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Estado de Minas COLUNA DO JAECI CARVALHO

Atlético: CT, estádio e time terão um dono que não é a torcida

A torcida sonhava tanto com o estádio, imaginando que ele seria inaugurado para ela. Mas, de repente, quem vai inaugurar é um americano que de bola nada entende


28/04/2023 23:57 - atualizado 29/04/2023 00:21

Arena MRV, estádio do Atlético
Arena MRV, estádio do Atlético (foto: Douglas Magno/AFP)

O Atlético deve cerca de R$ 2 bilhões, notícia que agitou o mundo do futebol na quinta-feira. Até então, não havia solução. Eis que, como num passe de mágica, o clube arrumou um comprador que, supostamente, vai pagar R$ 1,8 bilhão, assumindo também o estádio e o CT. Ora, senhoras e senhores, a torcida não sonhava tanto com o estádio, imaginando que ele seria inaugurado para ela? De repente, quem vai inaugurar é um americano, que de bola nada entende, e que foi rejeitado pelo Botafogo, tomando um chapéu de John Textor.

Sim, segundo consta, Peter Grieve, que não cumpriu a principal exigência do Botafogo e não conseguiu comprar o clube, está arrumando sócios e investidores para serem os donos do Atlético. O Botafogo exigiu dele R$ 700 milhões, mas, como ele não tinha e não honrou o compromisso, acabou vendendo a SAF para John Textor, que também detém ações do Lyon, da França, e do Crystal Palace, da Inglaterra.

Há três anos, os dirigentes venderam para a torcida o seguinte: "o Atlético vai ser o maior clube do Brasil. Vamos construir um estádio com metade do valor do shopping Diamond Mall, e o estádio custará R$ 400 milhões". O resultado, na verdade, foi bem diferente disso. O Galo gastou, até agora, R$ 1 bilhão, vendeu o shopping e continua devendo. A SAF, que era uma opção, virou necessidade, sob o risco de fechar as portas. Gastaram o que tinham e o que não tinham para ganhar Brasileiro e Copa do Brasil em 2021. Hoje, a situação é caótica. Tem um presidente que cumpre as ordens, um time caindo pelas tabelas e nenhum jogador que possa ser vendido para arrecadar algum dinheiro para pagar dívidas.

Presidentes vem e vão, com erros a acertos. Em 2005, quando o Atlético caiu, tendo o atual presidente como homem forte do futebol, todos achavam que o clube havia acabado, mas ele ressurgiu em 2012, como vice-campeão brasileiro, e ganhou a Copa Libertadores, em 2013, e a Copa do Brasil, em 2014.

Todos os presidentes, campeões ou não, deixaram dívidas, mas nenhum deles comprometeu o patrimônio do clube. Todos trabalharam junto com a torcida, pelo amor ao clube, por querer fazer o melhor. Lembro-me de declarações do atual presidente de que o estádio do Galo estaria quitado com metade do shopping, naming rights e venda de cadeiras, mas isso não aconteceu. Parece que há empréstimos de mais de R$ 400 milhões para concluir a obra. 

A atual diretoria apregoou o seguinte: "reforma estatutária, dinheiro do Diamond Mall no orçamento, clube saneado até 2026 (sem SAF), Galo Business Day, 3 ou 4 Hulks no time, estádio quitado e do clube, time em nível de Barcelona. Tudo isso foi apregoado quando disseram que tinha que vender 49,9% do Diamond Mall em 2022. Pelo visto, nada disso foi cumprido. Isso não é a minha opinião, e sim documentos, que estão aí para todos os conselheiros. Tanto que nenhum deles se opôs, acreditando na atual gestão.

O clube tem uma folha de R$ 14,1 milhões, cujos maiores salários são de Hulk, R$ 1,3 milhão mensais; Paulinho, R$ 1,1 milhão; Vargas, R$ 800 mil; Alan Kardec (reserva), R$ 400 mil, Coudet e comissão técnica, R$ 1,6 milhão. Isso é uma afronta aos torcedores, pois, para pagar salários, o clube recorre a empréstimos bancários. Vejam bem, senhoras e senhores, estou pondo fatos e contra fatos não há argumentos.

A imprensa brasileira caiu de pau no Atlético desde ontem, e não vi o presidente soltar nota de repúdio, nem tampouco considerar a imprensa nacional como "persona non grata". Sinceramente, eu acho que ter um estádio é uma coisa maravilhosa, o torcedor fica orgulhoso, lava sua alma. Porém, a esse preço que o Atlético está pagando, não sei até que ponto vale. Um clube com uma dívida de R$ 2 bilhões, que está prestes a vender tudo - CT, estádio, por R$ 1,8 bilhão.

O atleticano sempre se orgulhou, perdendo ou ganhando, de dizer que a paixão está acima de qualquer conquista. Como muito bem escreveu o saudoso Roberto Drummond, "se houver uma tempestade e uma camisa no varal, o atleticano torce contra o vento". O que vai dizer agora? Que torce para um time que não tem mais a identidade com a torcida, que não tem mais o estádio, que iria inaugurar para ela e que não tem mais a "Cidade do Galo", que tanto orgulho deu a essa apaixonada nação. E vai ter que aceitar que o novo dono, se a compra se concretizar, será o dono de tudo. Do CT, do estádio e do time. Isso se chama SAF. A salvação do Atlético, que até bem pouco tempo era descartada por todos.

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