Há quase 18 anos, o Brasil foi sacudido por aquele que era considerado, até então, o maior escândalo esportivo da história do país. A manipulação de resultados de jogos por árbitros colocou em xeque a credibilidade do futebol nacional e levou à prisão (temporária) - e posteriormente à exclusão do esporte - de Edílson Pereira de Carvalho, então integrante do quadro da Fifa.
O esquema, nomeado Máfia do Apito, foi revelado pela revista "Veja, em setembro de 2005. O Campeonato Brasileiro daquela temporada estava em andamento. A ação de árbitros (Paulo José Danelon foi outro envolvido) tinha por objetivo favorecer apostadores, a partir de placares de jogos encomendados.
Nagib Fayad, empresário, foi apontado como mentor das operações pela Polícia Federal. Os árbitros recebiam aproximadamente R$ 10 mil por partida alvo da fraude. Onze jogos apitados por Edilson no Brasileiro foram anulados e disputados novamente.
Edilson, Danelon e Fayad se tornaram réus em ação penal, acusados de estelionato, ao lado de mais quatro participantes da máfia. Mas o processo foi suspenso, pois segundo o Tribunal de Justiça de São Paulo não teria havido crime. As fraudes esportivas só foram tipificadas no país em 2010, com o Estatuto do Torcedor.
O esquema da vez foi denunciado por Hugo Jorge Bravo, presidente do Vila Nova-GO. Foi ele quem descobriu e levou às autoridades a atuação da organização criminosa, dando início a investigações da Operação Penalidade Máxima - que está em sua segunda fase.
Em entrevista ao repórter Ailton do Vale, do site No Ataque/Estado de Minas, ele deu declarações contundentes. Detalhou a conversa que teve com o empresário Bruno Lopez de Moura, apontado pelo Ministério Público como líder da fraude, entre outros desdobramentos de sua denúncia.
Hugo foi enfático após ser questionado pela reportagem se acredita que dirigentes de outros clubes sabiam do esquema, mas se omitiram: "Tenho certeza. Só que não posso atribuir a eles uma responsabilidade porque às vezes eles não tinham uma expertise de buscar (mais informações). Às vezes, não tiveram coragem para fazer. Não estou dizendo que sou mais corajoso que os outros, não tem nada a ver. Mas para mim, que estou acostumado a mexer com coisa muito pior do que essa por ser policial, isso daí não me assusta!".
O dirigente do Vila é também major de Polícia Militar de Goiás e abriu a tampa de um esgoto que não para de feder, A cada dia, surge um novo envolvido. Dos 16 investigados na operação Penalidade Máxima II, há sete jogadores de futebol. E já respinga nos grandes clubes, da elite.
Nove jogadores foram afastados em suas equipes após serem citados pelo Ministério Público de Goiás, sendo que dois estão em Minas: Richard, do Cruzeiro, e Nino Paraíba, do América. Três atletas foram afastados depois de denunciados no esquema, entre eles, o zagueiro Eduardo Bauermann, ex-América e que era considerado um dos líderes do grupo do Santos.
Alencar da Silveira Júnior, presidente do Coelho, se disse "profundamente assustado" e prometeu pulso firme para punir culpados. Não pode passar do discurso. O que ocorreu (ainda ocorre?) em gramados brasileiros suja a essência do futebol, da busca pela vitória por meio do jogo limpo, verdadeiramente dentro das quatro linhas - e não no sentido falacioso que a expressão ganhou nos últimos tempos.
Os clubes não podem ser complacentes com nenhum jogador que tenha se envolvido em manipulação para favorecer apostadores. E é preciso punição também exemplar a quem está do outro lado, os aliciadores de atletas, que têm aparecido, nas mensagens, como verdadeiros chantagistas. Criminosos.
É vergonhoso o que o futebol brasileiro passa. Coloca em descrédito resultados de jogos, definições de títulos, condutas de jogadores. Como ocorreu com árbitros em 2005, perde-se o benefício da dúvida.
Não por acaso, começaram a chover questionamentos sobre jogadas antes criticadas e agora consideradas suspeitas. Lances que acabam por comprometer os atletas como um todo. Por enquanto, em meio a tanto escárnio, a classe opta pelo silêncio. Um silêncio, diria Nelson Rodrigues, ensurdecedor.
Não por acaso, começaram a chover questionamentos sobre jogadas antes criticadas e agora consideradas suspeitas. Lances que acabam por comprometer os atletas como um todo. Por enquanto, em meio a tanto escárnio, a classe opta pelo silêncio. Um silêncio, diria Nelson Rodrigues, ensurdecedor.