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Lula candidato em 2022. Polarização à vista?

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Há uma extrema direita no país? Inegável: Bolsonaro e o bolsonarismo. Há uma extrema esquerda no país? Houve, há muitas décadas, em tempos da “Guerra Fria”: o guevarismo ou as vanguardas armadas revolucionárias em luta desigual contra a ditadura militar.



À época, ditadura e guerrilhas imaginavam-se enredados em um dilema: “revolução” versus “contrarrevolução”, em guerra total, permanente, até a destruição do outro, segundo a máxima “O fuzil comanda a política”.

A grande excluída pelos extremos triunfaria sobre ambos: a democracia. Todos acompanhamos as eleições presidenciais americanas recentes. O partido Republicano e o Democrata polarizaram a disputa. Polarização significa, necessariamente, disputa entre extremos? Trump é, patentemente, um extremista que ocupou-se, dia a dia, de usar o poder para amesquinhar e ameaçar a democracia. Já que houve forte polarização, então Biden seria um extremista?

Os empresários, as mídias, os partidos das direitas democráticas (PMDB, DEM, Novo) e os de centro-esquerda como PDT, PV, Rede, Cidadania e PSB sabem que Lula é o social-democrata que o PSDB não consegue ser, um líder democrático de centro-esquerda reformista, moderado, negociador. Tem, adquirida, a paixão pela política. Entretanto, a comprovada moderação política de Lula carrega dentro de si o sentimento social do compromisso com o fim da pobreza, da exclusão.

Em Bolsonaro, o fascismo o impregna. Em Lula, a paixão social vem da alma e da biografia. Provavelmente seja o único líder nacional que reúne em si essas duas paixões. A primeira delas é mais moderada; a social, mais visceral e moralmente exigente. Seus sentimentos foram assim educados: acima de tudo, o combate às desigualdades.





O Chile, exemplo de tensões, revezamentos, resoluções e superação, reunirá, em abril próximo, uma Assembleia Nacional Constituinte pura ou não congressual, sendo os constituintes 50% de mulheres e 50% de homens. Irão escrever e aprovar a nova Constituição do país. A ideia fundadora dessa Constituinte é o combate às desigualdades, que minam, em um país, o espírito comunitário indispensável à paz, à coesão e à tolerância.

O resultado será a passagem daquele país de uma era de neoliberalismo e de reformismo fraco, que viu as desigualdades aumentarem a um ponto de ruptura, ao reformismo forte, sem estatização, mas com tributação progressiva sobre a renda individual, fonte dos novos recursos que irão garantir a previdência social para todos (o modelo privatista faliu), amplo acesso dos jovens à universidade e uma espécie de SUS, lá inexistente! Chile: capitalismo e social-democracia!

É o que Lula é: social-democrata. Lula sabe que o PT deve ao país uma autocrítica corajosa. A corrupção praticada deverá ser investigada e seus autores materiais, diferente de presumidos acusados sem prova, punidos, observado o devido processo legal. O Brasil precisa da Operação Lava Jato. A legalidade e a decência dispensam e repugnam o “lava-jatismo” de cartas marcadas. No caso de Lula, a vara da Justiça federal em Brasília se incumbirá de reabrir os processos e de decidir sobre a pertinência das acusações que pesam sobre ele. O Supremo devolveu a Lula o direito pleno de cidadania, logo, também de disputar eleições.

Pacificação do país? Sim. Contudo, passa pela derrota do projeto de dominação fascista da extrema direita. Passa pela luta política, senão será capitulação. Portanto, a polarização Lula versus Bolsonaro e barbárie é rigorosa e pedagogicamente indispensável. Se o “centrismo” deseja apresentar-se como alternativa, bem-vindo.





Que apresente um argumento distante da fábula da “polarização”. Pois uma coisa é a polarização, que torna cristalinas as posições em disputa, oferece a oportunidade da análise comparada, educa para o discernimento e robustece as escolhas. Outra, uma eventual candidatura reivindicar-se de “centro” em nome da “pacificação” versus a “polarização”, acusando, sem distingui-los, ambos os polos da disputa de “extremismos”. Polarização não é guerra, ainda que Bolsonaro queira fazer política como quem guerreia.

Olhem a eleição do presidente Biden! A política é um construtivismo, é um possibilismo demarcado por ideias, valores e projetos em disputa, debate e construção de interações. Senão seria nada mais que o pântano do oportunismo.

* João Batista Mares Guias é sociólogo, ex-secretário de Educação de Minas Gerais e consultor em educação








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