A semana foi marcada por um curioso e casual contraponto no mundo esportivo. Dois multicampeões, admirados mundo afora, que tiveram posturas bem distintas quanto a questões sensíveis que vêm sendo debatidas intensamente nos últimos meses. De um lado, o piloto de Fórmula 1 Lewis Hamilton, engajado na luta antirracista. De outro, o tenista Novak Djokovic, que, em meio à pandemia do novo coronavírus, promoveu um torneio filantrópico em sua terra natal, os Bálcãs.
O primeiro foi às ruas em Londres, como reles mortal, empunhando cartaz do movimento Vidas pretas importam. O segundo acabou contaminado pela COVID-19.
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Mas quando a figura pisa na bola, como ocorreu com Djoko, os feitos esportivos acabam, de certa forma, manchados. O encantamento perde um pouco o brilho.
O piloto da Mercedes depois comentou: “Fiquei muito orgulhoso de ver tantas pessoas de todas as raças e origens que apoiam esse movimento. Tive orgulho de estar lá, reconhecendo e apoiando o movimento Black Lives Matter e minha herança negra”.
Aí, a gente chega ao sérvio Novak Djokovic. Também de infância humilde e que venceu na vida por meio do esporte. Um cara extrovertido, que embora não tivesse a popularidade de um Roger Federer ou de um Rafael Nadal no circuito, se enturmava. E que viu sua credibilidade entrar em queda livre ao desafiar o novo coronavírus.
Enquanto o mundo tentava estancar o contágio por meio do isolamento, ele promoveu um torneio, o Adria Tour, sem nenhuma regra de segurança ou distanciamento. Arquibancadas cheias, nada de máscara, abraços entre os competidores antes e após os jogos. Houve até festa em uma boate sérvia.
Daí não ter sido surpresa quando começaram a pipocar as notícias de contaminados: Djokovic e a mulher, Jelena, além dos jogadores Borna Coric, Grigor Dimitrov e Viktor Troicki. A esposa de Troicki, Alexandra; o técnico de Dimitrov, Christian Groh; e o preparador físico de Djoko, Marko Paniki também pegaram a COVID-19. E sabe-se lá quantos mais.
Ao promover o torneio, Djokovic não teve, para dizer o mínimo, responsabilidade, sobretudo com seus fãs - já que os outros atletas que participaram o fizeram por livre e espontânea vontade. Ele expôs ao risco de serem contaminados crianças, jovens, adultos e idosos. Muitos estavam ali por confiança e devoção ao tenista. O ídolo.
A Djokovic restou um pedido público de desculpas. “Tudo o que fizemos foi com coração puro e intenções sinceras”, disse, também orientando quem esteve nas etapas de Belgrado (Sérvia) e Zadar (Croácia) a realizar exames para a detecção do vírus e praticar o distanciamento social. Djokovic ainda prometeu oferecer recursos de saúde para as duas cidades.
Mas o tenista número 1 do mundo já havia demonstrado uma postura negacionista da ciência ao indicar, em abril, que poderá se opor à obrigatoriedade de atletas se vacinarem contra a COVID-19 para disputarem torneios.
Pouco tempo depois, compartilhou em suas redes sociais a ideia de que, por meio de orações, seria possível transformar alimentos tóxicos ou água poluída em soluções curativas.