O Campeonato Ucraniano de futebol, que seria retomado nesta sexta-feira, foi suspenso. Suécia, Polônia e República Tcheca emitiram um comunicado conjunto solicitando à Uefa que jogos pelas Eliminatórias para a Copa do Catar, marcados para a Rússia, em março, mudem de local. Os campeões de Fórmula 1 Sebastian Vettel e Max Verstappen pregam retaliação radical, defendendo o boicote ou o cancelamento ao GP da Rússia, marcado para setembro. É o começo de uma jornada que não sabemos como e quando vai terminar.
Ao longo da história, o esporte já cruzou o caminho de guerras. Capítulos que a gente esperava terem ficado, definitivamente, no passado. A coluna Tiro Livre de hoje lista dois momentos vividos pelo futebol.
O futebol reserva um registro com enredo digno de ficção. Ele ocorreu durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e ficou conhecido como a Trégua de Natal. Relatos históricos dão conta de que, na véspera do Natal de 1914, soldados alemães enfeitaram seu lado da trincheira, na região belga de Yprès, Norte do país, com luzes e começaram a entoar músicas natalinas.
Do outro lado, combatentes ingleses e franceses, surpresos e tocados de emoção com o gesto, retribuíram e também começaram a cantar.
Em 25 de dezembro, os inimigos se aproximaram. Num ato de armistício extraoficial, decidiram largar as armas e abandonar seus postos para confraternizar unidos. Trocaram a comida que tinham, beberam vinho juntos e chegaram até disputar uma partida de futebol. Mas foi somente uma pausa no conflito, que prosseguiu nas primeiras horas do dia seguinte.
O episódio inspirou o mundo da arte. Virou roteiro de filme (em 2006, o diretor francês Christian Carion lançou o filme "Joyeux Noël" (traduzido como "Feliz Natal" no Brasil), apareceu em animações, séries e até música: "Pipes of Peace", lançada pelo ex-Beatle Paul McCartney em 1983 – no videoclipe, ele faz as vezes de ator, interpretando um soldado alemão e outro inglês.
Em 2014, quando a Trégua de Natal completou 100 anos, a Uefa inaugurou, no local do jogo, um monumento para eternizá-lo como um gesto de união proporcionada pelo futebol.
Outra citação que tem contornos de lenda, e que quem gosta de futebol já ouviu muitas vezes, é a ocasião em que Pelé parou uma guerra. O fato já ganhou versões controversas, como a de que a ida do Santos, em 1969, à Nigéria (que atravessava uma guerra civil, iniciada em 1967 e que foi até 1970, deixando mais de 2 milhões de mortos) serviu para promover o governo local. Mas, no planeta bola, a vertente que ganhou força foi outra.
O time da Vila Belmiro excursionava pela África quando foi convidado para jogar no país nigeriano, que sofria havia quase dois anos com a Guerra de Biafra. Devido ao cenário preocupante, cogitou-se a possibilidade de cancelamento do amistoso, na cidade de Benin. Mas todos queriam ver Pelé, e segundo os relatos santistas, foi decretado um cessar-fogo em forma de feriado, pelo militar que comandava a região, o tenente-coronel Samuel Ogbemudia, para que o Peixe pudesse jogar.
Faltou, no entanto, um gol do Rei do Futebol: o Santos até ganhou a partida contra a Seleção do Meio Oeste, por 2 a 1, mas foram Edu e Toninho Guerreiro que balançaram as redes.
Por mais que os relatos soem romantizados e transpareçam um sopro de esperança em tempos sombrios. A destruição e a dor que essas batalhas sangrentas e desumanas trazem não valem os ensaios de roteiros hollywoodianos que, por vezes, deixam pelo caminho.