Mais de 2 mil brasileiros morrendo de COVID-19 todos os dias – e a tendência é chegar à casa de 3 mil óbitos diários ainda neste mês. Hospitais sem vagas para atendimentos em todo o país, e em Minas Gerais não é diferente. Famílias inteiras apreensivas, temerosas de entrar para a cruel estatística do novo coronavírus. E a bola rolando mansamente pelos gramados brasileiros. Como se o futebol fosse um mundo à parte. Não, não é.
Por isso, mais alguém do meio, além do técnico Lisca, precisa dar o grito. Precisa se indignar. Dar a cara a tapa e encarar o sistema. Não é possível essa passividade diante do cenário tenebroso que o Brasil vive.
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Era a noite de 3 de março. Naquele dia, o Brasil registrava 1.840 mortes em 24 horas. De lá para cá, em menos de 10 dias, 15.588 pessoas perderam a vida – números, segundo os cientistas, subdimensionados, já que a notificação dos óbitos é mais lenta que a mortalidade da doença. Um extermínio impiedoso. E só Lisca se indignou.
Nesta quinta-feira (11/3), o governo de São Paulo anunciou mais medidas para tentar frear a COVID-19. Entre elas, a proibição do futebol no estado até o fim do mês.
Nesta sexta (12/3), o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, concederá uma entrevista coletiva, e a expectativa é de mais restrições na capital.
Não é só a Copa do Brasil que deveria ser suspensa. Não é só o futebol. O esporte, meus caros, tem de parar. No Brasil todo. A morte de milhares de pessoas não pode ser só estatística. Não é possível assistir a esse genocídio sem se incomodar.
É uma das “maiores crises sanitárias e humanitárias do século 21”, como definiu Unaí Tupinambás, infectologista e integrante do comitê de enfrentamento à COVID-19 da Prefeitura de Belo Horizonte. E muita gente ainda não está nem aí.
Dois dias depois do apelo de Lisca, lá na Inglaterra treinadores se mobilizaram contra a liberação de seus atletas para as datas Fifa – jogos das Eliminatórias Sul-Americanas que seriam disputados no fim deste mês foram a principal preocupação, diante do descontrole da pandemia por estas bandas.
O isolamento forçado ao qual os jogadores seriam submetidos na volta ao país e o risco de contrair a doença fizeram Guardiola, do Manchester City; Klopp, do Liverpool, e Solskjaer, do Manchester United, darem o grito.
Como o presidente da Fifa, Gianni Infantino, não conseguiu convencer os clubes europeus a liberar os atletas, nem conseguiu consenso sobre outras manobras (como levar as partidas para países que não restringem a entrada de sul-americanos ou fazer as seleções escalarem só jogadores locais), no sábado (6/3) as Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa do Mundo do Catar foram suspensas. Sem choro nem vela.
Curiosamente, a Copa Libertadores, que também exige trânsito de delegações, continua valendo. Deve ser porque não vai afetar os europeus. Da mesma forma as competições nacionais.
Nessa quarta-feira (10/3), a CBF defendeu a continuidade dos campeonatos organizados pela entidade, amparando-se em um relatório que fez sobre a efetividade do protocolo de segurança e combate à COVID-19.
“O futebol é seguro, controlado, responsável e tem todas as condições de continuar”, disse Walter Feldman, secretário-geral da entidade. Segundo ele, a posição da CBF, das federações e dos clubes é de que o calendário deve ser mantido como “contribuição do futebol e combate à pandemia”. Mais egocentrismo impossível.
Essa visão da CBF é a mesma de quem se apoia em número de recuperados para dizer que a COVID-19 é só uma gripezinha e que a maior parte dos infectados vai passar imune.
Parar o futebol e os demais esportes teria efeito prático e também emocional. Significaria tirar as pessoas de circulação, restringir ao máximo os contatos e, consequentemente, o risco de contágio. Em todo e qualquer lugar. Mostrar que não é normal o que estamos vivendo.
Que mais Liscas apareçam para levantar essa bandeira.