Pela terceira temporada consecutiva, o Cruzeiro inicia sua caminhada na Série B do Campeonato Brasileiro estabelecendo como meta retornar à elite. A estreia nesta sexta-feira, contra o Bahia, no entanto, traz algo diferente. Uma esperança que tem nome e sobrenome – Ronaldo Nazário –, além de apelido: Fenômeno. E é apostando todas as fichas na mística do craque e nos gols fora de campo que ele pode marcar que o cruzeirense confia que, desta vez, tudo vai ser diferente. Que o calvário da Segunda Divisão, finalmente, vai terminar.
À torcida, cabe sonhar. Ainda que nem mesmo Ronaldo possa lhe dar garantias, a simples presença do lendário camisa 9 dá a ela um passaporte para acreditar. Para projetar dias de glórias, de grandes craques e títulos expressivos. Até lá, contudo a jornada ainda será árdua – mas essa análise, fria, cabe aos analistas.
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Há muito faltava à Raposa esta concepção de equipe. Nenhum dos que passaram pelo cargo pós-Mano Menezes e pré-Pezzolano conseguiu estabelecer um conjunto sólido, um senso coletivo, que vai muito além do "time em si", com 11 jogadores. Uma perspectiva mais conceitual que prática.
Há muito faltava à Raposa esta concepção de equipe. Nenhum dos que passaram pelo cargo pós-Mano Menezes e pré-Pezzolano conseguiu estabelecer um conjunto sólido, um senso coletivo, que vai muito além do "time em si", com 11 jogadores. Uma perspectiva mais conceitual que prática.
O uruguaio, conhecido de poucos no Brasil quando chegou, deu essa cara ao Cruzeiro. Se individualmente a formação está longe de lembrar os esquadrões que ergueram taças, coletivamente é, sem dúvida, o que de melhor os celestes têm desde que caíram para a Série B e se viram com a missão de desbravar o caminho de volta à Primeira Divisão.
Só para termos de comparação, vale lembrar como a Raposa largou nas edições de 2020 e 2021 da Série B. Logo em sua primeira incursão, um duro golpe: o Cruzeiro iniciou a competição com menos seis pontos como punição da Fifa por não pagar dívida de 850 mil euros (cerca de R$ 5 milhões) ao Al Wahda-EAU, pelo empréstimo de seis meses do volante Denílson, em julho de 2016.
Já era difícil, dentro e fora do clube, encarar aquele choque de realidade. Com a contagem negativa na classificação, ficou ainda mais. A despeito disso, o Cruzeiro era apontado Brasil afora não só candidato ao acesso como favorito ao título.
Seu trunfo era a presença de jogadores tarimbados e comprometidos com as cores celestes, como o goleiro Fábio, o zagueiro Leo, o volante Henrique e o atacante Marcelo Moreno.
Seu trunfo era a presença de jogadores tarimbados e comprometidos com as cores celestes, como o goleiro Fábio, o zagueiro Leo, o volante Henrique e o atacante Marcelo Moreno.
A espinha dorsal experiente era complementada por promessas como o zagueiro Cacá e o armador Maurício. Ainda tinha um técnico acostumado com a competição, Enderson Moreira. A receita parecia pronta, mas desandou. Enderson foi demitido exatamente um mês depois da estreia na Série B. Era o prenúncio do que estava por vir.
Em 2021, sem os pontos negativos na classificação e acreditando que o então técnico Felipe Conceição conseguira montar um time organizado taticamente, o cruzeirense renovou a expectativa.
Imaginava-se que pior que a 11º colocação do ano anterior não teria como ficar. Que o flerte com a Série C era um pesadelo que havia ficado no passado. Pois o enredo se repetiu, e mais uma vez o Cruzeiro se viu em meio a um furacão, com trocas seguidas de técnicos e dívida crescente. Amargou o 14º lugar. Um poço que parecia não ter fim.
Imaginava-se que pior que a 11º colocação do ano anterior não teria como ficar. Que o flerte com a Série C era um pesadelo que havia ficado no passado. Pois o enredo se repetiu, e mais uma vez o Cruzeiro se viu em meio a um furacão, com trocas seguidas de técnicos e dívida crescente. Amargou o 14º lugar. Um poço que parecia não ter fim.
Agora, em 2022, com a votação favorável do Conselho celeste pela compra de 90% das ações da SAF por Ronaldo, acredita-se que os bastidores estão mais serenados. E que o foco do torcedor poderá estar voltado tão somente para o campo.
Essa sintonia da torcida com a equipe já ficou evidente nos últimos jogos. Muito como reflexo do que o time de Pezzolano mostrou.
Quando falta qualidade técnica, um modelo tático bem estabelecido se sobrepõe. E isso não só compensa alguma fragilidade individual como eleva o nível do que é entregue pelos jogadores. A torcida vê isso em campo e responde nas arquibancadas.
O cruzeirense está "pezzolanizado". Comprou a ideia do uruguaio. E com razão.