Jornal Estado de Minas

TIRO LIVRE

Paulinho e Hulk, do Atlético: a melhor dupla do Brasil?

As atuações de Paulinho e Hulk diante do Millonarios, quarta-feira, no Mineirão, pela Copa Libertadores, acenderam a questão: formariam eles a melhor dupla de ataque do Brasil em 2023? A simbiose que os dois mostraram na última partida justifica a pergunta – embora ainda não seja suficiente para se cravar uma resposta. Uma coisa é certa: potencial eles têm para consolidar tal posto. E o tempo é grande aliado nessa equação.



Os dois foram destaque em uma noite em que o Galo demorou a engrenar. Depois de um primeiro tempo amarrado e pouco inspirado da equipe (e da dupla), o técnico Eduardo Coudet reviu conceitos e fez substituições que fizeram o futebol atleticano fluir mais. Nesse cenário, os mais beneficiados foram os homens de frente.

Dois dos três gols marcados pelo alvinegro tiveram participação direta de Hulk e Paulinho - no sentido mais literal dessa afirmação. Em um daqueles caprichos da bola, foi uma via de mão dupla de belos gols.

Paulinho abriu o placar completando assistência de Hulk, que serviu ao companheiro enquanto 90% das pessoas que acompanhavam a jogada (inclusive a defesa colombiana) imaginavam que ele fosse clarear para chutar a gol.

Pensando bem, descrever a forma como o camisa 7 serviu ao companheiro como assistência pode minimizar o lance, resumindo-o a mero passe para gol. Houve toda uma complexidade técnica, tática, psicológica e estética na jogada.





Aos 3min do segundo tempo – e aqui é necessário relatar em detalhes –, Hulk recebeu a bola na direita, fintou seu marcador, se aproximou da meia-lua da área e, em vez de abrir espaço e partir para o chute (o que seria até instintivo do atacante), enxergou Paulinho se posicionando por trás da zaga e mandou a bola no chamado ponto futuro.

Alguns segundos de hesitação de Hulk, e o 10 atleticano cairia em impedimento. Mas a jogada foi "cronometrada", e Paulinho apareceu livre para concluir a gol.

Meia hora depois, Paulinho marcou o segundo dele e do Galo na noite, mas vamos pular direto para o terceiro gol atleticano, aos 42min, que novamente teve a dobradinha em ação. Desta vez, Paulinho recebeu na esquerda, levantou a cabeça (importante ressaltar), viu Hulk livre de marcação erguendo o braço e pedindo a bola. Com um toque sutil, serviu de bandeja para o camisa 7, que, do outro lado da área, mostrou seu repertório, finalizando de voleio.

Essa sintonia entre Hulk e Paulinho, que mal completaram três meses atuando juntos, permite aos analistas esportivos imaginar que a perspectiva é de melhora. Seria natural essa evolução em campo, pois futebol é repetição.



No entanto, o tamanho dos desafios aumentará também, isso é certo. A balança pode pender para qualquer um dos lados.

Já há quem diga que eles formam a melhor dupla de ataque do Brasil nesta temporada. Tem torcedor do Atlético imaginando a reedição dos tempos de Guilherme e Marques – que, por essência, tinham estilos mais complementares que Hulk e Paulinho, o que, de certa forma, facilitava o entendimento.

A análise de quão longe Hulk e Paulinho podem chegar como parceiros ofensivos no Galo passa pela forma como eles vão se adequar em campo. Como cada um vai encontrar seu espaço sem bater cabeça com o outro, pois são jogadores de área por natureza. Finalizadores. Com sede de gol.

O segundo tempo contra o Millonarios mostrou como isso é possível. A qualidade individual de ambos terá grande contribuição na busca por esses atalhos.

Mas, tanto quanto questões técnicas e táticas, eles precisarão mostrar, cada vez mais, inteligência para sentir o momento de servir e o de concluir.

Contra o time colombiano, pelo menos, Hulk e Paulinho deram uma importante amostra de que sensibilidade para se reconhecer nos dois papéis eles têm.