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Talvez cansadas da realidade, elas decidiram se alienar, amparadas por uma pretensa segurança diante da exigência de testes de COVID-19 a quem fosse ao estádio. Levaram ao pé da letra o lema de viver o presente, sem se preocupar com consequências - ainda que uma delas possa ser a morte. A inconsequência em estado bruto.
A cada cena dessas eu não podia deixar de imaginar como também estariam ali gama, delta, alfa e todas as colegas variantes a passear, escolhendo a dedo um corpo aquecido para acolhê-las.
Seria demais esperar que fossem seguidos os tais protocolos sanitários, que previam distanciamento entre pessoas de diferentes núcleos (inclusive com a orientação de deixar um assento vazio à frente, atrás e ao lado de outros grupos) e a obrigatoriedade do uso de máscara durante todo o tempo?
Seria demais esperar que, naquela atmosfera mágica, com o time encantando, o torcedor parasse para racionalizar que estava colocando a sua vida e de outros em risco?
Claro que seria! E por muitas razões.
A primeira é cultural. No país do jeitinho, da lei de Gérson, onde é difícil fazer as pessoas atravessarem a rua na faixa de pedestre, é complicado imaginar que regras sejam cumpridas. O povo está acostumado a descumpri-las e nada acontece.
Se não tem ninguém para fiscalizar, mediar e cobrar, aí é que a coisa corre solta mesmo. Falta muita consciência coletiva.
Outra explicação está na seara emocional. A abstinência de Atlético era tamanha que muitas daquelas pessoas, longe de serem negacionistas, pareciam estar em um estado de transe tal que nem sequer se lembravam de onde vieram e para onde iriam.
Em nome de voltar a campo, de poder ver de perto o time e na empolgação do momento, ignoraram totalmente os riscos. Chegou a ser irracional. É compreensível, por todo esse contexto. Mas de forma alguma aceitável.
Não foi por acaso que o Japão decidiu vetar, de última hora, a presença de público nas arenas esportivas durante os Jogos Olímpicos e Paralímpicos. Antes de radicalizarem, as autoridades japonesas chegaram a produzir um manual de comportamento, ensinando como deveria ser a torcida em termos pandêmicos.
Entraria em vigor a política do silêncio: seria proibido gritar, cantar, tossir (como proíbe alguém de tossir?) e se abraçar nos ginásios. E a emoção do momento, como ficaria? Engoliria seco? Ninguém sabe.
Num país tão ordeiro e disciplinado como o Japão, pode até ser que algumas dessas normas fossem factíveis. Mas eles preferiram não arriscar e duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos recuaram. Aqui no Brasil, e em Belo Horizonte, decidiram percorrer o caminho contrário e pagar para ver, em plena expansão da cepa mais transmissível do coronavírus.
Na noite desta sexta-feira será a vez de os cruzeirenses serem "testados" no novo normal. Para eles, há um outro ingrediente nessa receita: será a primeira vez que verão, de perto, a Série B do Campeonato Brasileiro, já que, desde que o time estreou na competição, as partidas vinham sendo disputadas em estádios vazios.
O jogo contra o Confiança será um teste duplo: vai ser hora de avaliar o desempenho celeste dentro e fora das quatro linhas. Que eles sigam apenas o bom exemplo dado pelo arquirrival em campo.