De antemão, é bom destacar: a eficiência dele como técnico não deve ser atrelada tão somente à propalada vitória sobre o Corinthians por 1 a 0, no Itaquerão, na quarta-feira, pela Copa do Brasil.
Desde que chegou ao América, no início do ano, para substituir Felipe Conceição, Lisca tem mostrado serviço. A regularidade da equipe sob o comando dele é visível, marcante até.
Essa história começou lá atrás, já no Campeonato Mineiro. O time americano foi sendo encorpado, técnica e taticamente, ao longo desse período, e o resultado é o que estamos vendo aí: a boa campanha na Série B do Campeonato Brasileiro, da qual é vice-líder e um dos candidatos ao acesso, e a vantagem sobre o Corinthians nas oitavas de final da Copa do Brasil.
O jogo contra a equipe paulista é um capítulo, sim, a ser enaltecido, sobretudo pelas circunstâncias, mas não se encerram nele os méritos de Lisca. E olha que foram muitos.
Mas vamos respeitar a cronologia da semana para listar os motivos de o treinador do Coelho merecer o posto de principal personagem do futebol brasileiro dos últimos dias.
Essa retrospectiva começa no sábado, quando o América conquistou a quinta vitória seguida na Segunda Divisão, ao bater o Confiança por 2 a 1, no Independência.
Naquela noite, o Coelho ampliava para oito sua sequência de partidas invictas no campeonato. O time sergipano, bom frisar, vinha de seis jogos sem derrota e vendeu caro aquele revés.
De alto-astral e com moral elevado, o treinador logo tratou de aproveitar o momento para mandar um recado bem-humorado para a diretoria do Coelho a respeito de uma renovação contratual – ressalte-se, com toda razão.
Bem naquele estilo maroto dele, soltando uma sonora e doida gargalhada no final, Lisca passou a mensagem. Se havia um momento adequado para que ele fizesse isso, era agora mesmo.
Os dirigentes do América deveriam aproveitar a deixa e também tratar o assunto com a seriedade e a leveza que ele merece. Afinal, não é por acaso que a equipe tem desempenhado um bom papel. Também não é aleatoriamente que o técnico tem atraído o interesse de times como Cruzeiro e Coritiba.
Lisca recusou sondagem de ambos, alegando que tudo tem a hora certa e respeito ao vínculo assinado com o Coelho, válido até fevereiro do ano que vem, quando se encerram as competições nacionais.
Em entrevista em rede nacional na véspera do duelo em São Paulo, o treinador arrancou elogios e mais elogios de colegas da imprensa, que destacaram, entre outras coisas, a lucidez das análises feitas por ele sobre o momento do futebol brasileiro, a presença de técnicos estrangeiros e o duelo com o Corinthians.
A racionalidade com que Lisca tratou essas questões foi muito comentada nas redes sociais.
Aí veio o jogo em si e a reunião de todas as facetas dele: doida, carismática e competente. Um indício disso foi quando, aos 42min do segundo tempo, Lisca mandou a campo Neto Berola e Marcelo Toscano, e justamente os dois protagonizaram a jogada do gol americano, aos 44.
Quem está no meio do futebol sabe que jogador não gosta muito de entrar nos minutos finais de partida – e os minutos finais, nesse caso, foram no sentido literal. A gana de Berola e Toscano naquele pouco tempo que teriam para atuar foi outro efeito direto do trabalho do treinador.
Esse 1 a 0 histórico sobre o Corinthians não só dá ao Coelho uma bela vantagem na decisão da vaga nas quartas de final, no Horto. Foi mais um atestado de qualidade de Lisca. E uma qualidade que tem desembocado no caixa alviverde.
Somadas todas as etapas da Copa do Brasil, o clube já acumula R$ 7,29 milhões de premiação. Se passar das oitavas, embolsará mais R$ 3,3 milhões. A partir daí, é dinheiro para fazer os olhos de qualquer um brilhar: vaga na semifinal valerá mais R$ 7 milhões e, na final, ao campeão estão reservados R$ 54 milhões e ao vice R$ 22 milhões.
Aí o Lisca, além de doido, carismático e competente, ainda pode se tornar um grande aliado financeiro para o América. Mais do que isso até: um senhor investimento!