A Copa do Mundo de Futebol Feminino, sediada por Austrália e Nova Zelândia, começa hoje. As meninas do Brasil só estrearão no domingo, contra o Panamá, num grupo que conta com Jamaica e França. Nosso compromisso será às 8h para ver as garotas em campo. Chegou a hora delas, que foram vice-campeãs do mundo em 2007, quando perderam para a Alemanha por 2 a 0, na China, numa época que ainda tinham Formiga, Marta e Cristiane. Uma derrota sofrida, engasgada em nossa garganta. Em oito mundiais disputados na categoria, os Estados Unidos sobram com quatro taças, Alemanha com duas, e Noruega e Japão, com uma cada. É muito fácil explicar a supremacia norte-americana, pois, como cidadão que sou, e vivendo naquele país há sete anos, constato in loco tudo o que é feito em prol das meninas. Meu filho mais novo, Lorenzo, por exemplo, joga na Escolinha do PSG, em Broward, e no time dele há algumas meninas. Sim, lá não tem a discriminação que existe no Brasil. Outro dia vimos uma escola em BH impedir uma menina de disputar um torneio alegando que não havia garotas suficientes para formar um time. Isso é uma discriminação vergonhosa. Ela poderia, sim, atuar com os meninos.
O futebol feminino é levado a sério nos Estados Unidos e o investimento é gigantesco. Sim, eu sempre digo que as mulheres dominam o mundo e merecem ocupar seus espaços a cada segundo. E temos a melhor jogadora de todos os tempos, Marta, que ganhou seis vezes como a melhor do mundo. Há uma lista de craques que superam muitos marmanjos nos gramados. Alexia Putellas, Lucy Bronze, Alex Morgan, Alexandra Popp, Megan Rapinoe e por aí vai. Uma pena que Marta não esteja em suas melhores condições físicas e que sua idade seja avançada, mas se Formiga disputou até os 43 anos, por que nossa Rainha não poderia brilhar?
Felizmente a CBF tem um presidente, Ednaldo Rodrigues, que dá todo o apoio ao futebol feminino. Justiça seja feita, foi o ex-presidente deposto, Rogério Caboclo, quem contratou a sueca Pia Sundhage, campeã do mundo com os Estados Unidos, e ela faz um trabalho brilhante com nossas meninas. Nunca se deu tanta importância quanto agora. Nossas garotas viajaram em avião fretado, foram para a Austrália com 15 dias de antecedência, estão num hotel resort, que faz parte do circuito mundial de golfe, onde ficamos em 2000, durante a Olimpíada de Sidney, com a Seleção masculina. Tudo o que foi pedido foi dado e só basta entrarmos em campo, espantarmos o nervosismo e golearmos o Panamá. Daí pra frente é manter o equilíbrio mental, para irmos avançando. Acredito que Brasil e França avançarão, e aí, nas oitavas de final, que não peguemos nenhum “bicho papão”. Não sei se conseguiremos o primeiro lugar do grupo. Seria ótimo, pois, teoricamente, pegaríamos uma adversária mais fraca na fase seguinte.
Vejo um apoio maciço da imprensa séria para as nossas meninas e a visibilidade será muito grande. É disso que elas precisam há tempos. Voltamos no voo fretado na Olimpíada de Atlanta, com os homens e as mulheres do nosso futebol. Na época, o presidente Ricardo Teixeira deu uma “carona” para as moças do Brasil, que disputaram aquela Olimpíada. Pude conversar com algumas delas e sentir a dificuldade que enfrentavam nos clubes, sem apoio, sem competições a disputar. Agora, a coisa mudou. Temos um campeonato feminino e o futebol está se desenvolvendo melhor. Vejam que, em 1996, elas voltaram de “carona” e agora foram num avião fretado exclusivamente para elas. Falta de estrutura não será empecilho para tentarmos nosso primeiro caneco mundial. Imaginem o orgulho das jovens jogadoras tendo Marta no grupo. Nossa rainha tem muita história para contar e muito futebol para nos ajudar nessa caminhada. Espero, de coração, que todos possamos acordar cedo, no domingo, ligar a “telinha” e torcer por nossas garotas. Gostaria muito de estar nessa cobertura, mas não me programei para tal. Estou fazendo uma série de exames médicos, que me impediram de embarcar nessa aventura. Nem por isso vou deixar de falar das meninas do Brasil. Este espaço estará aberto para elas, durante toda a competição. Que Marta e cia estejam inspiradas e que possam fazer uma campanha brilhante. Sabemos que a conquista do título é muito difícil, pois há outras seleções mais bem preparadas e estruturadas há décadas. Entretanto, temos que acreditar, pois nossa treinadora é a atual campeã do mundo, com os Estados Unidos, em 2019, uma máquina, que ganhou os sete jogos da competição e venceu a Holanda por 2 a 0 na final. A decisão foi assistida por 82 milhões de pessoas. Na América do Sul, a audiência cresceu 560%, segundo pesquisas, o que prova que o futebol feminino evoluiu por essas bandas e que caiu no gosto popular. Meu sogro, por exemplo, doutor Márcio Reis, detesta futebol dos marmanjos, mas comentou comigo esses dias que adora o futebol feminino, pois vê mais leveza e menos agressividade. Doutor Márcio é refinado, e ouve diariamente pelo menos 4 horas de música clássica. Se as meninas conquistaram até ele, por que não a apoiarmos nessa caminhada? Estou fechado com Marta e cia, e que nossas meninas brilhem na terra do Canguru. Terei o máximo prazer em acordar cedo, no domingo, para ver nossas garotas brilharem. Que tenhamos uma grande estreia, se possível com goleada, para começarmos com o pé direito essa busca pelo título inédito. O presidente da Fifa, Gianni Infantino, estará lá, ao lado do presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues. São os novos e bons tempos do futebol feminino, que hoje tem o apoio mundial. Boa sorte, meninas do Brasil!