O ano de 2022 está longe de acabar. Pela frente, ainda teremos eleições e Copa do Mundo – e com eles a chance de resgatar o orgulho de ser brasileiro, dentro e fora de campo. Até janeiro chegar, muitas intempéries teremos para atravessar e, no futebol, essa caminhada parece ser especialmente árdua para o Atlético. A indefinição do rumo alvinegro nos próximos dois meses ecoa, e muito, no que virá na próxima temporada.
Recorro a uma expressão da moda (o vocabulário futebolístico adora essas "inovações linguísticas") para resumir o momento vivido pelo Galo: o estado anímico pelos lados de Vespasiano não anda dos melhores. Isso já é perceptível nas entrevistas de jogadores e do técnico Cuca.
Não adianta recorrer à psicologia barata de autoajuda, muito menos jogar nas mãos de Deus a responsabilidade. A realidade é que o Atlético não consegue evoluir.
Essa queda começou coletivamente, sob o comando de Turco Mohamed, e com Cuca desembocou no processo individual. Até figuras que se sobressaíam - e por vezes salvavam o time com uma defesa milagrosa (no caso de Everson) ou um gol providencial (Hulk) estão com o brilho fosco.
Essa queda começou coletivamente, sob o comando de Turco Mohamed, e com Cuca desembocou no processo individual. Até figuras que se sobressaíam - e por vezes salvavam o time com uma defesa milagrosa (no caso de Everson) ou um gol providencial (Hulk) estão com o brilho fosco.
É injusto inclusive apontar o dedo para um só culpado. A esta altura, entre mortos e feridos, ninguém está se salvando. Não foi repentinamente, nem do dia para a noite.
Essa desconstrução do Atlético foi gradual, a olhos vistos, ao longo da temporada: o time foi perdendo sua identidade, sua força ofensiva, seu equilíbrio defensivo... Até chegar ao que temos hoje. Cada tijolo colocado em 2021 foi sendo derrubado. Não viu quem não quis.
Essa desconstrução do Atlético foi gradual, a olhos vistos, ao longo da temporada: o time foi perdendo sua identidade, sua força ofensiva, seu equilíbrio defensivo... Até chegar ao que temos hoje. Cada tijolo colocado em 2021 foi sendo derrubado. Não viu quem não quis.
O zagueiro Jemerson, que retornou à Cidade do Galo em meados do ano, afirmou que há um clima de tristeza no ar. Em entrevista nessa terça-feira, recorreu mais de uma vez à palavra para descrever o ambiente no alvinegro: "É triste, particularmente. Nós, jogadores, sentimos muito isso, de estar tentando, mas não conseguindo os resultados. Isso deixa o clima ruim. É um clima de tristeza. Não tem como ter o elenco que o Atlético tem, fazer as coisas que fazemos e o resultado ser adverso".
O volante Allan, que iniciou o ano até cotado para a Seleção Brasileira, pelas atuações dinâmicas na vitoriosa temporada de 2021, admitiu sua queda de rendimento: "Preciso melhorar mesmo. Preciso voltar ao Allan que eu era no ano passado. Isso é natural, faz parte do futebol. É confiança. Falo por mim. (...) Quando dá tudo certo, as coisas acontecem ao natural. Quando o momento não é bom (individual e coletivamente), você vai se preservar mais, não vai se expor muito, porque não está com a confiança lá em cima. Já fiz essa autoanálise e sei que estou devendo".
O lateral Dodô foi outro a reconhecer a má fase: "O incômodo do Campeonato Brasileiro é grande para todos nós. A gente está alguns pontos atrás do que a gente gostaria. Nosso desempenho nos jogos em casa foi um pouco abaixo. Pontos que fizeram falta para brigar pelo título".
Essa sinceridade dos jogadores é melhor que qualquer distorção da realidade. É preciso coragem e caráter para admitir erros e fragilidades. Há quem, por exemplo, que ao errar, em vez de trilhar o caminho da honestidade, admitir e se desculpar, escolhe bradar que foi mal-interpretado ou que teve as palavras retiradas de contexto. O termo que define seres assim é um só: covardia.
O atacante Hulk talvez tenha sido o último moicano nessa curva descendente do Galo. Ele chegou a viver ótimos momentos na temporada e a ser cotado para a Seleção Brasileira (esta coluna foi uma das que defenderam sua presença na lista de Tite), mas sucumbiu diante do desajuste coletivo.
Na esteira da queda técnica, veio a física, com um insistente problema na panturrilha esquerda, que tem incomodado o jogador em campo.
Na esteira da queda técnica, veio a física, com um insistente problema na panturrilha esquerda, que tem incomodado o jogador em campo.
Parece que nem Cuca tem a explicação para a receita do Atlético ter desandado tanto. Segundo fontes extraoficiais, ele não quis permanecer no clube de 2021 para 2022 por não acreditar que conseguiria manter o nível de atuações da equipe.
Agora imagina só: se quando estava bom ele não quis ficar, como há de ser agora, com o trem fora dos trilhos?
Por mais que o Atlético tenha um grupo individualmente forte e um treinador vencedor, é complicado cravar, hoje, de onde virá a reação. Os últimos meses deste ano e o início do próximo são, mais do que nunca, uma grande interrogação.