Jornal Estado de Minas

TIRO LIVRE

Torcida do Cruzeiro lota o Mineirão em despedida de 2021 e manda seu recado

Conteúdo para Assinantes

Continue lendo o conteúdo para assinantes do Estado de Minas Digital no seu computador e smartphone.

Estado de Minas Digital

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Experimente 15 dias grátis

Terceiro ano consecutivo na Série B do Campeonato Brasileiro. Um centenário marcado por dificuldades financeiras e seca de títulos. Bloqueios na Fifa que impedem a contratação de reforços. Esses ingredientes presumiam uma despedida melancólica do Cruzeiro de 2021. Mas, no último jogo da temporada – que nos sonhos celestes deveria ter sido de alegrias e conquistas –, o que se viu foi um Mineirão lotado, com 60 mil pessoas.



Rostos felizes. Uma atmosfera leve. Ao pintar de azul as cadeiras do Gigante da Pampulha, mais do que ir ao campo ver o time jogar, a torcida cruzeirense passou um grande recado (e deu uma grande lição) a muita gente, inclusive de dentro do clube. 

O placar da partida contra o Náutico ficaria, de toda forma, em segundo plano. É claro que eles queriam ver uma vitória da equipe na noite desta quinta-feira, mas o resultado era coadjuvante.

Os torcedores estavam lá independentemente do adversário. Da circunstância do jogo. Da escalação da equipe. Do nome do treinador. Da diretoria. Eles estavam lá pelo Cruzeiro. E proporcionaram o espetáculo que faltou ao time em campo, nos últimos anos.

A sensação é que foi quase um ritual. Para expurgar os demônios que rondam a Toca da Raposa, exorcizar os fantasmas que prendem o clube a um tenebroso purgatório.

Os torcedores estavam lá para mostrar que não abandonariam a Raposa no momento de maior adversidade de sua história. Afinal, são eles, como instituição, o elo mais forte com o passado de glórias e conquistas. E o principal motor para a esperança de dias melhores. Sem a torcida, não há razão de ser para o futebol. 



Arrisco a dizer que não houve no Brasil um torcedor que tenha tido sua paixão mais fortemente testada na última década. Que tenha visto sua devoção tantas vezes desafiada por dirigentes mais preocupados em exercitar a vaidade pessoal do que, de fato, em resolver os problemas do clube.

Acima de tudo, o cruzeirense resistiu. E ainda vai precisar resistir muito, até que volte a ter aquele Cruzeiro que um dia o cativou e os tornou "loucos", como tantas vezes cantaram.

A festa feita no Mineirão foi digna de comemoração de título. E assim pode ser entendido todo aquele cenário: eles estavam ali pela dignidade. Não se viam olhos raivosos ou desanimados. Não havia torcedor chamando jogador de "mercenário", mostrando notas de dinheiro, destilando todo tipo de impropério para expressar revolta, como é comum em situações semelhantes. Houve emoção. 

A torcida do Cruzeiro cantou, agitou bandeiras, abraçou o time. Ela lhe deu abrigo – ressalte-se, ao time, e não especificamente aos jogadores que estavam em campo. Talvez muitos deles nem estarão lá na próxima temporada.



O que se viu no Mineirão extrapolou nomes. Era pela camisa. Pelas cinco estrelas. Por uma equipe que já escreveu páginas heroicas e precisa reconquistar esse espaço.

Essa comunhão reuniu anônimos e famosos. Uma corrente que incluiu ex-jogadores, dentro e fora do estádio. O ex-volante Fabrício, que jogou no clube de 2009 a 2011, colocou a família no carro e encarou horas de estrada, desde o Rio de Janeiro, para estar no Mineirão.

O atacante Kléber, que vestiu a camisa celeste entre 2009 e 2010, gravou um vídeo dizendo estar na torcida pela Raposa: "Hoje (ontem) é dia de mostrar para os nossos filhos o Cruzeiro de verdade. Infelizmente, não vou poder estar aí, com esses 60 mil apaixonados, mas estarei aqui pronto para fazer um churrasquinho, vendo o nosso jogo e torcendo para o Cruzeirão". 

As despedidas de Rafael Sobis e do argentino Ariel Cabral acabaram sendo pano de fundo para algo muito maior. Para uma demonstração de força, de amor ao clube. Aos 45min do segundo tempo da temporada, os cruzeirenses que foram ao Mineirão mostraram que torcer não é estar ao lado da equipe apenas nas horas boas. Não é só comemorar os gols marcados, as taças erguidas, os ídolos.

Pelo contrário: é apoiar quando tudo está dando errado. Estender a mão quando tudo parece perdido. É estar ao lado também e sobretudo nas agruras. E suportar os gols contras. Ser torcedor na alegria e na tristeza, por mais dolorosa que a realidade seja.





audima