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A última cartada do Cruzeiro pela sobrevivência na Série A

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Agora não tem mais jeito. Não haverá segunda chance, não haverá outro dia ou outro jogo. Não há margem para erro. Não é possível mais adiar. Não há tempo sequer para remoer direito a derrota para o Grêmio, nessa qinta-feira, por 2 a 0, em Porto Alegre, com todos os elementos dramáticos que ela teve. É preciso sacudir a poeira, não existe outra saída. Na roleta-russa que foi a temporada de 2019 para o Cruzeiro, é chegada a hora da última bala na agulha. É acertar o alvo e permanecer na elite do Campeonato Brasileiro ou sucumbir perante o maior pesadelo do torcedor celeste: o inédito rebaixamento para a Série B.



Abatida depois do revés na capital gaúcha, a Raposa buscará a sua ressurreição na partida contra o Palmeiras, domingo, no Mineirão. Será a cruzada final. Noventa e poucos minutos que resumirão as 38 rodadas daquela que se configura como a pior campanha cruzeirense na Primeira Divisão, com todos os seus muitos erros. A tarde de 8 de dezembro de 2019, no Gigante do Pampulha, marcará o ápice da dicotomia. Um desfile de antônimos. O tudo versus o nada. O céu contra o inferno. O alívio se contrapondo ao abismo. A redenção num duelo quase cerebral com o martírio.

Uma coisa é certa: depois de tantos erros, a chance de renascimento virá. Ela sempre vem, para todos, em qualquer circunstância. Dentro e fora dos gramados. Resta saber de que forma será, pelo bem ou pelo mal. Sem dúvida, um processo doloroso. O torcedor sentirá na pele – já sente, na verdade. Reconhecer falhas é difícil. Admitir decisões equivocadas exige coragem. Para acolher a imperfeição é preciso grandeza de alma.

Outra coisa que é certa: depois de tudo o que viveu neste ano, o cruzeirense não será mais igual, independentemente do desfecho. Jornadas tortuosas não passam sem deixar cicatrizes. Até porque o que o clube celeste (sobretudo enquanto instituição) viveu não começou em janeiro e nem vai se encerrar em 31 de dezembro. A história continua sendo escrita. O roteiro da maior crise já atravessada pelo Cruzeiro em seus 98 anos de fundação não se resume a esses 12 capítulos de 2019.



Contra o Palmeiras, o time comandado por Adilson Batista não tem outra opção que não seja apostar todas as suas fichas, lutar pela bola em cada palmo do campo, correr até quando não houver mais fôlego. Entre mortos e feridos, quem se salvará, se o time se salvar? Poucos, muito poucos. Dá para contar nos dedos de uma só mão. E é bom frisar que não haverá vencedores, heróis ou salvadores da pátria. Se escapar da queda, a Raposa não terá alcançado um feito. Terá conseguido um perdão dos deuses do futebol, um ato de complacência, quiçá uma gentileza reservada a poucos. Mas não apagará os passos que levaram o time até aqui. Não pode apagar.

Se escapar agora e continuar com a estrutura viciada – principalmente em termos de gestão –, 2019 servirá só de aviso, ensaio e aquecimento para a derrocada. O ano de 2020 poderá chegar como um rolo compressor. É possível ser pior? Claro! Nada é tão ruim que não possa piorar, e o Brasil atual está aí para provar.

Agora, se aprender com os erros (e os torcedores que não se iludam com paladinos da justiça de última hora), o Cruzeiro tem chance de se reerguer e deixar o 2019 como um ponto fora da curva, fato isolado, tempestade que passou para limpar o céu.



Pedir o apoio da torcida a esta altura do campeonato é dífícil. Contudo, acredito que os cruzeirenses estarão lá. Para quem não acompanha futebol chega a ser incompreensível. Mas quem gosta desse esporte bretão sabe. Torcedor tem para com o time do coração um sentimento quase de mãe por filho. Vê os erros, se entristece, indigna, mas não sai do lado dele, ainda mais no momento do aperto. Depois, aí sim, puxa a orelha.

Quis o destino que esta última partida do Cruzeiro fosse em BH. Contra um Palmeiras contra quem protagonizou momentos de glória. Diante do olhar de sua apaixonada torcida. E esteja certo que ela estará lá, estendendo a mão e empurrando a equipe enquanto houver esperança. Com fé no impossível. Até o último chute. Até o apito, de fato, final.