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O problema do Atlético não era só Dudamel

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Uma derrota acachapante como a dessa quarta-feira, para o Afogados, que custou ao Atlético a continuidade na Copa do Brasil, não vem impunemente, nem tampouco se vai sem deixar profundos estragos. O primeiro a sofrer, como sempre, é o treinador. Mas, no caso alvinegro, tão importante quanto analisar as consequências da eliminação seja refletir sobre o que levou o time a passar por tal vexame histórico. E essa conta não pode ser paga apenas por Rafael Dudamel. Demiti-lo era a saída mais fácil – e mais rasa. Atende a quem não quer discutir, verdadeiramente, o problema. A quem se contenta com atitudes midiáticas. E muitos torcedores já começaram a perceber isso.



A dispensa de Dudamel entra como parte de um círculo vicioso em que o Galo se meteu nos últimos anos. Somente na gestão de Sérgio Sette Câmara como presidente, iniciada oficialmente em janeiro de 2018, o venezuelano é o sexto treinador demitido. Para não dizer que nenhum técnico contratado pelo atual mandatário cumpriu o vínculo até o fim, faz parte da lista Vágner Mancini, que chegou como tampão em outubro do ano passado, somente para acompanhar a equipe na reta final do Campeonato Brasileiro.

Pense bem: num espaço de pouco mais de dois anos, o Atlético passou pelas mãos de seis treinadores, cada qual com um estilo diferente. Ou alguém vê um fio condutor a unir Oswaldo de Oliveira, Thiago Larghi, Levir Culpi, Rodrigo Santana, Vágner Mancini e Dudamel? Padrão tático? Convicção técnica? Não, foi conveniência mesmo. Quem estava disponível e/ou disposto a assumir.

Nenhum deles conseguiu fazer trabalho consistente. Quem mais se aproximou disso, curiosamente, foram os menos cotados, os interinos, que, depois de efetivados, acabaram durando pouco no cargo: Larghi e Santana. Os demais, principalmente, chegaram com a promessa de trabalho pelo menos a médio prazo, mas sucumbiram diante dos maus resultados. Nada mais natural quando não há certeza do caminho a seguir. Porque quando há segurança, não se abre mão tão facilmente.



As escolhas para o cargo de diretor de futebol, nesse período, também seguiram essa (in)coerência: Alexandre Gallo, Marques e Rui Costa. E, num efeito dominó, as escolhas que eles fizeram para a composição do grupo atleticano desde então. Contratações caras e equivocadas, que chamaram a atenção mais pela quantidade do que qualidade. Exemplos e mais exemplos de prejuízo financeiro e técnico. Os fracassos dentro de campo nas últimas temporadas escancaram isso.

O ponto de intercessão disso tudo é um só: o presidente. Não dá como jogar para debaixo do tapete. É de Sette Câmara a responsabilidade maior pelo desempenho do time nos últimos anos. Não dá para terceirizar a culpa sempre. O atacante Di Santo foi incompetente? Sim, mas mais ainda foi quem o contratou. O diretor de futebol foi incompetente ao buscar Di Santo? Sim, mas mais ainda foi quem o contratou. Em última instância, quem responde pelos erros precisa ser o presidente.

A 10 meses do fim de seu mandato, Sette Câmara tem de recomeçar do zero. Buscar um diretor de futebol. Buscar um treinador. Duas tarefas que não serão fáceis. Tanto pela questão de mercado quanto pelo retrospecto do presidente alvinegro. Desde que o Atlético precisou de um comandante após a saída de Oswaldo de Oliveira, a missão se mostrou árdua. As recusas de treinadores, em todos os momentos, foram muitas. Ou alguém já se esqueceu das negativas de Rogério Ceni, Tiago Nunes, Cuca e Fábio Carille, entre outros? Nesses casos, quando havia alguma solução caseira, assim o dirigente o fez. Agora não há.



Além de encontrar um técnico que aceite assumir o Galo dentro de todo esse contexto – Mano Menezes já teria declinado o convite, numa demonstração de que, mais uma vez, haverá dificuldade –, o Atlético precisa de alguém para encontrar um time. Hoje, são amontoados de jogadores. Alguns nem sequer estrearam com Dudamel.

Obviamente que o trabalho do venezuelano estava à altura de todas as críticas recebidas. Ele insistia em nomes improdutivos e errava muito nas substituições. Informações dão conta de que o estilo disciplinador também encontrava resistência no grupo. Contudo, quem o contratou devia saber onde estava entrando ao apostar em um estrangeiro que tinha pouca experiência em clubes de futebol e que fez sua carreira na Seleção da Venezuela. Era previsível que ele precisaria de mais tempo para implementar sua ideia. Analisar todos esses fatores faz parte do trabalho de quem está no meio.

Ao mandar Dudamel embora depois de 40 dias de trabalho e apenas 10 jogos, o Atlético mostra que nunca confiou de fato no potencial do treinador. Foi apenas mais uma escolha equivocada entre tantas.