Classificação na Copa do Brasil, como América e Cruzeiro conseguiram nesta semana, não são medidas mais apenas pelo mérito técnico ou tático em campo. Muito menos as análises se encerram no adversário que ficou para trás e no que está por vir.
Desde a edição de 2018 – quando a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) abriu o cofre (impulsionada por um polpudo contrato de transmissão dos jogos com o Grupo Globo) e instituiu uma premiação milionária –, cada avanço de fase é comemorado como um prêmio de loteria. Na prática, chega bem perto disso.
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100 anos de Atlético x Cruzeiro: veja quem mais está nesse clube centenárioQuem quer jogo de futebol devia pressionar por vacinaNo Brasil trucidado pela COVID-19, só Lisca deu a cara a tapa no futebolO cruzeirense precisa acreditar em LuxemburgoAmérica x Cruzeiro: o que você pode esperar do clássico deste domingoLargar no torneio desde a primeira fase, como ocorre com América e Cruzeiro, inclusive pode se transformar num grande negócio. Se um deles se sagrar campeão, terá obtido, ao longo da competição, mais de R$ 73 milhões.
Só o troféu vale R$ 56 milhões. A título de comparação, o próximo prêmio da Mega Sena, que correrá neste sábado, deve chegar a R$ 40 milhões.
A cota nas duas primeiras fases variou segundo o grupo ao qual o time faz parte. Quem é do Grupo I teve direito a R$ 1,15 milhão pela participação na primeira fase e R$ 1,35 milhão na segunda. São os 15 primeiros colocados do ranking da CBF: Flamengo, Palmeiras, Grêmio, Internacional, Athletico, Santos, Corinthians, São Paulo, Atlético, Cruzeiro, Bahia, Fluminense, Botafogo, Ceará e Chapecoense.
Para quem compõe o Grupo II (os outros sete clubes da Série A do Brasileiro: América, Atlético-GO, Bragantino, Cuiabá, Fortaleza, Juventude e Sport), a cota foi de R$ 990 mil na primeira fase e R$ 1,07 milhão na segunda.
As outras 58 equipes que começaram o torneio integraram o Grupo III, que valeu R$ 560 mil na primeira fase e R$ 675 mil na segunda.
A partir da terceira fase, os valores serão unificados, começando por R$ 1,7 milhão. Vaga nas oitavas de final valerá R$ 2,7 milhões, nas quartas R$ 3,45 milhões, na semifinal R$ 7,3 milhões e o vice-campeão embolsará R$ 23 milhões.
Assim, com os dois jogos que disputaram até agora na Copa do Brasil, o Coelho angariou R$ 3,76 milhões e a Raposa, R$ 4,2 milhões.
Lembrando que Flamengo, Inter, Atlético, Palmeiras, São Paulo, Fluminense, Grêmio, Santos (por estarem na Copa Libertadores), Athletico (nono colocado do Brasileiro), Chapecoense (campeão da Série B), Ceará (campeão da Copa do Nordeste) e Brasiliense (campeão Copa Verde) entram a partir da terceira fase.
Esses números fazem brilhar os olhos de qualquer dirigente, mas nem sempre foi assim. A Copa Brasil, tida e havida como a competição mais democrática do país por abrir as portas para clubes de todas as regiões, não chegava nem perto dos valores pagos no Campeonato Brasileiro.
Até que veio a virada econômica e a mudança de status.
O primeiro a sentir isso na pele – ou melhor, no cofre – foi o Cruzeiro. Com a conquista de 2017, após vencer oito fases, a equipe celeste acumulou R$ 13,3 milhões em premiação, contando ainda um bônus de R$ 500 mil de sua patrocinadora máster. Ao campeão coube, na ocasião, R$ 6 milhões.
Já no ano seguinte, novamente dono da taça, o clube viu o upgrade no caixa, com a taça valendo R$ 50 milhões. Somadas as premiações das fases anteriores, o Cruzeiro embolsou R$ 61,9 milhões no total. Aumento de 384%.
Um outro bom exemplo de que chegar longe na Copa do Brasil virou sinônimo de sobrevivência financeira para os clubes foi o América no ano passado.
Com a campanha histórica, ao chegar à semifinal, o Coelho arrecadou R$ 17,6 milhões em premiação. O valor foi três vezes a receita proveniente de cotas de torneios prevista no orçamento de 2020 estabelecido pela diretoria, que planejava receber R$ 5,7 milhões.
Os números do Campeonato Brasileiro mostram como esse incremento na premiação faz diferença. Os três primeiros colocados da última edição, Flamengo, Inter e Atlético, levaram, respectivamente, R$ 33 milhões, R$ 29,7 milhões e R$ 28 milhões.
Esse “incentivo” a mais na Copa do Brasil não apenas fez crescer seu prestígio entre os clubes. O título continua cobiçado, contudo, terminar a participação com a taça não é mais o único objetivo. A meta é chegar o mais longe possível.
É praticamente um campeonato à parte. É sobre quem vai ganhar mais – e não mais apenas sobre quem vai ganhar o troféu.