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Atlético x Cruzeiro com torcida dividida: que o passado inspire o presente

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No clássico deste sábado, entre Atlético e Cruzeiro, pela final do Campeonato Mineiro, muita gente estará de olho no atacante alvinegro Hulk, artilheiro do Estadual e do novo Mineirão. Outros estarão atentos ao que o técnico celeste Paulo Pezzolano conseguirá extrair do seu time – a partida pela fase de classificação mostrou que ele já implementou um sentido coletivo importante na equipe, que está encorpada taticamente. Mas a atenção também estará em algo que será fundamental no duelo, quase um marco civilizatório: o estádio de novo dividido entre torcedores de Galo e Raposa.



Houve um tempo em que isso nem era notícia. O Mineirão colorido de preto, branco e azul nos dias de Atlético x Cruzeiro era a regra, não a exceção. Era parte integrante do clássico.

O torcedor já sabia o caminho que lhe era mais conveniente na ida para o estádio – a Abrahão Caram, geralmente, rota dos alvinegros, enquanto os cruzeirenses dominavam a Catalão. Que eu saiba, isso nunca foi estabelecido oficialmente, determinado por alguma autoridade, e sim era uma espécie de acordo informal entre as torcidas. 

No entorno do Gigante da Pampulha, não eram raros os encontros. No aquecimento no antigo Mineiríssimo, as duas camisas circulavam, em aglomerações regadas a cerveja nos domingos de sol. Sim, volta e meia havia algum entrevero mais forte. Às vezes, era necessária a intervenção de policiais, para acalmar os ânimos. Logo o futebol voltava a ser assunto nas rodinhas de conversa. 

Dentro do estádio, a coexistência se repetia nas cadeiras cativas e na tribuna de honra. De novo: o clima era pacífico até a página 2. Que fique claro: havia momentos de tensão, uma ou outra briga. Mas não causava apreensão tão forte ver atleticanos e cruzeirenses próximos, como nos dias de hoje, em que são necessários tapumes para que não haja sequer contato visual entre eles no Mineirão.



A primeira vez que ouvi um dirigente mencionar a possibilidade de implementação de torcida única nos clássicos, achei impossível a ideia ir adiante. Lembro perfeitamente que era noite de premiação do Troféu Telê Santana, no Palácio das Artes, no início de 2010. Foi um cartola do Cruzeiro quem levantou a questão na época, dando o exemplo de Internazionale e Milan, que dividem o estádio em Milão. A intenção era fazer o mesmo com o Mineirão, deixando que apenas o torcedor mandante fosse a campo em dia de dérbi.

Fato é que em junho daquele mesmo ano o Gigante da Pampulha foi fechado, para reforma, e com aquele velho estádio ficaram muitas recordações – talvez por mero saudosismo, ainda gosto mais dele do que do moderno e acinzentado atual; sinto falta sobretudo do estacionamento arborizado e do clima mais familiar que a antiga arena trazia.

Com a reinauguração em 2013, veio a era da torcida única. A final deste sábado será apenas o terceiro duelo entre Atlético e Cruzeiro com torcida meio a meio desde a reabertura, há nove anos. Nessa conta entram a diminuição da capacidade de público, provocada pelo "advento" das cadeiras, e a tese de defesa da maior segurança. 



O caso é que o público foi diminuindo, porém, os problemas relativos a violência entre torcidas (sobretudo organizadas) não cessaram na mesma proporção. O embate migrou das proximidades do Mineirão para regiões periféricas, resultando até em mortes. Ficou claro: o futebol nunca foi o motivo e, sim, a desculpa para justificar a selvageria de quem tem índole perversa.

Ver de novo o Gigante pintado com as cores de Atlético e Cruzeiro resgata um passado de disputas mais saudáveis – embora não menos acaloradas.

Por isso, neste sábado, tanto quanto as belas jogadas, os gols e as grandes defesas, as torcidas serão protagonistas. Ficará registrado também o que acontecer horas antes de a bola rolar, durante a partida e horas depois do apito final. Fora e dentro do Mineirão. 

É função e ofício da Polícia Militar garantir a segurança de todo cidadão, em qualquer parte da cidade, mas também é grande a responsabilidade do torcedor vai vivenciar este momento in loco e de jogadores e dirigentes, que precisam dar o exemplo de um ambiente pacífico, com disputas restritas ao jogo. 

Seria bom se tudo fosse só festa, em campo e fora dele. Que os personagens da notícia estejam tão somente nas seções esportivas, não nos relatos policiais.