Jornal Estado de Minas

TIRO LIVRE

Os laços que unem Coudet e Sampaoli, dentro e fora do Atlético

Eduardo Coudet não para um minuto quieto durante os jogos. Grita, gesticula, conversa sozinho, anda de um lado para o outro. Repare na próxima partida do Atlético, para ver se não é assim. Ele esbraveja quando algum de seus comandados erra. Nos 90 e alguns minutos de bola rolando, fica de pé, "orientando" cada passo dos jogadores. Uma mescla de intensidade e impaciência. Imagino se a pressão arterial do argentino está sob controle.





Não é só no Atlético, nem tampouco o estilo é exclusivo dele. No próprio Galo houve um exemplo bem recente de técnico com temperamento semelhante: Jorge Sampaoli. E aí há uma conexão que extrapola os campos: os dois são amigos.

Na partida entre Atlético e Brasil-RS, na quarta-feira, pela Copa do Brasil, foi difícil não olhar Coudet sem enxergar Sampaoli. Talvez a tensão dos últimos dias tenha adicionado ingredientes extras, e a má atuação do time (mais uma) também não ajudou muito. Coudet gritava como se precisasse direcionar cada ação dos atletas.

A sensação é que o período de treinos durante a semana não é suficiente para os acertos que ele procura. Talvez também não será ali, no campo, que a comunicação será eficiente. Quiçá os jogadores nem escutem o que ele pede, à exceção de quem corre rente à linha lateral do campo. Mas parece ser maior que o argentino esse impulso de participar ativamente do jogo. Com Sampaoli também é assim.





Essa afinidade entre os dois não se limita ao sangue latino, que ferve assim que a partida começa. Existe uma confluência de ideias que os aproxima - ambos gostam de times intensos e buscam o gol. A diferença é que Coudet de vez em quando até deixa escapar um sorriso, algo raro em Sampaoli, pelo menos na persona de treinador.

A fama de exigente é outro traço a acompanhar os dois gringos, especialmente nos trabalhos no futebol brasileiro. Coudet confia tanto em Sampaoli que consultou o amigo antes de assinar tanto com o Internacional quanto com o Atlético.

Para muitos, Coudet tem em Sampaoli a figura de um mentor. O atual comandante atleticano já falou sobre a admiração que nutre pelo compatriota, e como foi ajudado por ele no início da carreira como treinador.

Tornou-se pública uma foto de 2017, de uma comemoração de Sampaoli em sua cidade natal, Casilda, pela classificação da Seleção Argentina para a Copa do Mundo de 2018, na Rússia. Coudet, que treinava o Racing, deixou Buenos Aires e encarou mais de 300 quilômetros de estrada para celebrar com o amigo. Os laços se mantiveram firmes ao longo dos anos. E certamente essa admiração se projeta na forma de trabalho deles.





Em 2020, Sampaoli assumiu o Atlético em meio a uma pandemia. Estádios vazios, restrições, foi uma passagem atípica. Levou o time ao terceiro lugar do Campeonato Brasileiro, mas não sentiu o calor da Massa. Quando saiu, lamentou não ter tido chance de criar esse elo.

Coudet, por sua vez, tem vivido um período de construção de afetos com os atleticanos. Alguns o amam, outros o odeiam. No recente "embate" com os investidores alvinegros, a peleja ficou meio a meio: fervorosos apoiadores do jeito sincerão do argentino de um lado, críticos impiedosos do outro, considerando a postura dele antiética.

Coudet está longe de ser unanimidade, e as últimas atuações da equipe mostram que esse caminho será tortuoso por algum tempo. Mas Sampaoli também não foi unanimidade, apesar do bom resultado em campo. Ranzinza demais da conta, reclamavam.

Fato é que não faltou quem subdimensionasse o trabalho de Sampaoli no Galo justamente pela falta de simpatia. Resta saber como será o enredo de Coudet, que ainda busca a receita para que o alvinegro tenha atuações regulares.