Um dos maiores tabus em relação ao futebol feminino está sendo quebrado nesta edição da Copa do Mundo, disputada na Austrália e na Nova Zelândia. Ele diz respeito a mais um daqueles preconceitos que embasam a tese de quem não quer gostar da modalidade. Durante muito tempo, os "haters" do futebol praticado por mulheres pregaram que um dos artifícios que poderiam tornar o jogo mais atrativo seria diminuir o gol. Pois, nos gramados da Oceania, as goleiras têm sido gigantes. E sem precisar mexer nas medidas das traves.
Desde as primeiras partidas, estão sendo registradas grandes defesas, em lances de bola rolando e de pênaltis. De jogadoras de seleções tradicionais a outras que vêm de países ainda carentes de apoio ao esporte.
São exemplos como a vietnamita Tran Thi Kim Thanh, que mostrou que o 1,65m não foi empecilho para defender penalidade cobrada por ninguém menos que Alex Morgan, uma das estrelas da Seleção dos Estados Unidos.
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O Brasil vai ganhar a Copa do Mundo Feminina? Mano Brown, Ronaldo e a luta contra o racismoA culpa da eliminação do Brasil na Copa é (só) de Pia Sundhage?Ainda vale lembrar de Rebecca Spencer, da Jamaica, responsável direta por anular o ataque da França, no empate por 0 a 0 que marcou a estreia das duas seleções que estão no grupo do Brasil; e da goleira do Haiti, Kerly Theus, que não evitou a derrota da sua equipe, mas garantiu revés por placar mínimo (1 a 0) diante da Inglaterra, uma das favoritas ao título da Copa, quando muitos apostavam em goleada histórica.
A Seleção Brasileira tem como goleira titular Letícia Izidoro, de 28 anos, atleta do Corinthians. Ela destaca a qualidade das goleiras atuais e lamenta não ter tido uma iniciação adequada no futebol: "Tiram muito do contexto, falam muito de diminuir o gol. Para mim, é desnecessário. A posição está crescendo muito. Tem muita goleira boa. Queria ter tido essa oportunidade de me preparar melhor. Provavelmente, o processo teria sido mais tranquilo. Nossa posição está crescendo, tem muito a evoluir. O que tiram de contexto a gente deixa de lado".
Dos nove pênaltis cobrados na primeira rodada do Mundial, cinco foram convertidos e três acabaram nas mãos das goleiras. Um número sintomático, que indica que a evolução está chegando, de fato, à pequena área, tão contestada por muitos.
É natural que seja assim, na medida em que o futebol for se popularizando, massificando e, principalmente, que sua prática por mulheres passe a ser estimulada desde a infância.
É natural que seja assim, na medida em que o futebol for se popularizando, massificando e, principalmente, que sua prática por mulheres passe a ser estimulada desde a infância.
Esse é um aspecto importante, destacado pela médica do esporte Flávia Magalhães, que faz parte da Seleção Brasileira Feminina. Ela destaca que a entrada tardia de meninas para o futebol acaba se refletindo em vários aspectos no campo, não só relativos a fundamentos, mas também a questões físicas. E isso só será resolvido quando a iniciação for tão cedo quanto ocorre com os meninos.
"O primeiro desafio que a modalidade enfrenta é da própria cultura da mulher atleta. Nosso lastro ainda é muito ruim.A gente vê meninos com 2 anos jogando bola. Não vê muito isso com meninas. Há poucas escolinhas de categoria inicial, poucas meninas de 6 anos, 7 ou 8 anos no futebol. Elas entram muito tarde nesse cenário, para ser atleta. Com isso, elas também têm mais dificuldade motora. Está mudando, mas esse repertório motor nosso ainda é muito ruim", conta Flávia, que é ex-jogadora de futebol.
Sem essa base, toda uma formação como atleta é comprometida. Não é questão de obrigar a criança a seguir uma exigência de profissional, mas, sim, de adicionar à vivência das meninas a possibilidade de também jogar futebol, chutar bola, como é feito com vôlei, handebol, natação... Sem visões preconceituosas.
"O primeiro desafio que a modalidade enfrenta é da própria cultura da mulher atleta. Nosso lastro ainda é muito ruim.A gente vê meninos com 2 anos jogando bola. Não vê muito isso com meninas. Há poucas escolinhas de categoria inicial, poucas meninas de 6 anos, 7 ou 8 anos no futebol. Elas entram muito tarde nesse cenário, para ser atleta. Com isso, elas também têm mais dificuldade motora. Está mudando, mas esse repertório motor nosso ainda é muito ruim", conta Flávia, que é ex-jogadora de futebol.
Sem essa base, toda uma formação como atleta é comprometida. Não é questão de obrigar a criança a seguir uma exigência de profissional, mas, sim, de adicionar à vivência das meninas a possibilidade de também jogar futebol, chutar bola, como é feito com vôlei, handebol, natação... Sem visões preconceituosas.
Aumentando o número de mulheres nos campos e tornando esse meio cada vez mais natural a elas teremos atletas mais bem preparadas na vida adulta e times cada vez mais competitivos - consequentemente, tudo isso vai desaguar nas seleções. É a relação direta causa e efeito.
O problema é que, atualmente, cobramos o efeito sem oferecermos a causa. E, nessa equação, o gol contra não é de quem está dentro de campo.
O problema é que, atualmente, cobramos o efeito sem oferecermos a causa. E, nessa equação, o gol contra não é de quem está dentro de campo.