Depois de tantas zebras desde a primeira rodada, a Copa do Mundo do Catar resolveu não mexer mais com surpresas e preparou um cardápio bem tradicional para seu último capítulo. Uma final bem das mais previsíveis – mas não menos emocionante. Quem não poderia imaginar Argentina e França, lideradas por Messi e Mbappé, na decisão da taça? Além de fazer justiça aos craques, reunirá duas equipes capazes de proporcionar um espetáculo à altura dos milhões desembolsados pelos xeques na primeira edição do Mundial disputada em solo árabe.
A quem estiver com ranço da partida, por reunir algozes do Brasil, um recado: o melhor a se fazer, agora, é deixar rancores de lado e aproveitar a chance de ver o que se desenha como um jogão. Crème de la crème - ou o mais refinado dos alfajores, para não puxar a sardinha para nenhum dos lados.
Mais ainda: quiçá a última oportunidade de ver Messi em ação numa Copa do Mundo. E aqui vale puxar a sardinha para o lado do hermano.
Mais ainda: quiçá a última oportunidade de ver Messi em ação numa Copa do Mundo. E aqui vale puxar a sardinha para o lado do hermano.
Para Messi, essa consciência chegou aos 35 anos. Daqui a quatro anos, na Copa compartilhada entre Estados Unidos, Canadá e México, ele estará com 39. Não se pode duvidar que ainda encantando por aí - mas talvez já livre da pressão (interna principalmente) de comandar a Argentina em campo.
Ele determinou que será a hora de passar o bastão. E o faz - se de fato o fizer - em seu melhor momento. Nem tanto físico, sobretudo mental.
Ele determinou que será a hora de passar o bastão. E o faz - se de fato o fizer - em seu melhor momento. Nem tanto físico, sobretudo mental.
O Messi do Catar é bem diferente daquele que vimos no Brasil. Mais líder do que nunca da Argentina. Participativo não apenas com a bola no pé. Semblante mais leve. Até sorrindo, vejam só! Lembro-me do jogo Argentina x Irã, primeira rodada do Mundial de 2014, no Mineirão, como Messi corria pelo campo como se carregasse toneladas em seus ombros.
Os argentinos ganharam aquela partida no sufoco: 1 a 0, gol dele (pra variar, golaço), aos 45min do segundo tempo. E seguiram sua jornada até a final, no Maracanã, contra a Alemanha. Mas o camisa 10 não tirava do rosto a expressão encabrunhada. Ombros recolhidos. Muitas vezes, parecia sufocado, reprimido.
Neste Mundial, Messi parece jogar com mais alegria, alegrando quem o vê desfilar todo aquele talento. A forma como a bola cola no pé dele. O jeito como baila para superar os marcadores. A precisão nos arremates. A visão apurada para passes milimétricos. O êxtase na comemoração dos gols. A sintonia com os torcedores. Uma simbiose perfeita.
Ao comentar que esta será a última Copa da carreira dele, o fez demonstrando satisfação, nada de tristeza. "Estou desfrutando muitíssimo", disse. Nós também, Messi. E talvez o futebol deva a ele esse título.
Há outros craques que passaram pela história sem ganhar uma Copa, não seria inédito. Nomes como Puskás, Eusébio, Cruyff e Platini estão entre os que mereciam ter carimbado o currículo com esse selo de garantia, até como forma de agradecimento aos serviços prestados. Messi, portanto, não seria o primeiro. Mas nada como a oportunidade de correção de rota, aquelas reparações que volta e meio o destino oferece.
Ele chega à decisão empilhando marcas em Copas do Mundo: artilheiro de todos os tempos da Argentina na competição, à frente de Batistuta (11 gols); jogador com mais participações diretas em gols (20); maior número de jogos (25), igualando-se ao alemão Matthäws; e maior número de assistências em mata-mata (seis), o que divide com ninguém menos que Pelé. Além disso, é o jogador com maior número de partidas, em Mundiais, como capitão.
Até os adversários torcem por Messi campeão. O croata Luka Modric deixou escapar sua torcida assim que sua seleção foi eliminada no Catar pelos argentinos. "Tomara que (Messi) ganhe esta Copa. É o melhor da história e merece isso. Está fazendo um grande Mundial, mostrando sua qualidade e grandeza em cada partida."
O sueco Ibrahimovic cravou quase num tom esotérico: "Está escrito quem vai ganhar. Messi vai levantar o troféu".
Com tanta exaltação ao argentino, você, leitor, pode me perguntar: "E o Mbappé"? Esse aí, além de já ser campeão mundial, tem o tempo como aliado. Aos 23 anos, será tema de muita coluna Tiro Livre ainda. Quem sabe, até numa outra final, em 2026. Porque a França já mostrou que é uma fábrica de talentos e tem uma geração praticamente pronta para o próximo ciclo.