A partir de 1o. de janeiro de 2022, a velhice será tratada como doença pela Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID) da OMS (Organização Mundial da Saúde), sob o código MG2A.
O código CID é mundialmente usado por médicos e outros profissionais da saúde para determinar e classificar doenças, assim como sintomas, sinais, queixas, aspectos anormais, causas externas e circunstâncias sociais para doenças ou ferimentos. Tudo isso permite um melhor diagnóstico e um tratamento mais ágil e eficaz para o paciente.
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Preconceito é caretice: basta de piadas e comportamentos racistasCabelos grisalhos: mulheres assumem o envelhecimento com naturalidadeJuventude reversa: um novo tempo chegou e a cor do cabelo é prataDoar é a felicidade de dividir o que se tem e não o que se sobraNa semana do dia mundial do rock, qual seu estilo de música favorita?Essa decisão da OMS, para aqueles que entendem que a velhice é uma etapa da vida e jamais poderia ser considerada uma doença, é ofensiva, simplista e acarretará implicações em diversos setores, além de contribuir na perpetuação do ageísmo (etarismo ou idadismo) - discriminação de pessoas pela idade particularmente com os dos idosos.
Em políticas públicas de saúde as causas de mortes reduzidas ao código CID de velhice, poderá mascarar a doença principal que realmente causou a morte. Corre-se o risco de muitas doenças hoje relacionadas ao envelhecimento como Alzheimer, Parkinson, derrames, osteoporose, entre outras, desaparecerem nas estatísticas, já que seus portadores já estarão doentes de velhice apenas como velhice. Isso afetará o monitoramento da incidência e a prevalência de doenças nas diferentes regiões do país, afetando o SUS (Serviço Único de Saúde) e contribuindo na piora das condições de vida e bem-estar da população.
Se a variação de valores dos planos de saúde por causa da mudança de faixa etária já nos espanta, posso imaginar o aumento abusivo dos preços acrescido da classificação “doença”. E como os interesses econômicos são enormes na indústria do antienvelhecimento, é melhor já irmos nos preparando para a avalanche de produtos e serviços para a “cura da velhice”, a utopia da juventude eterna narrada em Shangri-lá.
Me pergunto se serão reconhecidos por países como de doentes os muitos países europeus e o Japão, - hoje considerados exemplos de longevidade - , ou mesmo o Brasil, que até 2030 terá a quinta maior população idosa do mundo até 2030, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Meu pai, aos 95 anos, pode ser é muito idoso e provavelmente morrerá de velhice, mas não por um rótulo adquirido aos 60 anos, idade que poderá ser estipulada como início da doença “velhice”. Ele se alimenta bem, lê o jornal diariamente e se exercita na em sua bike fixa (pedalette Monark) todos os dias. As suas doenças são crônicas, hipertensão, colesterol alto e diabetes. São enfermidades tratadas, não foram adquiridas durante a celebração de seus 60 anos.
Há um vídeo muito difundido nos grupos de Whatsapp que explica bem a diferença entre velho e idoso. A lição desse vídeo é: não sejamos velhos. para jamais sermos velhos, pois o “idoso” é quem tem o privilégio de viver uma vida longa, que sonha, que ainda aprende, tem planos e crê que a vida se renova a cada dia. Já o “velho”, segundo o vídeo, é aquele que perdeu a sua jovialidade, apenas dorme e não se interessa pelo aprendizado pela aprendizagem, se basta com o que sobrou e vive de saudades.
Particularmente prefiro ser chamado de velho a ser chamado de idoso. Até porque estou acostumado a escutar os jovens de meu convívio se referirem uns aos outros de “veio”. Velho é mais simpático, me soa melhor o que é mesmo sendo contraditório.
#velhicenãoédoença
P.S. Obrigado pelas inúmeras contribuições recebidas nesses últimos 15 dias sobre o tema hoje. É um prazer interagir com vocês.