Jornal Estado de Minas

COLUNA TIRO LIVRE

A senha do Brasil de Tite para a Copa: os 'perninhas rápidas'

Pouco mais de 170 dias separam a Seleção Brasileira da estreia na Copa do Catar – o primeiro desafio dos comandados de Tite será a Sérvia, em 24 de novembro. Para ser exata, de hoje até o pontapé inicial para o sonho do hexa serão 175 dias, o que pode até parecer muito, mas já há um cheirinho de Mundial no ar.



É uma boa notícia para quem faz parte atualmente do grupo e nem tão boa para quem ainda sonha com um lugar no avião que levará a delegação do Brasil para o mundo árabe.

O amistoso contra a Coreia do Sul, em Seul, nesta quinta-feira, mostrou claramente que o time que Tite quer está bem desenhado. Mais do que isso: que o grupo está escolhido. E que as escolhas do treinador, muitas vezes tão contestadas, podem acabar se mostrando acertadas. Toda essa análise, acredite, independe do adversário de hoje.

Noves fora a pouca qualidade técnica dos sul-coreanos  – que têm em Son, destaque do Tottenham (com 23 gols, dividiu a artilharia do último Campeonato Inglês com Salah, do Liverpool), sua estrela solitária –, a Seleção deu sinais de que está encorpando, e na hora certa. 

Na partida em Seul, mais do que atuações individuais, foi a evolução coletiva que chamou a atenção. Mesmo com algumas baixas, como a do lateral-direito Danilo (cortado da excursão à Ásia por causa de lesão), e de alguns jogadores poupados, foi possível perceber o Brasil como um time, na acepção da palavra. Ocupou bem os espaços e fez a bola circular em velocidade, ações possíveis graças à integração decorrente do entrosamento.



A Seleção teve um repertório que passou por Neymar, mas não se encerrou nos pés dele.

Até nos momentos em que não foi lá tão exigido, o time brasileiro fez a parte dele. Há peças a serem ajustadas, mas a principal avaliação a se fazer neste momento era esta: a perspectiva que a equipe de Tite nos dá, a pouco mais de cinco meses da Copa. E a impressão foi boa.

Ainda que o treinador tenha sido precavido com alguns de seus mais promissores atletas, como Vinícius Júnior (que brilhou na final da Liga dos Campeões, poucos dias antes, e por isso entrou em campo apenas nos últimos minutos), a ideia do que o Brasil terá no Catar está clara.

Tecnicamente, não há grandes mistérios. Nesse departamento, a Seleção vai precisar que o talento de seus jogadores aflore naturalmente quando a bola rolar. Mas esse talento só não basta, já vimos essa história antes.





Por isso, a questão, a partir de agora, é ajustar a sintonia para que o time encontre os atalhos do campo quando a situação apertar. E isso não passa somente por definições táticas ou pela técnica dos atletas.

Uma frase de Tite após a partida em Seul foi a principal dica para entender tal equação: "Gostei não só de quem começou entre os 11, mas de quem entrou. Ainda mais com alguns atletas vindo depois e trazendo esse nível de desempenho. Eu falo dos 'perninhas rápidas'. Quanto mais o Fábio (Mahseredjian, preparador físico) colocar, mais o adversário se desgasta".

Os "perninhas rápidas" aos quais Tite se referiu são jogadores como Neymar, Vinícius Júnior, Raphinha e outros, rápidos e dribladores, que ajudam a abrir brechas nas defesas alheias.

Para que eles possam exercer esse papel na plenitude, a forma como chegarão fisicamente à Copa será fundamental. Afinal, a velocidade na troca de passes e na movimentação do ataque são grandes cartadas do time verde-amarelo.





Está tudo intrinsecamente conectado, e a mudança de calendário vai acabar sendo bem útil nessa estratégia, já que, diferentemente das edições anteriores do Mundial, esta será disputada no meio da temporada europeia, onde atua a maior parte do grupo brasileiro. Se nenhuma lesão atravessar o caminho, a expectativa é de que eles cheguem inteiros ao Catar

Nessa preparação, entram os próximos dois jogos da Seleção (segunda-feira, contra o Japão, e em 22 de setembro, contra a Argentina), os últimos antes da estreia contra a Sérvia.

Para que tudo dê certo, Tite vai precisar que os "perninhas rápidas" voem baixo na Copa. A grande senha para o Brasil rumo ao hexacampeonato estará na conjunção entre talento e fôlego.