Jornal Estado de Minas

TIRO LIVRE

Morte de Pelé: toda reverência ao Rei do Futebol ainda é pouca

Infelizmente, eu não vi Pelé jogar. Quando nasci, ele já estava em vias de se aposentar. Mas conheci Pelé talvez da forma mais mágica, à altura de todo o espetáculo que ele proporcionou ao futebol: pelo encantamento do olhar de quem teve a sorte de acompanhá-lo em ação. O Pelé do qual tenho lembrança é aquele dos registros de imagens em preto e branco; dos relatos de grandes jornalistas, como Nelson Rodrigues e Armando Nogueira, que traduziram em prosa a poesia do Rei nos gramados; das lembranças de aficionados por futebol como meu pai, que empilham adjetivos quando vão falar do maior de todos. 



O Atleta do Século que eu conheço é merecedor de todos os superlativos possíveis - e até dos impossíveis - destinados a ele, nos mais diversos idiomas. Nas mais variadas épocas. O Pelé que não só eternizou seu nome: imortalizou também uma seleção, um país inteiro e um número de camisa. 

Aqui vale, inclusive, uma sugestão: na esteira do pedido da família Arantes do Nascimento, para que a 10 do Santos seja aposentada, acredito ser justo que o mesmo seja feito na Seleção Brasileira. Com a envergadura moral de quem atestou o esplendor de Pelé sem nunca tê-lo testemunhado de fato e de direito, sentencio: jamais haverá outro à altura para vesti-la. 

Os 82 anos vividos por Pelé são apenas um número, mera contagem temporal. Pelé é, não foi. E continuará sendo. Para ele, o verbo sempre estará no presente. Um Rei que, como diz o ditado, não perde a majestade. Que transcende tempo e espaço. 



Não há dúvida de que continuará a ser referência de jogador completo, de meta a ser alcançada – embora inatingível. Nunca cessarão os questionamentos sobre quem será seu sucessor, como se tal busca fosse palpável. Não é. E cheguei a essa conclusão ao ouvir outro gênio do futebol, Tostão, que disse ser impossível definir Pelé e ainda pontuou que ele foi toda aquela plenitude em uma época sem nenhum aparato tecnológico para amparar a carreira de jogadores de futebol, seja na área física, médica ou de nutrição.

Pelé, arte e explosão. Entre arrancadas fulminantes e toques de gênio, um legado de conquistas, gols marcados – milhares, literalmente – e até gols não marcados. Diga aí: quem mais está na história pelas finalizações que não terminaram no fundo das redes? Quem mais teve veiculado (e lamentado) tantas vezes um chute do meio-campo que caprichosamente saiu a centímetros da meta, pela linha de fundo? 

Portanto, este 29 de dezembro de 2022 é tão somente mais um marco temporal na biografia daquele que criou conceitos no futebol. A régua que mede o que é espetáculo, o que é excelência, futebol-arte, foi determinada por ele. E a ele devemos todas as homenagens, e talvez elas ainda sejam poucas. 

Toda a reverência que fizermos soa insuficiente para o que Pelé representa e sempre representará. Toda a comoção mundial, de esportistas a políticos, celebridades a reles mortais, que estamos vendo desde a tarde dessa quinta-feira (29/12) pode ainda ser pouca para expressar o que foi Pelé. Foi, não. O que é Pelé. E o que ele continuará sendo.

Pelé é marca registrada. É passado, presente e futuro. O que fez não se apaga. Servirá de lição e inspiração, entendimento de que já houve, nos gramados, alguém que desfez a linha imaginária que separa razão e emoção. Alguém que se fez perene, permanente, definitivo.

Pelé é infinito.