E aí, depois da goleada do Atlético por 4 a 0 sobre o Fortaleza, você crava que a classificação à final da Copa do Brasil está garantida? Possivelmente, 99% das pessoas que lerem essa pergunta dirão que sim. Mas sempre tem aquele 1%. É a parcela de torcedores mais céticos, que preferem ver para crer. Até a partida de volta, no Ceará, vai ficar assim: tem atleticano já dormindo tranquilamente, planejando os jogos da decisão, e tem a turma ainda com a pulga atrás da orelha, temendo um daqueles revertérios históricos, mesmo diante da grande vantagem construída no Mineirão. E os dois podem ter lá suas razões.
Primeiro, vamos à ala dos otimistas, e nem precisa ser muito para acreditar que a parada esteja definida. No segundo confronto, na próxima quarta-feira (27), a partir das 21h30, no Castelão, na capital cearense, o alvinegro pode perder por até três gols de diferença que, ainda assim, avança à final do torneio.
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Fato é que em condições normais de temperatura e pressão, o Atlético deve confirmar a vaga no Ceará, mesmo que Cuca decida (ou precise) poupar alguns nomes.
Alguns dos reservas já mostraram isso na prática, como o próprio Keno, que foi um dos destaques no duelo no Mineirão, lembrando os tempos em que era comandado por Sampaoli. Savarino até outro dia era titular. Diego Costa nem jogou contra o Fortaleza. Não foram poucas as vezes que Sasha saiu do banco para decidir jogos do alvinegro.
É bem possível, inclusive, que Cuca não leve força máxima a Fortaleza, já que na sequência o Atlético terá o confronto direto com o Flamengo (dia 30, às 19h, no Maracanã), naquele que é considerado o confronto que deve decidir o campeão brasileiro de 2021.
A maior goleada em uma partida de ida da Copa do Brasil em todos os tempos, no entanto, não é suficiente ainda para deixar 100% confiante uma parte da torcida. Por mais que os analistas cravem, por mais que os retrospectos futebolísticos apontem. Para essa turma, há uma espécie de pudor em assegurar que a vaga está garantida. Ou superstição mesmo. É o mineirês em sua essência.
Dentro desse grupo estão atleticanos que vivenciaram um trauma no passado: o duelo com o Rosário Central, pela Copa Conmebol de 1995, é um fantasma a abalar qualquer expectativa otimista. Ele fica ali, a sussurrar no ouvido dos alvinegros, o que aprontou.
Para quem não viu, a história é, resumidamente, assim: em 12 de dezembro de 1995, o Galo, com Taffarel no gol, Doriva no meio-campo e Ézio e Renaldo no ataque, venceu de goleada a primeira partida da final do torneio, no Mineirão, por 4 a 0.
Não havia quem duvidasse que aquela taça iria para a Sede de Lourdes. Um lugarzinho para ela na galeria até já devia estar sendo pensado. Mas, uma semana depois, veio o que ninguém esperava - pelo menos, os atleticanos, já que os torcedores do Rosário não jogaram a toalha. Iludidos? O destino mostrou que não.
Em casa, o Rosário não só venceu de 4 a 0 como ganhou nos pênaltis. Cada bola que morria no fundo da rede de Taffarel era um duro golpe nos atleticanos que já tinham preparado a festa. Foi um dos capítulos mais surreais da história alvinegra. Um revés que deixou marcas na alma de quem o testemunhou. E são muitos desses que, hoje, preferem esperar mais uma semana para comemorar a vaga na decisão da Copa do Brasil.
Há quase sete anos, pela semifinal da Copa do Brasil de 2014, o narrador Luiz Penido, da Rádio Globo, caiu numa dessas armadilhas do futebol durante o jogo entre Atlético e Flamengo, no Mineirão. O rubro-negro havia vencido o duelo de ida no Rio, por 2 a 0, e abriu o placar no Gigante da Pampulha, com Everton.
Penido, então, soltou esta, ao narrar o gol: "É finalista, classificadaço". E acrescentou: "Agora, só se o Galo fizer quatro. É ruim, hein! Não vai fazer mesmo". Pois fez, com Carlos, Maicosuel, Dátolo e Luan.
O "classificadaço" Flamengo caiu naquela semifinal. E o Atlético seguiu rumo ao seu primeiro título do torneio, que seria conquistado em cima do arquirrival Cruzeiro.
Por isso, em relação a Atlético x Fortaleza, não há certos ou errados. Entre otimistas e pessimistas, salvam-se todos.