esconder isso, os clubes pretendem adotar tais medidas.

Telê Santana, Carlos Alberto Silva, Zagallo, Parreira, Luxemburgo, jamais esconderam seus treinos. Até mesmo na Seleção Brasileira tínhamos acesso a tudo. Reinaldo, Éder, Cerezo, nunca se importaram em nos ver assistindo aos treinamentos deles, porque tinham a consciência do que faziam, eram craques, gênios da bola, e, mesmo os jogadores mais “comuns”, não tinham o menor preconceito conosco.



Eram épocas em que havia uma sintonia entre todos nós, e nas quais o futebol brasileiro era vencedor e respeitado. Hoje, a coisa mudou, e para pior, como tudo na vida, infelizmente.

O que deveríamos copiar da Europa é a evolução tática e técnica, que estão nos deixando cada vez mais distantes da Copa do Mundo. Lá, os treinadores têm compromisso com a criatividade, com o passe, o drible, o gol, justamente o que tínhamos no passado. Eles nos copiaram, e muito bem, e nós, involuímos.

Quando você faz a coisa certa, não há o que esconder. Fico vendo nas coberturas da Seleção Brasileira de Tite, nós, repórteres, podemos assistir os 15 primeiros minutos do “bobinho”. Depois, toda a imprensa é convidada a se retirar e ir para a sala de entrevista coletiva para questionar o treinador.

Mas, questionar o quê, se a gente não assiste ao treinamento? Por isso, Tite é tão questionado por nós e pela torcida brasileira. Ele treina escondido e na hora do jogo, no estádio, onde não pode esconder mais, mostra aquele futebol pobre, de dar sono, mesmo tendo à disposição alguns excelentes jogadores, que surgiram de dois anos para cá.

A mediocridade de dirigentes, treinadores e jogadores está fazendo o futebol ficar chato e ruim. Realmente, eles têm razão em esconder da imprensa, o que fazem ou o que não fazem nos CTs. Com raríssimas exceções, o que vemos é um futebol pobre, sem qualidade e bem distante dos velhos e bons tempos do verdadeiro futebol brasileiro, aquele que encantava e que não escondia nada de ninguém.