O futebol brasileiro é feito de gente “esperta”, que quer levar vantagem em tudo e vencer a qualquer preço. Com gol ilegal, com maracutaia, com erros crassos de arbitragem. Aliás, têm árbitros que deram títulos para equipes com equívocos absurdos. Uma vergonha que não devolve o título àquele que perdeu pela malandragem do outro. Dito isso, no duelo entre Flamengo e São Paulo, na disputa do título da Copa do Brasil, eu torço para dois amigos: Dorival Júnior e Muricy Ramalho.
Esses dois representam a dignidade, a lisura, a transparência e a decência que passam longe do futebol atual. Convivi com dois grandes caras, que me ensinaram muito sobre futebol: Telê Santana e Carlos Alberto Silva, éticos, competentes e transparentes ao extremo.
Muricy e Dorival são a cópia deles, tanto na qualidade quanto no caráter. Muricy foi discípulo de Telê, e ontem, antes do jogo, mandei uma mensagem para ele, prontamente respondida, me agradecendo as palavras. Dorival também me respondeu e eu disse que torcia por ele, principalmente pela covardia que a diretoria do Flamengo fez com ele.
Escrevi essa coluna antes do primeiro jogo decisivo, por isso, não me atenho ao resultado e sim ao caráter dos personagens da mesma. Dorival é sobrinho de Dudú, grande meio-campista do Palmeiras, que formava dupla com o “Divino” Ademir da Guia. Por isso mesmo, além de grande caráter, é um treinador com T maiúsculo. Atual campeão da Copa do Brasil e da Libertadores.
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Se for campeão, domingo que vem, no Morumbi, se igualará a Mano Menezes, único bicampeão da competição, consecutivamente, em 2017/18. E se tem um cara que merece isso, esse cara é Dorival Júnior. Pegou o São Paulo “terra arrasada” e o levou à final da Copa do Brasil. Assim como fez com o Flamengo, ano passado.
Sei que a Justiça dos homens é falha, mas a divina, jamais. Dorival será campeão não para se vingar dos dirigentes rubro-negros, pois ele não tem esse sentimento mesquinho, mas sim para provar cada vez mais sua qualidade e conhecimento de futebol. Ele, sim, merecia ser o técnico da Seleção Brasileira.
Muricy Ramalho é meu amigo há uns 10 anos. Eu não gostava dele e disse isso na cara dele em um jantar com Galvão Bueno e outros amigos, no Lellis Tratoria. Ali fizemos uma amizade verdadeira e sincera, que nos faz trocar mensagens e falarmos sempre.
No dia seguinte ao jantar, viajamos para Lima, para um jogo da Seleção. Fomos conversando no avião. Assim como eu, ele é da escola Telê Santana e isso nos aproximou ainda mais. Muricy é tetracampeão brasileiro, pois tiraram o título dele em 2005, quando não marcaram aquele pênalti escandaloso em Tinga, do Internacional, vocês se lembram? Ele seria pentacampeão, mas os erros crassos da arbitragem brasileira mudaram o destino de muitas taças e muita gente.
Sempre digo que não vejo venalidade nos que erraram, mas ruindade mesmo. Mas isso é passado e a história não vai mudar. O que vale é que, 18 anos depois, aí está Muricy como diretor técnico, em mais uma final na sua carreira, ao lado do amigo Dorival. Dois grandes homens, dois grandes técnicos e, acima de tudo, dois grandes caracteres. Sim, é assim que se escreve, pois deriva da palavra character (latim). Obrigado Muricy e Dorival por existirem, o futebol precisa de mais gente como vocês.