O primeiro dia de trabalho de Pepa, novo treinador do Cruzeiro, acabou ofuscado. Não por alguma inovação ousada feita pelo técnico português nos trabalhos. Nem pela contratação de um reforço de peso. Muito menos pela visita de alguma celebridade na Toca da Raposa II. O que dominou o noticiário celeste foi a repaginada que o clube deu em suas mascotes. E a reação dos torcedores não foi das melhores. Soou como um gol contra.
Anunciou amistoso para a semana que vem, contra o Bragantino, no interior paulista, aproveitando a ausência de jogos oficiais devido à eliminação precoce no Campeonato Mineiro. Mas o torcedor só quis saber de detonar as novas mascotes.
A bronca com a nova identidade visual do Raposão e do Raposinho levou até alguns a dizerem que estavam rompidos com o clube. Houve quem "denunciasse" ao Ibama, num misto de raiva e ironia. A versão mais light, trocando a feição brava por um semblante um pouco mais leve, focinho mais afinado, não agradou.
O que se viu foi muita revolta – e, na esteira da frustração celeste, piadas dos rivais.
O que se viu foi muita revolta – e, na esteira da frustração celeste, piadas dos rivais.
Como explicar tal reação? Não é muito difícil pensar em algumas teses. As mais superficiais dizem respeito à estética. Muitos simplesmente não gostaram. Acharam feio mesmo. Talvez por costume com a imagem anterior – nem todo mundo é aberto a novidades, há quem goste da zona de conforto e se incomode com o diferente. Até se adaptar, leva um tempo. Ou, por vezes, não se habitua mesmo, apenas aceita-se, conformado.
É possível também traçar teorias psicológicas. A primeira tem até a ver com virilidade. O Raposão antigo carregava uma expressão mais raivosa, passava uma imagem mais agressiva até. Exalava poder, na mente do torcedor. O Raposinho reproduzia essa ideia em formato reduzido. Como se eles representassem uma ameaça maior aos adversários, sangue no olho. Algo que estaria mais ameno com a opção atual.
Há ainda uma outra vertente nessa mesma seara emocional: a do apego ao passado. O modelo anterior das mascotes remetia à fase gloriosa do Cruzeiro. Elas estiveram ao lado do clube em momentos que o torcedor não quer esquecer, como conquistas de Campeonato Brasileiro e Copa do Brasil. O Cruzeiro das glórias, de algumas de suas páginas heroicas imortais.
As comemorações, via de regra, tinham a dupla, que de alguma forma ainda servia como esse elo com o time ganhador, de camisa "pesada", que assustava os oponentes.
As comemorações, via de regra, tinham a dupla, que de alguma forma ainda servia como esse elo com o time ganhador, de camisa "pesada", que assustava os oponentes.
Os mais práticos vão achar todo esse debate perda de tempo. Realmente, há muitas questões pragmáticas mais importantes para o Cruzeiro neste momento.
A interface modernosa do Raposão e do Raposinho não deveria merecer tamanha comoção diante de assuntos mais relevantes, como a necessidade de se encontrar um caminho no ano em que o time retorna à elite do Campeonato Brasileiro, depois de três temporadas na Segunda Divisão. Não deveriam cobrar a contratação de um zagueiro mais qualificado, por exemplo?
Chegou ao ponto de integrantes de uma organizada irem para a frente da Toca II protestar. Pedir a manutenção do Raposão Geração Z. A manifestação encontrou apoio em muitos torcedores "comuns", que entenderam a troca da mascote como mais uma atitude tomada pelos novos gestores alheia à vontade da maioria. A perda de uma identidade, ao alterar o que consideram um dos símbolos do clube. Compreensível que sintam assim.
A interface modernosa do Raposão e do Raposinho não deveria merecer tamanha comoção diante de assuntos mais relevantes, como a necessidade de se encontrar um caminho no ano em que o time retorna à elite do Campeonato Brasileiro, depois de três temporadas na Segunda Divisão. Não deveriam cobrar a contratação de um zagueiro mais qualificado, por exemplo?
Chegou ao ponto de integrantes de uma organizada irem para a frente da Toca II protestar. Pedir a manutenção do Raposão Geração Z. A manifestação encontrou apoio em muitos torcedores "comuns", que entenderam a troca da mascote como mais uma atitude tomada pelos novos gestores alheia à vontade da maioria. A perda de uma identidade, ao alterar o que consideram um dos símbolos do clube. Compreensível que sintam assim.
Oito meses atrás, Lênin Franco, diretor de negócios do Cruzeiro, já havia adiantado à reportagem do Superesportes que as mascotes passariam por uma mudança, e que estudos de possibilidades comerciais estavam sendo feitos para se chegar ao modelo ideal.
A proposta, disse à época, era criar variações direcionadas a diferentes faixas etária, do infantil ao adulto, e, a reboque, produtos associados a cada um deles.
A proposta, disse à época, era criar variações direcionadas a diferentes faixas etária, do infantil ao adulto, e, a reboque, produtos associados a cada um deles.
A mudança veio exatamente no aniversário de 23 anos do Raposão - que "nasceu" em 23 de março de 2003, na goleada por 4 a 0 sobre o Tupi, pelo Campeonato Mineiro, com três gols de Alex. Embora tenha sofrido ajustes sutis ao longo dos anos, o padrão vinha sendo mantido, de forma geral.
Talvez, se o time estivesse atravessando boa fase nos gramados, até haveria alguma insatisfação, mas o eco seria menor. Para azar os mentores da nova ideia, na data marcante, a festa virou um grande presente de grego.