Jornal Estado de Minas

COLUNA DO JAECI

O racismo dói no corpo e na alma



Vinícius Júnior é o jogador mais agredido pelos racistas na história do futebol mundial. Uma covardia com um garoto humilde, gente boa ao extremo, um ser humano ímpar. O fato de ter tido uma infância pobre o tornou um homem de verdade, tendo a sorte de contar com seu agente, Frederico Pena, um profissional do mais alto nível, filho de médicos, que cuida da carreira e da vida pessoal do atleta, com maestria. O mundo se indignou com os atos racistas da torcida do Valencia, no último domingo, exceto o presidente da La Liga, que parece não ter educação, berço, nem tampouco coração. Ele quis jogar a culpa no jogador. Desde pequeno, meus pais me ensinaram que somos todos iguais perante Deus, a lei, e que não importa sua cor, sexo ou religião. Todos temos os mesmos direitos e deveres. Brasil e Estados Unidos têm uma dívida muito grande com os negros, principalmente no período da escravidão. Um período desumano, que não pode ser esquecido por nenhum de nós. É duro saber que em pleno século 21 ainda sofremos com esse mal e com esses covardes, racistas. Cadeia neles, com os mais duros rigores da lei.





Até Neymar, que é negro e jamais havia se posicionado em outros casos, dessa vez deu o ar da graça. Só não se manifestou ainda sobre seu grande amigo, Daniel Alves, preso, acusado de estupro por uma mulher em Barcelona. Neymar deveria se posicionar, condenando o possível estupro, mas, assim como Tite e Thiago Silva, está calado desde janeiro, quando seu “parça” foi preso. Quero ver após a condenação, que os espanhóis dão como certa, o que ele vai dizer. Voltando ao racismo, tema tenebroso e covarde, que bom que o mundo acordou depois de domingo. Até então, Vini Júnior vinha sofrendo a cada partida, mas sempre havia alguém para “passar pano”. Dessa vez, não. O presidente da Fifa, Gianni Infantino, já se posicionou, dizendo que o clube cujos torcedores cometerem o racismo será penalizado com a perda dos pontos para a equipe que tiver o jogador agredido. Acho uma ótima medida, mas será preciso saber se alguém vai vestir a camisa do adversário, cometer tal insanidade e prejudicar o time. Porém, a polícia poderá prender o agressor e constatar a realidade. A outra punição, além da cadeia, seria o banimento para o resto da vida do racista frequentar o estádio. Barbosa, goleiro brasileiro que sofreu o gol de Ghiggia, no “Maracanazo”, na Copa de 1950, disse antes de morrer que “pagou uma pena em vida”. Ele, que era negro, foi acusado de falhar no gol e crucificado pelo resto dos seus dias. Uma covardia sem tamanho.

Tem muito racista bancando de bom moço, surfando na onda, para conseguir likes. Não se enganem com esses. O mundo é racista e no Brasil temos visto casos que até Deus duvida! Não me sai da cabeça aquela cruel mulher dando chibatada num rapaz negro que fazia entregas no Rio de Janeiro. Um crime dos mais horrendos e hediondos. Será que as pessoas já esqueceram? Onde está aquela mulher, presa ou solta? Precisamos de penas mais duras. Dez anos de cadeia para os racistas, por exemplo, pode começar a resolver o problema. Meu amigo e colega de trabalho Paulo César Vasconcelos, um dos grandes da nossa crônica esportiva, tem levantado essa bandeira há tempos, com textos excepcionais e exemplos variados dessa crueldade. Conversando com ele, me disse: “Jaeci, só quem é preto sabe o que é ser discriminado. Por mais que os brancos estejam a favor da nossa causa contra o racismo nunca saberão como nos sentimos”. Ele tem razão. Pra mim, o racismo sempre foi e sempre será um dos crimes mais hediondos. O ser humano está coberto de ódio. Definitivamente, a humanidade não deu certo!

Sugiro que no primeiro ato de racismo, todos os jogadores saiam de campo, que o árbitro relate na súmula, que a polícia prenda os agressores e que o time ao qual pertence o torcedor perca os três pontos. Somente assim poderemos resolver essa questão. Não há outro caminho. Penas duras, severas, para que alguém que tenha a intenção de cometer esse ato desumano, pense 10 vezes. Dez anos de cadeia aos racistas fariam um bem muito grande à sociedade de verdade, de gente honesta, que entende que somos todos iguais e que a cor da pele, a religião, o sexo não definem o caráter de um ser humano. O que nos define é a compaixão, o amor pelo próximo, o zelo, o carinho, o respeito, a educação, o berço. É muito bonitinho ler: “somos todos Vinícius Júnior”, mas, na prática, muita gente que se diz solidária já teve pensamento racista e já praticou o racismo. Precisamos, todos, de um banho no corpo e na alma, para nos tornarmos seres humanos melhores. Que o episódio de domingo, em Valencia, tenha sido o último capítulo de um ato sórdido, nojento, desumano e cruel. Que a Fifa reaja com os rigores da lei, que a polícia prenda os racistas e covardes e que a Justiça lhe aplique a pena mais dura que houver. Somente assim, os atos como os de domingo, nunca mais se repetirão.

Licença

A partir de hoje vou tirar uma licença de alguns dias para resolver questões particulares. Volto a escrever neste espaço na quarta-feira, dia 31 de maio.