Eu não sei vocês, mas eu sou fã do Richarlison desde antes de ser modinha. Muito antes de ele ganhar o apelido de pombo, pela comemoração pitoresca de gols, imitando o pássaro. Anos antes de ele receber salário em euros ou exibir o lado poliglota ao dizer para um repórter gringo, numa coletiva no Catar, "I speak english, my friend" e, em seguida, soltar uma boa gargalhada - temperada por uma ponta de orgulho por ter chegado lá. Antes mesmo que ele pintasse o cabelo de loiro.
Eram tempos em que vestir a camisa da Seleção Brasileira parecia sonho distante e disputar uma Copa do Mundo soava quase como utopia para o atacante. O que dirá marcar gols em um Mundial. Gol não, façamos justiça: golaço.
Eram tempos em que vestir a camisa da Seleção Brasileira parecia sonho distante e disputar uma Copa do Mundo soava quase como utopia para o atacante. O que dirá marcar gols em um Mundial. Gol não, façamos justiça: golaço.
Eu sou fã do Richarlison raiz. Aquele que, aos 18 anos, teve passagem meteórica pelo América. Disputou 24 jogos pela Série B do Campeonato Brasileiro de 2015, fez nove gols e deu três assistências, sem contar a movimentação em campo, a inteligência tática.
Na época, ao vê-lo atuar com tamanha desenvoltura, tão jovem, eu ficava pensando quem chegaria na frente para contratá-lo: Atlético ou Cruzeiro. Nenhum dos dois. Foi o Fluminense que veio a BH buscar o atacante, pagando R$ 10 milhões por 50% dos direitos dele - negociação recorde na história do Coelho até então.
Na época, ao vê-lo atuar com tamanha desenvoltura, tão jovem, eu ficava pensando quem chegaria na frente para contratá-lo: Atlético ou Cruzeiro. Nenhum dos dois. Foi o Fluminense que veio a BH buscar o atacante, pagando R$ 10 milhões por 50% dos direitos dele - negociação recorde na história do Coelho até então.
Por ter visto Richarlison, digamos assim, nascer para o futebol, torço muito por ele desde então. Sempre foi carismático e, com o passar dos anos, se mostrou um jogador consciente de seu papel como esportista, dentro e fora de campo. Na maior simplicidade, cultivando aquele jeitinho de menino de interior, que saiu de Nova Venécia, município de pouco mais de 50 mil habitantes do Espírito Santo, para ganhar o mundo.
Por isso (e outros motivos que ainda serão listados aqui), comemorei muito os dois gols dele que garantiram a vitória do Brasil sobre a Sérvia, nesta quinta-feira (24), na estreia dos comandados de Tite na Copa de 2022.
Richarlison é o Brasil que a gente queria de volta. E não representa apenas a si. Ele simboliza um novo espírito de Seleção. Um time que vive seus melhores momentos quando a individualidade transcende para o coletivo. Uma equipe que busca o toque de bola, o companheiro mais bem colocado, a velocidade na jogada para abrir espaços, para buscar o gols – em vez de ter um ou outro jogador que tente fazer tudo sozinho.
Richarlison é o Brasil que a gente queria de volta. E não representa apenas a si. Ele simboliza um novo espírito de Seleção. Um time que vive seus melhores momentos quando a individualidade transcende para o coletivo. Uma equipe que busca o toque de bola, o companheiro mais bem colocado, a velocidade na jogada para abrir espaços, para buscar o gols – em vez de ter um ou outro jogador que tente fazer tudo sozinho.
Um Brasil livre da "Neymardependência" que o acometeu por tanto tempo, e hoje sabemos não fez bem nem ao time, nem a Neymar.
O Brasil deixou de ser samba de uma nota só – está mais para o conjunto harmônico e com gingado de um Olodum.
Se o camisa 10 não resolve, outros aparecem para decidir a parada. E os outros não são qualquer um. São Richarlison e seu oportunismo; Vinícius Júnior e sua imensa capacidade técnica, surpreendendo a mais cerrada das marcações; Lucas Paquetá e a onipresença, na defesa e no ataque; Casemiro e seu controle absoluto no meio-campo, na maior elegância.
O Brasil deixou de ser samba de uma nota só – está mais para o conjunto harmônico e com gingado de um Olodum.
Se o camisa 10 não resolve, outros aparecem para decidir a parada. E os outros não são qualquer um. São Richarlison e seu oportunismo; Vinícius Júnior e sua imensa capacidade técnica, surpreendendo a mais cerrada das marcações; Lucas Paquetá e a onipresença, na defesa e no ataque; Casemiro e seu controle absoluto no meio-campo, na maior elegância.
Esse senso de conjunto não é gratuito. Ele foi ensaiado, cantado e decantado por Tite, que por alguns anos buscou a formação que resultasse nessa sintonia. Testou dezenas de jogadores, de variadas idades e estilos, até chegar à receita atual, para o Catar.
Um lance do jogo contra a Sérvia traduz bem esse novo Brasil. Enquanto Richarlison saía de campo aplaudido pela torcida, seguido por todas as câmeras do estádio até o banco e sendo analisado por narradores e comentaristas de TV, Neymar estava caído no gramado, se contorcendo de dor no tornozelo direito.
Fossem outros tempos, a atenção de todos – torcedores, câmeras, narradores e comentaristas – estaria em Neymar. O olhar de dor do camisa 10 seria descrito em detalhes. A busca pela informação da lesão daria o tom da transmissão. Desta vez, todos os olhares estavam no Pombo.
Fossem outros tempos, a atenção de todos – torcedores, câmeras, narradores e comentaristas – estaria em Neymar. O olhar de dor do camisa 10 seria descrito em detalhes. A busca pela informação da lesão daria o tom da transmissão. Desta vez, todos os olhares estavam no Pombo.
A atuação da Seleção na estreia da Copa foi como uma linha divisória, do Brasil que foi para o Brasil que é. E Richarlison é a síntese de um Brasil que pode ser ainda mais.