Jornal Estado de Minas

TIRO LIVRE

Torcida do Flamengo no Marrocos pode fazer do limão uma limonada

Tem certas situações na vida em que é melhor aceitar e seguir em frente do que ficar dando murros na realidade, em um inconformismo inútil. Nem tudo sai do jeito que a gente gosta ou quer, não adianta espernear. É mais ou menos o que estão vivendo os flamenguistas que foram para o Marrocos acreditando que testemunhariam um histórico duelo com o Real Madrid e terão de se conformar com a disputa do terceiro lugar contra o Al Ahly - depois da derrota para o Al-Hilal.



Não é a primeira vez que isso ocorre com um torcedor brasileiro e não custa ter um pouco de solidariedade com os compatriotas. Desde que a competição adotou o atual formato, em 2005, o Flamengo é o quarto time do país a sonhar com a final e acordar com a disputa do bronze.

Colorados abrem essa fila: passaram pelo mesmo dissabor em 2010, quando o Internacional perdeu para o modesto Mazembe, do Congo, desperdiçando a chance de brigar pelo bi mundial com a "xará" italiana Internazionale, que se sagrou campeã em Abu Dhabi. Os gaúchos pelo menos terminaram em terceiro ao vencer o Seongnam Ilhwa, da Coreia do Sul, por 4 a 2. 

Em 2013 foi a vez de os atleticanos engolirem a decepção com a queda nas semifinais, para o inexpressivo Raja Casablanca, e assistir de longe ao Bayern de Munique levar o troféu.

Na disputa do bronze, o Galo bateu o Guangzhou Evergrande, da China, por 3 a 2, com gols de Tardelli, Ronaldinho e Luan, na partida que encerrou a primeira passagem de Cuca pelo alvinegro – ele retornaria em 2021, para comandar o time na conquista do Campeonato Brasileiro e da Copa do Brasil, e depois no segundo semestre de 2022, aí já sem tanto brilho.



Em 2020, na edição disputada no Catar, o Palmeiras parou no Tigres, do México, e os torcedores que cruzaram o oceano também se frustraram, pois esperavam ter pago ingresso para a decisão contra o Bayern, que acabou tetracampeão mundial ao ganhar dos mexicanos. Pior ainda foi que os palmeirenses voltaram para casa sem uma vitória sequer na bagagem: ainda perderam nos pênaltis para o Al Ahly, por 3 a 2. 

No Marrocos, os rubro-negros se revoltaram duplamente: além de o time não avançar à final, viram a Fifa mudar o local da decisão do terceiro lugar às vésperas da partida, saindo da capital Rabat para Tânger - às 12h30 (de Brasília) deste sábado –, alegando ser necessário preservar o gramado para a grande decisão, entre Real Madrid e Al-Hilal. 

Muitos flamenguistas ameaçam processar a Fifa pela alteração da logística, pois, além de toda a programação com transporte e hotel (quase 300km separam as duas cidades), compraram ingressos para dois jogos no mesmo estádio. 



Houve uma turma, mais precavida, que embarcaria para o continente africano somente depois da semifinal e conseguiu cancelar os planos. Mas quem já estava em solo marroquino não tem muito a fazer a não ser seguir para Tânger, para o jogo contra o Al Ahly. Ou melhor, até tem. Bem naquela tese de fazer do limão uma limonada.

Afinal, quem já está por lá poderia expandir o horizonte e ir à final mesmo sem ter o Flamengo em campo. São vários os motivos.

Primeiramente, de alguma forma o clube estará representado, já que um dos principais nomes do Real Madrid na atualidade é cria rubro-negra, aliás a mais talentosa dos últimos anos: Vinícius Júnior.

Assistir ao time merengue em ação, por si só, já valeria o ingresso. Talvez muitos do que foram ao Marrocos não tenham tido essa oportunidade ainda, ao passo que já viram centenas, quiçá milhares de partidas do Flamengo.

Confronto com o Al Ahly, a esta altura, pouco acrescentaria - sem contar que ainda tem a possibilidade da zebra. 

Fato é que o destino está lá, dando uma mãozinha para essa turma que, de alguma forma, foi ao Marrocos também com o objetivo de ver o Real jogar. Só queriam que o adversário não fosse o Al-Hilal, claro.