Não está nada fácil a vida dos adversários do Atlético. A cada jogo, o time, coletivamente, dá mostras de como a engrenagem está ajustada. Mesmo naqueles dias em que algo não vai bem em algum setor, há uma espécie de compensação natural: se o meio está travado, os homens de frente ajudam na criação e até na contenção. Se o ataque está preso à defesa adversária, chega um volante ou um zagueiro para balançar a rede. Individualmente falando, então, é um pesadelo para os oponentes. Sai Hulk, entra Diego Costa. Sai Diego Costa, entra Hulk.
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Da mesma forma que o futebol até tem alguns exemplos de equipes medianas, geralmente de orçamento mais baixo, que surpreenderam e obtiveram resultados expressivos a partir de um grupo homogêneo, porém sem jogadores diferenciados. Mas esses casos não são a regra - acabam como estrelas cadentes, de brilho temporário. A Copa do Brasil já contou algumas dessas histórias.
É claro que para chegar ao nível do que o Atlético tem hoje é necessário dinheiro. Muito dinheiro. Ele também não basta se quem contratar não souber como investir. Escolhas geram consequências, e é preciso estar preparado para lidar com o ônus e o bônus de cada uma delas.
Muita gente aqui deve se recordar da SeleGalo, cheia de medalhões e marketing, mas que deixou apenas más lembranças. Escolhas erradas, afinal.
O Atlético de 2021 é sobremaneira resultado de dinheiro e boas escolhas. Além desses fatores, houve uma conjunção astral favorável, aquele alinhamento de planetas que faz o pão cair com a manteiga pra cima. Que permite essa sintonia fina no time. É como se o universo conspirasse a favor.
A prova disso é perceber que mesmo com jogadores do quilate de Hulk e Diego Costa, a cada jogo um novo nome é exaltado Brasil afora. Outro dia mesmo a crônica esportiva nacional descobriu o volante Jair - que desde o ano passado, sob a batuta de Jorge Sampaoli, já tinha mostrado valor. Há alguns meses, a bola da vez era Zaracho e sua onipresença. Volta e meia, o talento quase invisível de Nacho é destacado. Hoje, Arana já é reconhecido como o melhor lateral do Brasil. Sem falar as intervenções milagrosas de Everson. E a seriedade (inclusive literal) de Junior Alonso na zaga.
Mas o que tem atormentando muito os adversários está mesmo na linha de frente. O carro-chefe – ou seriam tanques? Uma dupla que aterroriza até o mais estrategista dos treinadores. Que deve estar fazendo muitos deles perderem noites de sono para encontrar a fórmula para neutralizá-los.
O palmeirense Abel Ferreira chegou a ser um alento para muitos dos técnicos quando conseguiu parar Hulk (e o Galo) na Copa Libertadores. Contudo, depois dele outros tentaram seguir a receita e não conseguiram repetir o êxito.
O palmeirense Abel Ferreira chegou a ser um alento para muitos dos técnicos quando conseguiu parar Hulk (e o Galo) na Copa Libertadores. Contudo, depois dele outros tentaram seguir a receita e não conseguiram repetir o êxito.
Hulk e Diego Costa são ao mesmo tempo semelhantes e diferentes. O porte físico faz com que levem vantagem sobre os defensores. Também o fato de terem passado boa parte da carreira na Europa meio que os blindou do cai-cai cultural brasileiro. Eles aguentam o tranco sem esmorecer. Não é exagero dizer que, muitas vezes, atropelam os marcadores.
Outro ponto em comum é a qualidade na finalização. São jogadores que matam as jogadas. De cabeça, de pé, do jeito que a bola vier. Que sabem se posicionar para concluir, que abrem brechas nas defesas.
E quem acha que falta a eles qualidade técnica é só ver o drible do elástico que o Hulk aplicou no segundo tempo da partida contra o Cuiabá, no Mineirão. Ou o gol de Diego Costa contra o Fortaleza, no Castelão.
A diferença, pontualmente, parece estar no temperamento. Diego Costa é pilhado o tempo todo em que está em campo. Provoca seus marcadores. Encara. Reclama. Incomoda. Tem sangue nos olhos.
Hulk, por sua vez, parece mais centrado no jogo, focado 100% na bola. Não entra nesse duelo emocional. É quase um ciborgue em campo.
Cada qual ao seu jeito, os dois já caíram nas graças dos torcedores do Atlético – e justificam essa identificação. Para sorte de Cuca e azar dos colegas dele.