No domingo, um Mineirão vazio vai receber um duelo histórico: Atlético e Cruzeiro entrarão em campo para um clássico centenário – ou quase centenário, para agradar aos preciosistas. Os arquirrivais reeditarão um confronto que teve o primeiro capítulo em 17 de abril de 1921. Portanto, vai faltar uma semana para a marcação exata dos 100 anos. Porém, vamos recorrer a uma licença poética para já tratar a partida como secular, até porque a gente não sabe se haverá outro reencontro neste ano.
A história do primeiro clássico entre Galo e Raposa é bem peculiar. Para início de conversa, foi disputado numa era pré-Cruzeiro: fundado em janeiro daquele ano, o clube atendia pela alcunha de Palestra Itália (ainda se tornaria Ypiranga antes de adotar o atual nome) e levava as cores verde, vermelha e branca. Do outro lado, um já alvinegro “Athletico”.
O jogo, em um Prado Mineiro lotado (para a nossa inveja), terminou com o triunfo “tricolor” por 3 a 0.
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Quem quer jogo de futebol devia pressionar por vacinaPor que especialistas dizem que o futebol brasileiro tem mesmo que pararNo Brasil trucidado pela COVID-19, só Lisca deu a cara a tapa no futebolA primeira lição de Cuca no Atlético: promessa é dívidaAmérica e Cruzeiro têm muito a comemorar na Copa do BrasilE aqui vale um esclarecimento, para registro histórico. O Cruzeiro já era Cruzeiro desde 7 de outubro de 1942, mas a mudança de nome e a troca da cor foram oficializadas somente em fevereiro de 1943, devido a atraso na aprovação do estatuto pela Federação Mineira de Futebol (FMF).
De toda forma, a contagem inicial deste que se tornou um dos maiores clássicos do Brasil remonta a 1921. Se não em corpo, em espírito ali já estavam Galo e Raposa, encarnados em seus antepassados.
Essa disputa que a gente se orgulha em chamar de centenária não é, no entanto, a mais antiga do Brasil. Há uma fila na frente. Para ser mais exata, outros 16 duelos regionais nascidos antes.
A lista começa no Rio de Janeiro, com o clássico Vovô, entre Fluminense e Botafogo – e não é difícil compreender a origem do apelido. Ele é disputado desde 22 de outubro de 1905 e, nesse dia, teve goleada tricolor por 6 a 0.
O segundo da relação é aquele que é apontado por muitos como o de maior rivalidade no Brasil: o Grenal. Em 18 de julho de 1909, os gaúchos se enfrentaram em partida que teve um placar imbatível até os tempos atuais: os gremistas golearam o Colorado por 10 a 0.
Em terceiro lugar, num intervalo de apenas uma semana, vem o confronto que em Pernambuco é chamado de “Clássico dos Clássicos”. Em 25 de julho de 1909, o Náutico derrotou o Sport por 3 a 1.
Em seguida, uma polêmica: o dérbi campineiro entre Ponte Preta e Guarani. Há uma divergência sobre o primeiro duelo. Ele teria ocorrido em 1911, logo após a fundação do Bugre, segundo Sérgio Rossi, dentista e historiador da Ponte Preta (já falecido). A Macara saiu vitoriosa por 1 a 0.
Mas os bugrinos contestam essa versão. Dizem que esse jogo nunca ocorreu, pois não há registros da época para comprovação, apenas testemunhos. Eles indicam como primeiro dérbi o disputado em 24 de março de 1912, e aí vem nova discórdia: segundo Sérgio Rossi, essa partida terminou com placar favorável à Ponte de 4 a 1. Para o Guarani, contudo, não há como atestar o resultado.
Esse disse-me-disse não invalida a contagem geral, que prossegue com o Fla-Flu em quinto lugar: Fluminense 3 x 2 Flamengo, em 7 de julho de 1912.
O sexto clássico mais antigo do Brasil também está na Guanabara: Botafogo 1 x 0 Flamengo, em 13 de março de 1913.
Surge, então, um duelo entre forças paulistas: Santos 6 x 3 Corinthians, em 22 de junho do mesmo ano.
Em oitavo lugar, chegamos à terra das Alterosas, com o Clássico das Multidões. Atlético e América deram o primeiro pontapé inicial em 27 de julho de 1913, com vitória alvinegra por 1 a 0, no campo do Prado Mineiro.
O tradicional duelo do Pará, Remo 2 x 1 Paysandu, em 10 de junho de 1914; e o Clássico Rei de Natal – ABC 4 x 0 América, em 26 de setembro de 1915 –, encerram o top 10.
A partir daí, são seis clássicos antes de finalmente chegarmos ao encontro entre Galo e Raposa.
São mais longevos os jogos entre Santos e Palmeiras (em 3 de outubro de 1915, o Peixe venceu o alviverde por 7 a 0); o confronto recifense entre Sport e Santa Cruz (2 a 0 para o Leão da Ilha, em 6/5/1916); o duelo alagoano entre CSA e CRB – que terminou com vitória do primeiro por 1 a 0 em 7 de setembro de 1916 –; o embate entre Palmeiras e Corinthians, inaugurado com goleada palmeirense por 3 a 0 em 6 de maio de 1917; mais um clássico pernambucano, Santa Cruz 3 x 0 Náutico, em 29/6/1917; e por fim a partida entre Ceará e Fortaleza, vencida pelo Ceará (2 a 0) em 17 de dezembro de 1918.
É muita história em campo, nos quatro cantos do país.