Quando voltava para casa, no último sábado (5/3), Carol*, de 35 anos, foi agredida por três homens e teve a bolsa com R$ 150 roubados em Poços de Caldas, no Sul de Minas. A notícia já seria triste de ser dada hoje, quando ‘celebramos’ o Dia Internacional da Mulher. Mas, ganha outro contorno, quando ela está internada na Santa Casa de Poços de Caldas, aguardando para passar por uma cirurgia no nariz, quebrado durante a violência que sofreu. E agrava: Carol é uma mulher trans.
Feliz Dia da Mulher para quais mulheres?
Quais corpos têm o direito de celebrar a data e, sobretudo, de existir nesta e qualquer outra data?
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Por que você anseia pelo combate às pessoas gordas? O dia em que meu psicanalista morreu Vai mulher, reage! Bota um cropped Como o luto me transformou numa pessoa (ainda mais) patéticaA importância do fracasso para que possamos existir É sobre isso e não tá tudo bem!E quem é que caminha com a gente?
Já reclamei exaustivamente, nesta coluna, sobre como tenho estado exausta. Sou uma feminista não só fracassada, mas exausta. Estou absolutamente exaurida de, diariamente, ver as ‘manas’ no seu ar condicionado e home office disparando frases de efeito e brigando pra saber quem é mais feminista que quem, rasgando cartilhas - e com elas, muitos direitos - e numa queda de braço infrutífera se são feministas liberais ou radicais.
De um lado, as reclamações de ‘não me dê rosas’ e do outro, mulheres cujos corpos nunca acessaram afeto e que nunca receberam uma rosa, nem mesmo no emprego, haja vista que são excluídas e preteridas do mercado de trabalho.
Enquanto isso, a Carol não conseguiu chegar em casa depois do trabalho no sábado. E ela não é a única.
Porém, trazendo pra perto, é doloroso demais pensar que uma mulher foi encontrada, por populares, machucada, com sangramento na cabeça e dores nas costelas, agonizando, sem conseguir, sequer, comunicar aos policiais militares a violência que havia sofrido.
Somente depois de ser socorrida pelo Samu e hospitalizada é que conseguiu contar que foi seguida por três homens, que saíram de um matagal e a agrediram. Inicialmente, os homens jogaram-lhe uma pedra na cabeça e, em seguida, mais pedras por todo o corpo. Por fim, lhe agrediram com socos e chutes, enquanto ela estava caída no chão.
Além disso, os homens que a agrediram levaram a bolsa dela com R$ 150,00 dentro e fugiram, não tendo sido encontrados até o momento em que esta coluna era escrita.
Dia de qual mulher?
Sobre a data, acho importante ressaltar que é possível dar flores e respeito! Ano após ano, repito o discurso da ativista abolicionista Sojourner Truth e questiono: e eu não sou uma mulher?
Para além disso, é preciso que esta seja uma causa de todes: as comemorações no seu dia a dia, na sua empresa, no seu bairro, na sua cidade, no seu cotidiano, incluem as mulheres trans e travestis?
A sua luta pessoal inclui estas pessoas? O que você faz, no seu dia a dia, para evitar que pessoas como a Carol sejam agredidas voltando do trabalho?
Encerro, com mais perguntas que respostas e espero que, de alguma forma, nesta data, possamos refletir sobre de quem falamos, de quem cuidamos e, sobretudo, a quem nosso feminismo protege?
*nome trocado para preservar a identidade da vítima