Jornal Estado de Minas

TIRO LIVRE

Artilheiro do Cruzeiro, Edu testará faro de gol contra time do coração

O jogo entre Vasco e Cruzeiro, domingo, no Rio de Janeiro, será especial para os torcedores das duas equipes, pelas circunstâncias do confronto: acostumados a lotar o Maracanã para acompanhar o duelo pela Primeira Divisão do Campeonato Brasileiro, desta vez eles encherão o lendário estádio pela Série B, embalados pelo desejo de ver seus times de novo na elite.



E não será apenas fora de campo que o coração de celestes e alvinegros baterá mais forte. Dentro das quatro linhas, um jogador cruzeirense vai deixar as origens cruz-maltinas de lado para exercer seu melhor papel, de goleador: o atacante Edu.

Aos 29 anos, Edu vive o ápice da carreira – já havia mostrado o faro de artilheiro no ano passado, com a camisa do Brusque, mas é a primeira oportunidade que tem em um clube de expressão do futebol brasileiro e o primeiro grande contrato da carreira.

O camisa 99 não está desperdiçando a chance dada a ele por um dos maiores camisas 9 da história: sob o olhar de Ronaldo Fenômeno, tem sido um dos pilares da arrancada da Raposa na Segunda Divisão.

Gols, em quantidade e qualidade, fazem parte do repertório do centroavante. Nas 15 vezes em que balançou a rede com a camisa celeste, mostrou raça e talento.



No mais recente dos gols, de voleio, contra o CRB, provou como consegue aliar bem as duas virtudes. Por essas e outras que Edu tem se mostrado uma das contratações mais acertadas da atual gestão celeste.

A história de vida do atacante se confunde com a de muitas outras no futebol - por isso, cada gol dele merece aplausos em dobro. O sorriso largo e o brilho no olhar retratam a grande fase do presente, mas escondem as muitas adversidades que precisou superar para vivenciar este momento na plenitude.

Nascido no Rio e criado em São Gonçalo, mais velho de três irmãos, saiu de casa aos 13 anos levando consigo o sonho de vencer no futebol para ajudar a família.

Cria do Vasco, clube do coração do pai, Eduardo (de Edu também, que já declarou isso várias vezes), e de seu ídolo maior, Romário, passou também pelas divisões de base de Botafogo, Portuguesa e Flamengo sem se firmar. Aos 21 anos, se viu sem clube e sem esperança.

Em entrevistas, admitiu que, quando jovem "tinha a cabeça fraca, se deslumbrou" e revelou ter pensado em desistir dos gramados. O incentivo do pai não deixou.

Curiosamente, foi no futebol mineiro que a porta se abriu – ainda que na várzea. Ano passado, contou à ESPN que chegou a treinar por conta própria e jogar peladas com os amigos. Para complementar a renda e não ficar parado, disputou o Campeonato Regional de Ubá, na Zona da Mata Mineira, uma competição amadora.





O recomeço no futebol profissional veio na Terceira Divisão do Carioca, em casa, pelo Grêmio São Gonçalo. Em 2020, ele começava a ganhar alguma estabilidade quando retornou ao Brusque (onde jogara três anos antes), porém, teve a trajetória novamente interrompida, por causa de grave lesão no joelho direito que demandou cirurgia e o tirou dos campos por nove meses.

Chegou a ouvir que não mais jogaria bola, o emocional ficou abalado. Mas deu a volta por cima, foi artilheiro da Série B do ano passado pela equipe catarinense – onde ganhou o apelido de Imperador do Vale –, e aí seu destino mudou de vez.

Um dos 17 gols que marcou em 33 jogos da Segunda Divisão de 2021 foi justamente contra o Vasco, em São Januário, com Eduardo emocionado na arquibancada ao ver o filho balançar a rede. A equipe carioca venceu por 2 a 1. De certa forma, ficou bom para ambas as partes.





Em dezembro, chegou a ter o nome especulado no clube da Cruz de Malta, para o lugar de Germán Cano, mas a multa rescisória, de R$ 1,2 milhão, afugentou os vascaínos. O Cruzeiro foi lá e negociou o valor. Pagou à vista R$ 600 mil e o trouxe para a Toca da Raposa.

O contrato vai até 31 de dezembro de 2024. Hoje, ele é o Imperador Azul.

Vascaíno declarado, sim, mas já com grandes serviços prestados ao time celeste e totalmente integrado à torcida cruzeirense. O que Edu sentirá quando pisar o gramado do Maracanã no domingo, depois de ter vivido tudo isso, só ele poderá dizer.