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Luís Castro, o Botafogo e as propostas tentadoras do futebol árabe

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Líder do Campeonato Brasileiro, o Botafogo vivia dias de paz e alegria até ter seu caminho atravessado pelos rumores de saída do técnico português Luís Castro. A cada nova informação sobre o interesse do milionário Al Nassr no treinador, um pesadelo tomava forma na mente de torcedores e dirigentes. Até que os botafoguenses acionaram um mecanismo de defesa explicado pela psicologia: o estado de negação. 



A dificuldade de aceitar uma situação leva o indivíduo a ignorar o fato de tal forma que ele chega a viver em uma realidade paralela, como se aquilo que o incomoda não existisse. Assim, enquanto surgiam, a cada dia, novas evidências de que a jornada de Luís Castro no clube se aproximava do fim, o alvinegro carioca se negava a admitir qualquer movimento de saída.

No início da noite desta quinta-feira, depois de vários sites especializados noticiarem que o acordo entre o treinador e os sauditas estava selado, o Botafogo soltou nota oficial com sua posição sobre o assunto. O incômodo com os rumos da história, no entanto, já começa a ficar visível. Informações de bastidores davam conta de que já afetava, inclusive, os jogadores.

"Com relação às notícias que estão sendo veiculadas na imprensa referentes ao técnico Luís Castro, o Botafogo informa que o treinador possui contrato ativo até março de 2024. O clube não recebeu qualquer comunicado de saída por parte do técnico ou qualquer documento de outra agremiação até o momento", escreveu o clube carioca.



Esse termo "até o momento" é importante, pois já denotava certa imprevisibilidade, a admissão de um caráter temporário para a validade do comunicado. 

Pode até ser um mecanismo compreensível para quem está no meio do futebol. Afinal, o Botafogo faz campanha surpreendente no Brasileiro, devolvendo a satisfação ao torcedor de acompanhar o time, depois de temporadas complicadas, regadas a algum sofrimento. A última coisa que ia querer lidar era com uma troca forçada no comando.

Noves fora toda a frustração do torcedor botafoguense, difícil culpar o treinador por se render aos petrodólares. Além de um salário milionário, 90% maior do que ele recebe no Brasil - fala-se em  6 milhões de euros (R$ 31,68 milhões na cotação atual) por ano, livre de impostos -, o Al Nassr ofereceu, segundo o jornalista André Rizek, uma casa avaliada em 2,5 milhões de euros (R$ 13,2 milhões), onde Luís Castro poderá morar enquanto dirigir a equipe.

O comandante botafoguense não é o único seduzido pelos árabes. Determinados a dar visibilidade à liga e a melhorar a imagem externa do país, os xeques abriram os cofres e, só neste ano já contrataram ninguém menos que os atacantes Cristiano Ronaldo - que está no Al Nassr - e Benzema, Bola de Ouro da Fifa, que vai jogar no Al Ittihad ao lado do volante francês de origem malesa N'Golo Kanté. 





O zagueiro senegalês Koulibaly trocou o Chelsea e pelo Al Hilal, segundo ele, por dinheiro ("vou poder ajudar toda a minha família a viver bem", justificou) e religião, já que é muçulmano. Outro que deixou os Blues para ir para o futebol árabe foi o goleiro, também senegalês, Édouard Mendy, contratado pelo Al Ahli - que ainda está com a mira voltada para o atacante brasileiro Firmino, recém-saído do Liverpool. 

Ao que tudo indica, a onda árabe não está perto do fim. Nem tampouco esse tipo de iniciativa é novidade no mundo do futebol.

Há alguns anos, os russos "invadiram" campeonatos alheios oferecendo fortunas e recrutando jogadores. O que mais impressionava na época é que conseguiam levar atletas jovens e de grande potencial, que ficavam presos em contratos longos, ávidos por uma transferência para regiões mais valorizadas na Europa.

Outro mercado tecnicamente inexpressivo que tomou o futebol de assalto há um tempo foi o chinês, atrás de estrelas dispostas a deixar o centro das atenções, mas encher os cofres. A tática funciona, pelo menos por algum tempo.

Se depender da disposição mostrada pelos árabes, ainda vai ter clube lamentando baixas e precisando se refazer do baque para seguir a vida. O que não tem remédio, remediado está. Bem naquela tese do "aceita que dói menos".