O episódio envolvendo o homem que se veste como mascote do Atlético e a jogadora Vitória Calhau reacendeu uma discussão que é muito necessária e não pode se encerrar com o vídeo feito pelo Atlético, com um pedido de desculpas à jogadora, ao time feminino e à sociedade. Pelo contrário.
Tudo o que aconteceu desde aquele condenável gesto de assédio do homem para com a atleta, no domingo, demonstra como é necessário falar mais sobre o assunto. Explicar quão nocivo é o machismo. Esclarecer, quantas vezes forem necessárias, o verdadeiro conceito de feminismo – especialmente para quem insiste em imputar um sentido pejorativo ao termo.
Diante de tantas atrocidades dirigidas a mulheres nos últimos tempos, urge ampliar o debate, para demonstrar a necessidade do movimento que luta pela igualdade entre os gêneros.
“Nossa senhora, parece que o coitado do mascote estuprou, esquartejou e ocultou o cadáver da muié. Uma brincadeira que foi problematizada e mimimitizada através dos lacradores nas redes e prog esport, a 'vítima da brincadeira”'se jogando na vitimização e histeria sem sentido”, escreveu o usuário Felipe (@felipenine).
Na mesma linha, Gabriel Silva (@BielSiilva1904) “indagou”: “O galo doido espancou a moça foi? Kkkk meu deus hoje em dia é muito mimimi, daqui uns dias temos que primeiro pedir desculpas por ser homem”.
Maria Isabel Aliança pelo Brasil (@misabelmelo1) escreveu: “Ridiculo Atletico obrigar funcionário escrever carta pedindo perdão por falta que ele não cometeu isso sim é assédio tomara que esse funcionário um dia processo o galo por esse absurdo como torcedora deixo meu repudio a diretoria e a essa porcaria de time feminino”.
Não pode ser passada aos 15 mil torcedores que estavam no Mineirão e a tantos outros que acompanharam a cena de longe – entre eles, crianças – a mensagem de que é natural esse tipo de olhar sobre a mulher, esse tipo de atitude e de comportamento.
Os desdobramentos do machismo, as consequências nefastas que chegam a agressões físicas e feminicídio começam assim.
A coleção não contemplava artigos de beachwear, não havia homens de sunga na passarela, nada justificava a presença feminina naqueles trajes, a não ser, claro, a exposição do corpo das modelos. O único contexto era o da objetificação.
Não faltaram torcedores associando as críticas às feministas (obviamente, deslegitimando a causa), considerando “mimimi” o barulho causado nacionalmente e até colegas jornalistas afirmando não se tratar de machismo ou exposição gratuita das mulheres. Foi exposição gratuita sim. Foi machismo.
A parte mais importante do vídeo divulgado pelo Atlético foi a declaração de Vitória Calhau reafirmando quão errado foi o comportamento do homem vestido de mascote, diante dele, ainda que aceitasse as desculpas.
O Atlético (e outros clubes) poderiam aproveitar a ocasião para um trabalho interno e externo sobre o machismo. Sem teatralização. Com a palavra de psicólogos, de especialistas sobre o assunto.
Só assim há esperança de que realmente as lições de mais um triste episódio tenham sido aprendidas.