DOHA - O Brasil estreia hoje na Copa do Mundo do Catar enfrentando a Sérvia, antiga escola iugoslava de futebol. Jantei com alguns ex-jogadores na terça-feira, num belíssimo hotel aqui em Doha, entre eles, o sérvio Petkovic. Claro que o tema da conversa foi sobre o jogo de hoje. Pet me alertou: “se o Brasil jogar com três atacantes pode ser surpreendido e perder o jogo. A Sérvia não tem apenas os dois atacantes, Vlahovic e Mitrovic, tem um grande time e uma defesa muito segura. Estou avisando antes. Se o time brasileiro vier muito aberto, terá surpresas desagradáveis”. Foi aí que Roberto Carlos, Gilberto Silva, Júlio César, Lugano e Trezeguet, todos ex-jogadores, que estão aqui, convidados pela Fifa, entraram em cena e disseram o seguinte: “pois é, a imprensa quer um time ofensivo e Tite vai por esse time jogando com três atacantes. Se perder, a imprensa vai dizer que deveria ter jogado com mais um volante e menos um atacante. É complicado”.
De qualquer forma, confesso que quero ver o Brasil com Raphinha, Richarlyson e Vini Júnior, mas, depois de duas zebras, Argentina e Alemanha sendo derrotadas na estreia por Arábia Saudita e Japão, respectivamente, acho que Tite vai entrar com Fred e apenas dois atacantes. Não vejo Richarlyson como titular da Seleção. Eu colocaria o Pedro, que é muito mais jogador. Mas eu não sou o técnico e quem manda é o Tite. Eu também não escalaria, e muito menos escolheria Thiago Silva para a zaga e capitão. O acho fraquíssimo como jogador e, emocionalmente, desequilibrado. Um cara que já entregou a Seleção em várias oportunidades. Tite teve o que nenhum outro treinador conseguiu: está há seis anos no cargo e tem liberdade para fazer o que quiser. O atual presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, pegou o avião no ar e preferiu não mudar nada agora, pois se o Brasil tiver um fracasso a culpa não cairá sobre seus ombros. A verdade nua e crua é que Tite será vilão ou herói. O que acontecer nesse Mundial com a equipe canarinho será de sua responsabilidade. Convocar Daniel Alves foi um crime contra a nação. Não há nada que justifique convocar um cara que não joga de lateral, há anos, e que nem clube tem.
É a Copa para Neymar se afirmar como o craque que é. Não há a menor dúvida. Foi tema também das nossas conversas na noite de terça. É agora ou nunca mais. Aos 30 anos, passou da hora de ele mostrar ao mundo o seu talento, sua qualidade e, acima de tudo, apagar a péssima imagem deixada na Copa da Rússia, quando virou chacota mundial com o cai-cai. É um ídolo contestado pela maioria da torcida brasileira, muito mais pelo seu comportamento extracampo, que não condiz com a fama de grande jogador. Com certeza, ele ainda terá o Mundial dos Estados Unidos pela frente, mas a hora é agora. Como diria Geraldo Vandré, “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. E Neymar sabe tudo de bola, está centrado e pode fazer a diferença para o time brasileiro. Preocupa-me nossa defesa. Não confio nela, nem tampouco nos laterais. Acho Danilo e Alex Sandro fraquíssimos, mas é o que tem para o momento. Conservador que é, Tite preferiu trazer para cá sua trupe e não os melhores jogadores da atualidade.
O grupo do Brasil é, na teoria, fraco, e nosso time não deve ter dificuldades para se classificar em primeiro lugar. Eu disse na teoria, pois na prática a coisa pode complicar. Sérvia e Suíça se classificaram em primeiro lugar nas Eliminatórias, desbancando Portugal e Itália, respectivamente, que foram para a repescagem. A Itália foi eliminada pela Macedônia e Portugal se classificou justamente em cima da Macedônia. Por fim, resta Camarões, que não deverá dar trabalho ao time brasileiro. Entretanto, percebam que o que na teoria é fácil, pode ser complicado caso o Brasil não vença hoje. Estreia é sempre mais complicado. O fator nervosismo pesa, e no grupo brasileiro há 16 jogadores que jamais participaram de Copas do Mundo. Porém, quem sabe jogar não pode temer adversário e os jogadores brasileiros estão acostumados a jogar contra os grandes do futebol europeu.
É sabido por todos os meus leitores que eu não gosto do trabalho do técnico Tite. O acho retranqueiro, embora vá com escalação ofensiva hoje, e vejo a equipe mal treinada e iludida com as Eliminatórias Sul-Americanas. Porém, quando o Brasil entrar em campo, o coração falará mais alto e eu jamais deixo de torcer pelo nosso time. Jogadores e técnicos são apenas instrumentos nas mãos da CBF. São passageiros. Nossa Seleção é eterna e a única pentacampeã do mundo. E, para fechar, se o Brasil ganhar ou perder o hexa, nada mudará para o povo brasileiro. O país continuará sofrendo com desemprego, mais de 30 milhões de pessoas na mais completa e absoluta miséria. Esse discursinho dos jogadores de que “querem dar alegria ao povo brasileiro”, para mim, não cola. Alegria é ter saúde, emprego, dignidade, coisa que a maioria dos políticos brasileiros não deixa a população ter. “O futebol é a coisa mais importante, entre as menos importantes da vida”.