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Em 2020, um novo torcedor para um novo Cruzeiro

Cada jogo vai exigir da torcida um novo posicionamento, ao qual ela não estava habituada. É descer de patamar. Exercitar a humildade


31/01/2020 04:00 - atualizado 14/01/2021 19:29

A torcida celeste terá de deixar em stand by a expectativa por título e mudar seu olhar para a equipe, diante da nova realidade do clube(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
A torcida celeste terá de deixar em stand by a expectativa por título e mudar seu olhar para a equipe, diante da nova realidade do clube (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)


O primeiro mês do ano chega ao fim e já é possível tirar uma conclusão que vale para a temporada inteira: 2020 vai ressignificar a relação do torcedor do Cruzeiro com o time. Os jogos iniciais no Campeonato Mineiro mostram que, neste ano, o cruzeirense será obrigado a mudar seu olhar para a equipe – pelo menos e essencialmente neste momento. A torcida, a partir de agora, não é por títulos. Essa expectativa terá de ficar em stand by. A torcida é pela sobrevivência. E é preciso muita disponibilidade de espírito para passar por essa transmutação.

Isso porque, ao longo das últimas décadas, os torcedores celestes se acostumaram a começar cada temporada listando em quais competições o time brigaria por taças. São gerações inteiras formadas com esse limiar alto de expectativa e, consequentemente, com um elevado nível de cobranças para que seu desejo se concretizasse.

Houve um tempo em que o Campeonato Brasileiro foi a meta, até que veio o bicampeonato de 2013/2014. Aí, a obsessão passou a ser quebrar o jejum na Copa Libertadores, e o torneio internacional virou a menina dos olhos. Para tais missões, times formados à base de jogadores renomados e muito dinheiro.

Corta para 2020. Um clube quebrado. Sem dinheiro para bancar despesas básicas. Com débitos milionários a ameaçar sua existência. Precisando resgatar a crebilidade no mercado. Contexto que obriga a uma mudança de rumo radical, que se reflete essencialmente em quem enverga a camisa azul em campo.

Nesse cenário, o conceito de vitória muda. Não está mais relacionado a um objetivo imediato, muito menos a taças. O sentido é muito mais atemporal. As vitórias celestes serão contabilizadas a cada folha de pagamento cumprida, a cada aumento de receita.

O grande troféu será o reequilíbrio da vida financeira do clube, que permitirá o reequilíbrio do clube em si. Como isso será alcançado administrativamente é uma discussão. Como o torcedor terá de se comportar nesse período é outra totalmente diferente. E é dessa última parte que estamos tratando aqui.

Cada jogo desse novo Cruzeiro vai exigir da torcida um novo posicionamento, ao qual ela não estava habituada. É descer de patamar. Exercitar a humildade. Criar um novo elo, possivelmente mais forte, forjado por uma dificuldade jamais vivida no âmbito celeste.

As primeiras partidas da Raposa no Mineiro, com um time composto em sua maioria por atletas da base, muitos deles em sua primeira experiência efetiva no grupo profissional – e todas as dificuldades que essa conjuntura naturalmente impõe –, foram o exemplo mais evidente de como essa alteração no ponto de vista será necessária. De como a torcida celeste terá de compreender e apreender a realidade atual.

Essa nova realidade pede mais tolerância com a equipe. Pede mão estendida. Condescendência com erros. Aceitação. O cruzeirense terá de ser, acima de tudo, solidário com o time, dentro da concepção atual de time. De um time possível dentro do que é o Cruzeiro hoje.

Ninguém quer passar por uma Série B do Brasileiro, o que dirá passar pela Segunda Divisão com uma situação em vias de falência, como ressaltaram vários dos conselheiros celestes que dissecaram as entranhas do clube após a saída do então presidente Wagner Pires de Sá.

Mas essa é uma fissura que precisa ser recuperada, fechada. Ao torcedor não há outra opção que não seja abraçar a equipe, ainda que seja uma equipe que não brigará por títulos. O ato de torcer na forma mais literal, mais genuína. Sem segundas intenções.

Em 8 de dezembro do ano passado, quando o Cruzeiro caiu, foram muitos os relatos de torcedores que cancelaram o pay-per-view, queimaram camisas e juraram nunca mais gastar dinheiro com o time, nem sequer voltar a campo para ver a Raposa jogar. Todo mundo ouviu algum relato assim.

Pois o “nunca mais” de muitos deles durou pouco mais de um mês. Quando começou a venda do novo uniforme, lá estavam na loja oficial, adquirindo a camisa de grife.

Não é difícil compreender. Assim funciona a paixão. Na mesma velocidade em que promessas são feitas, elas são quebradas. No futebol, então, muitas vezes o ódio e o amor estão separados apenas por uma bola na rede.


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